Escolas adotam medidas mais restritivas quanto ao uso de celular em sala de aula

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uso de celular nas escolas entra em debate em todo o mundo

O início do ano letivo de 2024 nas escolas públicas e particulares de todo o Brasil tem sido marcado por um movimento de recuo em relação ao uso de celulares nas unidades. A restrição é pautada no relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), divulgado em 2023, que através de estudos aponta categoricamente uma associação negativa entre o uso das tecnologias e o desempenho e saúde mental dos estudantes.

Desde a divulgação do relatório, em meados de julho do ano passado, já se percebeu um novo olhar acerca do uso dos celulares: 1 em cada 4 países já tinha regras para restringir o celular nas escolas. Entre os que decretaram veto de imediato estavam Espanha, Portugal, Finlândia, Holanda, Suíça e México. Desde então, o banimento vem ganhando espaço em outros países, entre os quais o Canadá, os Estados Unidos e o Brasil.

No Rio de Janeiro, por exemplo, decreto publicado no Diário Oficial do município, proíbe o uso de celulares, inclusive no recreio, nas escolas municipais. No Ceará, o Ministério Público do Estado (MPCE) publicou uma recomendação, tanto para a rede pública, como para a privada, orientando que o uso de aparelhos celulares e outros equipamentos semelhantes seja proibido durante as aulas.

Na mesma linha, o Ministério Público da Bahia recomendou que escolas públicas e privadas da cidade de Pilão Arcado, no norte do estado, proíbam o uso de celulares nas salas de aula, exceto em casos de prévia autorização para aplicações pedagógicas.

No documento, assinado pelo promotor de Justiça Sebastião Coelho, o MP aconselhou ainda a adoção de providências, como campanhas educacionais e palestras, visando a conscientização dos alunos sobre os malefícios do celular no processo de aprendizagem. O órgão ainda exige que o município garanta que os alunos tenham conhecimento da proibição, através da afixação de avisos em locais visíveis nas salas de aula, bibliotecas e demais espaços das escolas.

Já na rede de ensino particular, a medida vem sendo amplamente adotada, quer seja o banimento parcial ou total.

O Colégio Carpe Diem, de Lauro de Freitas, adota desde o início deste ano a proibição parcial do uso dos celulares pelos estudantes, sendo permitido em alguns momentos como na chegada, no intervalo e na saída. Quando a atividade pedagógica envolve o uso da ferramenta internet, a escola disponibiliza os recursos.

diretora da carpe diem vilas do atlantico

“O uso não supervisionado, em sala de aula, pode causar distrações para o próprio usuário e para seus colegas, afetando negativamente o desempenho acadêmico e a qualidade da interação na sala de aula. Assim deliberamos as normas quanto ao uso do celular durante a primeira reunião de pais e mestre de 2024, com a concordância dos pais e responsáveis”, observa Soraya Maria Felzemburgh Castro, diretora da unidade de Vilas do Atlântico.

Soraya reforça ainda que os professores estão orientados a solicitar o aparelho, caso o estudante esteja usando na hora da aula e encaminhar para a direção pela monitoria. “Mesmo se tratando de um meio de comunicação, existem outras formas dos pais se comunicarem com seus filhos no horário em que eles estão na escola”.

Postura parecida é adotada no Colégio Apoio, porém a proibição é total. “Celular em sala de aula é uma contradição, considerando que ele permite acesso ao conhecimento. Então é como se houvesse em sala de aula dois professores, de disciplinas diferentes, lecionando ao mesmo tempo. O estudante não consegue manter a concentração necessária para o aprendizado”, reforça o diretor da unidade, professor José Nilton.

E a preocupação do professor não é à toa. Em dezembro de 2023, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) divulgou dados preocupantes, entre os quais o de que 65% dos alunos de 15 anos, nos países pesquisados, relataram que se distraem nas aulas de matemática quando estão de posse do celular. No Brasil, a média é ainda maior, chegando a 80%. Quase a metade (45%) dos estudantes disseram se sentir nervosos ou ansiosos quando estão longe do celular.

professor fala sobre uso de celular nas escolas

Para José Nilton, além do aprendizado, a socialização também fica comprometida quando do uso dos celulares, de modo que o Apoio optou pela proibição inclusive na hora do intervalo, regra válida para todas as séries.

Quanto à proibição total ou parcial, especialistas divergem quanto à melhor metodologia. Se por um lado alguns defendem que a proibição, inclusive no horário de recreio, permite uma melhor socialização, outros acreditam que, se usado corretamente, o celular é um importante instrumento de apoio, que faz parte do cotidiano da vida contemporânea, não fazendo sentido restringi-lo por completo.

Nota do Editor: Informamos aos leitores que, para produção da matéria, a jornalista Thiara Reges consultou ainda os colégios Acadêmico, Impacto, Adventista, Sartre e a secretária de Educação de Lauro de Freitas, Vânia Galvão, para que dessem suas avaliações sobre o tema, não havendo retorno até o fechamento desta edição, em 23/2.

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