Os números não são nada animadores. Por todo o país milhares de empresas lutam para não cair em falência. Muitas tiveram que se reinventar utilizando a matéria prima em estoque para produção de itens de segurança hospitalar, como máscaras, jalecos entre outras. Já quem não tem essa opção, está recorrendo ao uso das novas tecnologias para continuar vendendo.
Aliás, tecnologia e criatividade nunca foram tão importantes para as empresas como nesse momento. Até quem estava resistente e preferia manter um estilo mais conservador, sem redes sociais ou e-commerce, sem divulgar seus serviços, precisou aderir a esta nova realidade para esvaziar os estoques e manter viva a lembrança da marca na cabeça do consumidor.

Em Lauro de Freitas não é possível mensurar o tamanho do dano. Segundo o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Lauro de Freitas, Coriolano Oliveira Filho, ainda não existe na cidade um banco de dados que reuna as informações da realidade econômica. “Podemos garantir que o quadro é assustador e as perspectivas muito tristes. Lamentavelmente não temos qualquer base que nos permita gerar indicadores. Não é possível mensurar quantas empresas estão fechadas, quantas aderiram às vendas por aplicativos, internet ou porta a porta, nem o número de motoboys na cidade e quanto o mercado aqueceu do ponto de vista do delivery”.
Coriolano reforça que está faltando diálogo mais estreito entre o governo municipal e a classe empresarial. “É necessário um estudo detalhado, entender o perfil de consumidores e empresas, para se oferecer o que de fato os empresários estão precisando, ouvir os segmentos e buscar alternativas através, por exemplo, de centrais de negócios. Governo, associação e representações de classes precisam sentar e conversar, desde que com uma pauta objetiva e direcionada para soluções”, finaliza.
VíDEOCONFERÊNCIA
Com as portas fechadas, seguindo as determinações para evitar aglomerações, a solução encontrada pela academia Andrea Maestri, em Vilas do Atlântico, foi usar o recurso das lives do Facebook. “Disponibilizamos o link para as alunas, e no horário combinado, as professoras dão as aulas através da Internet”, conta o empresário Rogério Issa.

Mas uma coisa incomodava o empresário: pela live, apenas as alunas veem a professora. “Como saber se as alunas estão fazendo o exercício correto? Como alternativa, investimos em uma plataforma de videoconferência, onde podemos ter uma aula mais completa”.
São turmas de 10 pessoas, e não se limita apenas a Lauro de Freitas. “Não cobramos multa de quem precisou trancar a matrícula. Claro que isso gera um grande impacto no orçamento da empresa, mas com a nova modalidade, qualquer pessoa, no Brasil ou em qualquer outro país, pode participar, o valor é mais baixo que das aulas presenciais, mas esperamos ganhar no quantitativo de alunos, e assim manter a empresa e o salário dos funcionários”.
WHATSAPP, DELIVERY E DRIVE-THRU
As vendas por whatsApp e outros aplicativos, com entregas delivery e drive-thru, estão sendo a alternativa de comerciantes do município para driblarem a crise.

Luís André Bastos, da empresa Mundo Pet, destaca que mesmo com a possibilidade de vendas pela internet, com entregas delivery, teve uma queda de 30% no lucro da empresa. Além disso, um dos decretos de Lauro de Freitas impede o funcionamento de clínicas para atendimentos eletivos, tosa e banho, o que gerou um impacto ainda maior para a empresa, que tinha pouco tempo de inaugurada.
“Temos unidades também em Recife, Salvador e Fortaleza, e percebemos reações diferentes do mercado em cada uma delas. Em Lauro de Freitas, pela proibição de tosa e banho, sentimos bastante. Em Salvador, o impacto foi menor. Em Recife percebemos um crescimento no número de adoções pet, o que aumenta o movimento da loja”, frisa. “Entendo que o delivery não vai garantir a sobrevida das empresas, mas neste momento tem ajudado muito. O mercado pet é muito exigente, os pets deixaram de ser cão e gato e se transformaram em filhos, e o grande diferencial acaba sendo o atendimento de loja”.

O empresário Gustavo Candotta, da Pizzaria Santa Fé, já estava acostumado a trabalhar com o delivery, mas reconhece que o fechamento do salão e a migração exclusivamente para o atendimento delivery requer uma nova estratégia de marketing e vendas. “Tivemos que refazer nosso planejamento, pois a operação em delivery têm custos diferenciados da operação de atendimento presencial. E é importante destacar isso. O uso da tecnologia é bom, está gerando uma possibilidade para esse momento de isolamento, mas não se trata de um custo baixo, e uma empresa que vai começar agora com o delivery precisa estar ciente que, no primeiro momento, ainda mais agora com a pandemia, não vai conseguir cobrir os custos”.

Para Eduardo Carballo, sócio da Delicatessen Bella Massa, em Vilas do Atlântico, o delivery chegou como uma oportunidade, principalmente, de manter todo o quadro da empresa sem precisar fazer nenhuma baixa. Ele conta que nos primeiros dias de isolamento social sentiu redução de 25% nas vendas, mas com o delivery conseguiu reduzir a perda para 15%. “Assim, até agora conseguimos tocar a empresa sem demitir nenhum funcionário; acredito que demitir agora seja um tiro no pé, se desfazer de uma mão de obra já treinada e qualificada, só viria prejudicar a empresa na retomada da economia. Direcionamos uma pessoa da nossa equipe para fazer as entregas e isso foi um diferencial pois o cliente não perde a referência da Bella Massa, e tem sempre um rosto conhecido na entrega”.
Sobre quanto tempo mais será possível manter o comércio fechado, com vendas apenas apenas por aplicativos, sem contato direto com os clientes ou fornecedores, Eduardo entende que é necessário continuar seguindo em frente, mas o governo precisa ser mais atuante, senão “é aquela história, temos que levar como der; é muito difícil ter que fazer escolha entre CNPJ e CPF. Acho que o governo vai ter que entrar para ajudar as empresas, ou será pior lá na frente”, conclui o empresário.