Laura Souza Silva e Manuella Lopes Almeida Silva, ambas de 17 anos e cursando o 3º ano do Ensino Médio, são primas e além das aventuras da adolescência, vão viver juntas um momento decisivo: o ingresso no ensino superior. Inscritas no Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, as dificuldades vividas durante a pandemia, coloca as meninas em níveis de expectativa bem distintos.
As diferenças já começam pelo aproveitamento das aulas remotas. Laura é aluna da rede particular em Lauro de Freitas e apesar do processo de adaptação, que comprometeu principalmente os primeiros meses, ela acredita ter conseguido avançar nas aulas. “Nos primeiros meses foi desafiador, tivemos que nos adaptar rapidamente a um novo modelo de aprendizagem que até então não havíamos testado. Mesmo o ambiente de casa sendo mais confortável, o nível de dispersão acaba sendo maior, além disso, em todo esse período senti falta das atividades em grupo, que particularmente contribuem positivamente no meu aprendizado. Apesar disso, após 1 ano e 4 meses de ensino à distância, posso dizer que já me adaptei às aulas virtuais”.
Mas para Manuella a realidade foi bem diferente. Aluna da rede estadual, ela confessa que o período tem sido bem complicado. Apesar de existir um calendário, nem sempre as aulas acontecem, isso sem falar na quantidade de dias sem atividades, até que as aulas remotas fossem disponibilizadas. “Está sendo horrível, não estou conseguindo absorver os assuntos, sempre fico migrando para vídeo aula e cursos complementares”, frisa.
Com o retorno das atividades no modelo híbrido e após conversa com os pais, analisar cada cenário e os possíveis impactos dessa escolha, até a decisão de voltar ou não ao ambiente escolar, seguiu caminhos bem diferentes.
Manuella é categórica ao afirmar que, apesar de todas as dificuldades para continuar com as aulas, ela não pretende retornar para a sala de aula, ao menos até o final deste ano. “Não me sinto segura em ir para o colégio, pois sei que há um risco maior de contaminação do vírus, devido a falta de cuidados dos próprios alunos, e por conta disso, prefiro não arriscar minha saúde. Quanto ao Enem, não me sinto nem um pouco preparada, a sensação é que estacionei no início de 2020, quando a pandemia começou e com toda certeza meu aprendizado foi prejudicado”.
Laura, apesar de ter se adaptado ao modelo virtual, considera que as aulas presenciais são indispensáveis, sobretudo pelo contato mais próximo com os professores. “Em decisão conjunta com meus pais, optei por voltar para a escola, e após os primeiros dias, acompanhando todo o protocolo que foi estabelecido, me sinto segura em participar presencialmente das atividades”.
“Quanto ao Enem me sinto preparada. Apesar dos desafios, acredito que consegui ter acesso a um ensino de qualidade… Me sentiria mais confortável se não tivéssemos passado por tudo isso, mas em minha escola temos algumas atividades voltadas exclusivamente para vestibulares e Enem, o que ajudou muito no processo de prática e base de conteúdos”, conclui Laura.
MENOR NÚMERO DE INSCRITOS EM 14 ANOS
Com o encerramento do prazo de inscrição para o Enem, em 14 de julho, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação das provas, informou que em 2021, pouco mais de 4 milhões de pessoas farão a prova, o menor número desde 2007, quando 3,57 milhões de participantes se inscreveram.
Na comparação com o ano passado, os inscritos são 34% menor. Mas vale lembrar que das 6,1 milhões de pessoas que se inscreveram no exame em 2020, apenas 5,8 milhões confirmaram a inscrição e destes, mais de 50% não fizeram a prova.
Mas a queda no número de inscritos não chega a ser uma surpresa. Dados da pesquisa “Juventudes e a Pandemia”, realizada pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), que tinha por objetivo entender como os jovens estão lidando com as restrições da pandemia e como isso afeta estudos e renda, já apontavam nesta direção.
Nas entrevistas com 68 mil jovens, de 15 a 29 anos, ouvidos entre março e abril deste ano, 7 em cada 10 (74%) afirmaram que se sentem despreparados para fazer o Enem. Além disso, durante a pandemia, cerca de 43% afirmam que já pensaram em desistir de estudar, e as motivações vão desde as questões financeiras (21%), até as dificuldades no acesso ao ensino remoto (14%).
A pesquisa revela outros dados preocupantes em relação ao comportamento dos jovens, como: 61% sentem ansiedade; 51% declararam estar exaustos ou cansados constantemente; 17% afirmam ter depressão; 53% se diz inseguro em relação à própria saúde; 29% dos jovens tiveram perda de renda pessoal; 44% tiveram perda de renda familiar.
As provas do Enem, versões impressa e digital, serão aplicadas dias 21 e 28 de novembro e terão perguntas iguais. Dos inscritos, 3.903.664 deverão fazer a versão impressa. A versão digital teve as
101.100 vagas ofertadas preenchidas.