
AS$ 10 valem R$ 10. O Banco Comunitário Abrantes Solidário oferece microcrédito para pequenos comerciantes e garante o “lastro” da moeda local
Os moradores de Abrantes, em Camaçari, desde o mês passado já podem pagar suas contas de consumo e boletos bancários na moeda local, o “Abrantes” – AS$. Além de facilitar a vida de quem já aderiu à moeda virtual do lugar, a novidade pode atrair mais gente para o sistema – que visa estimular a economia local.
A nova facilidade foi possibilitada pela abertura de um posto da Caixa na chamada Prefeitura Avançada da Orla, o Centro de Atendimento Municipal (CAM), na Estrada do Coco, junto ao Banco Comunitário Abrantes Solidário. O posto depois converte Abrantes em Reais junto ao “emissor do meio circulante” alternativo.
O banco foi criado há quase três anos, na esteira de um movimento de economia solidária que no Brasil conta até mesmo com um plano oficial do governo federal. Na Bahia há ainda uma “Rede Baiana de Bancos Comunitários de Desenvolvimento” que inclui, além de Abrantes, em Camaçari, os municípios de São Francisco do Conde, Simões Filho, Cachoeira, Matarandiba, Cairu, Guanambi e Canavieiras.

Nivalda Santos: ainda há resistência das pessoas
A iniciativa é gerida pelo Forum Sustentável da Costa dos Coqueiros, ONG que dá apoio a organizações comunitárias do litoral norte baiano. As principais funções do “banco” são a oferta de microcrédito popular e a garantia de “lastro” para a moeda local. A qualquer tempo, um comerciante que tenha recebido pagamentos na moeda “Abrantes” pode trocar os valores por reais, à razão de AS$ 1 por R$ 1.
De acordo com Aloisio Silva Ribeiro, presidente do banco, atualmente há cerca de AS$ 10 mil em “papel moeda” em circulação, devidamente lastreados em reais. Apenas 55 comerciantes locais estão conveniados ao sistema, aceitando o Abrantes como pagamento, mas a oferta de microcrédito para pagar em até cinco vezes sem juros, na moeda alternativa, tem potencial para alavancar a aceitação. Os empréstimos – de no máximo AS$ 300 – são para consumo das famílias ou destinados a pequenos comerciantes, como artesãos ou vendedores de picolé, exemplifica Ribeiro. Todos os meses são concedidos empréstimos que somam AS$ 2 mil a AS$ 3 mil.

Sérgio Bispo: confiança na moeda
Há também linhas de crédito para grupos produtivos – três pessoas ou mais – com limite de AS$ 1.000 e dois meses de carência para pagar. O banco comunitário também empresta em reais, mas nesse caso há juros.
Como apenas os comerciantes conveniados podem retornar ao banco para converter a moeda em reais, quem recebe o empréstimo precisa usar os Abrantes na rede conveniada, na própria comunidade, estimulando a economia local.

Aloísio Ribeiro: posto da Caixa deve alavancar aceitação da moeda alternativa
Um desses comerciantes é Sérgio Bispo da Hora, verdureiro que aderiu à iniciativa desde a primeira hora, em 2014. “Ainda está lento”, diz ele. Mas Sérgio confia que as pessoas passarão a acreditar mais na iniciativa agora que podem pagar contas de consumo com o Abrantes.
Nivalda Santos, que toca um pequeno restaurante e também aceita pagamentos em Abrantes, verifica que “há uma resistência à moeda” por falta de esclarecimento.
O principal obstáculo à adesão dos moradores, na verdade é a ausência de uma cadeia de produção menos limitada na localidade. O açougue, por exemplo, aceita pagamentos em Abrantes, mas precisa trocar tudo por reais quando vai comprar carne “porque não há abatedouro aqui”, explica Ribeiro. Ali se interrompe a circulação do Abrantes. Muitas famílias também preferem ir comprar mais longe, fora da comunidade, onde os Abrantes não são aceitos.

O posto da Caixa junto ao Banco Comunitário: aceita-se Abrantes