Bom exemplo / Mau exemplo

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Bom exemplo

Há exatamente 10 anos, o corredor queniano Abel Mutai – que havia ganhado a medalha de bronze nos 3.000m com obstáculos na Olimpíada de Londres alguns meses antes – a apenas alguns metros da linha de chegada de uma corrida cross country, na cidade de Burlada, na região de Navarra, na Espanha, confundiu-se com a sinalização e parou. Ele pensou que já tinha terminado a corrida.

O atleta espanhol Iván Fernandez estava logo atrás dele. Ao perceber o que estava acontecendo, começou a gritar para o queniano continuar correndo, mas Mutai não falava espanhol e não entendeu. Aí, o espanhol o empurrou para a vitória.

Um jornalista perguntou a Ivan: “Por que você fez isso?”

Ele respondeu: “Meu sonho é que um dia possamos ter uma espécie de vida comunitária”.

O jornalista insistiu: “Mas por que você deixou o queniano vencer?”

Ivan respondeu: “Eu não deixei ele vencer. Ele ia vencer.”

O jornalista insistiu: “Mas você poderia ter vencido”.

Ivan olhou para ele e respondeu: “Qual seria o mérito da minha vitória? Qual seria a honra dessa medalha? O que minha mãe pensaria disso?”

Mau exemplo 

Não há nada mais comum no esporte do que as derrotas e as dores, lágrimas e lições que elas trazem. Derrotas fazem parte do próprio contexto do êxtase que existe nas glórias. Para mim, com mais de 20 anos dedicados ao esporte, o que não é aceitável é a suprema covardia de quem abandona seus comandados, de quem, em um rompante narcisista e egoísta, abandona seus soldados em campo depois de uma batalha perdida.

O que Tite, técnico da seleção brasileira de futebol fez hoje (9/12) depois da eliminação para a Croácia na Copa Mundo, é o degrau mais baixo que um técnico ou dirigente pode cruzar: o abandono de campo com seu batalhão ainda preso na trincheira pelas lágrimas, frustração e tristeza diante da derrota.

Eu poderia tentar elucidar de maneira mais elegante e não tão direta o que penso sobre o abandono de campo – e de seus jogadores ainda em campo – de Tite, mas não vou dourar pílula alguma: Tite é um covarde e o Brasil, apesar de brilhantes jogadores, perdeu para um técnico arrogante e covarde.

O esporte, assim como a vida e, por isso, profundas lições aprendidas ali são carregadas por onde você caminha, não premia covardes porque a covardia é repugnante, abjeta e inesquecível. E é exatamente nas derrotas que os covardes mais aparecem.

Tite deveria aprender com o técnico da seleção japonesa, também eliminada pela Croácia nos pênaltis.

Após a frustrante e dolorosa eliminação, ele foi até a torcida, agradeceu com o tradicional gesto japonês, voltou ao meio do campo, falou com o grupo que estava unido em um círculo e depois cumprimentou cada um dos jogadores com lágrimas e gratidão nos olhos.

No esporte, há uma gigantesca diferença entre ser um técnico ou um comandante e ser um líder. Estes, deixam lições e memórias que você carregará para a eternidade. Lições de companheirismo, lealdade, princípios, ética.

Valeu, meninos. Valeu @neymarjr Vocês lutaram como puderam, mesmo sem um comando digno da entrega de vocês.

Comentário de Ana Paula Henkel, conhecida como Ana Paula, após a eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo, no Catar, pela seleção da Croácia. Comentarista política e ex-jogadora da seleção brasileira de voleibol, Ana Paula atuava como atacante, nas quadras. Seu maior feito foi a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta. Posteriormente, atuou no voleibol de praia.

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