Nas entranhas da cultura e da resistência, há um pulsar vivo em cada passo pela comunidade tradicional de Areia Branca, que fica em Lauro de Freitas. Em um ensaio que mescla o bater do coração ao ritmo do samba de roda e à sabedoria ancestral, entramos, eu e minha namorada, Maressa, nesse universo singular, guiados pela matriarca d. Detinha.
Ao chegar na casa de Detinha, encontramos não apenas um lar, mas um santuário de histórias entrelaçadas com fios de fé, amor e resiliência. Tomamos um saboroso café e a prosa fluiu com muita descontração.
Dona Detinha, quilombola, irradia alegria mesmo diante dos desafios que a vida lhe impôs. Com o dom de encantar com suas piadas e ensinar com sua sabedoria, ela é a guardiã viva de toda a memória da região. Esse mundo é pequeno para sua coragem gigante. Suas palavras têm a força do tempo, o pulsar da ancestralidade.
Junto à nossa anfitriã, desfrutamos de um café tão saboroso quanto as narrativas que fluíam entre nós. No compasso do samba, entoado por d. Detinha, ecoava o orgulho de ser quilombola, uma ode à identidade e à resistência.
Em seguida, neste turismo comunitário de semeadura, fomos à morada do casal inspiração: Gildete Melo e Mateus Ife. Ali, nos deparamos com um verdadeiro santuário cultural, um oásis onde pedagogias quilombolas são reavivadas através das mais diversas expressões artísticas.
Gildete, historiadora, pesquisadora e educadora popular, emana paixão por cada história enterrada nas raízes daquela terra. Ao lado de Mateus, educador e gestor cultural, eles erguem um legado de transformação social, onde a literatura, o teatro, a dança e o audiovisual são ferramentas de empoderamento, ancestralidade e reconexão.
No quintal da casa do casal, território sagrado de presença ancestral, testemunhamos a ressurreição de tradições, o renascimento de saberes e narrativas esquecidas e a força de uma comunidade preta, de um quilombo insurgente.. que se ergue nas brechas e fissuras de uma sociedade moderna opressora e decadente.
Ao despedir-nos, envolvidos pelo calor humano e pela gratidão, fomos presenteados com lindos abacates produzidos no quintal. Sem sombra de dúvidas, fica a certeza de que o legado cultural desses quilombolas transcende o tempo e o espaço. São guardiões de uma história cujo valor educativo e social é imensurável, transformando muitas vidas e enriquecendo a tessitura cultural de nossa cidade.
Tássio Cardoso, doutor em Educação pela UNEB.