Em prateleiras de farmácias, é comum encontrarmos uma variedade de frascos coloridos com letras que correspondem a vitaminas e minerais. Esses produtos prometem ganhos substanciais à saúde, mas a realidade não é tão simples assim.
Uma nova pesquisa observou que suplementos vitamínicos não têm eficácia comprovada na prevenção de câncer e de doenças cardiovasculares. Pelo contrário, uma dessas substâncias em excesso teve associação com o desenvolvimento de câncer de pulmão.
Publicado na revista Jama, o artigo é assinado por pesquisadores da Kaiser Permanente Center for Health Research e da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, instituições nos Estados Unidos. É uma revisão sistemática – análise dos resultados de outras pesquisas – de 84 publicações em inglês que observaram adultos saudáveis sem doenças cardiovasculares e câncer. Os participantes não tinham deficiência em vitaminas e minerais.
O objetivo dos pesquisadores era entender a eficácia de suplementos multivitamínicos e daqueles com somente um nutriente na redução de doenças cardiovasculares, câncer e mortalidade em adultos. Também foi visto se os produtos traziam malefícios.
Nos produtos de substâncias isoladas, foram analisados aqueles com betacaroteno e vitamina A, cálcio (sem vitamina D), vitamina E e vitamina D com ou sem cálcio. A revisão também foi composta por multivitamínicos que carregam em sua fórmula uma variedade de substâncias.
O uso de pelo menos um suplemento vitamínico foi reportado em 52% de adultos norte-americanos. No Brasil, há um crescimento do consumo desses produtos, afirma Maria Eduarda Melo, chefe da área técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Inca (Instituto Nacional do Câncer), que não participou da pesquisa.
“Apesar de não ter evidências em termos de benefícios à saúde, observamos um mercado crescente de vendas”, diz.
Na pesquisa, as evidências encontradas indicam que não há benefício das vitaminas e minerais para a prevenção de câncer, doenças cardiovasculares ou diminuição da mortalidade por outras causas.
Essa premissa já é conhecida e aconselhada pelo Inca. “Os resultados desse estudo estão muito alinhados ao que o instituto recomenda de não utilizar suplementos alimentares para prevenção do câncer”, afirma Melo.
Segundo ela, vitaminas e minerais podem ser importantes para a prevenção de tumores, mas a maior parte da população consegue suprir as necessidades com uma alimentação balanceada baseada em alimentos naturais, como frutas e verduras.
O estudo observou resultado semelhante para doenças cardiovasculares. “Fica muito claro que não traz benefício. Às vezes descobrir que algo não funciona é tão importante quanto descobrir que algo funciona porque se evita desperdício de dinheiro”, afirma Otavio Berwanger, cardiologista e diretor da Academic Research Organization (ARO) do Einstein, que também não compôs a pesquisa.
De maneira parecida, Berwanger explica que outras pesquisas já publicadas também não acharam benefícios nos suplementos vitamínicos para o tratamento de complicações cardíacas. “Nenhum polivitamínico, do ponto de vista cardiovascular, deveria ser usado”, diz.
Ele diz que existem outras formas mais eficazes para prevenir problemas cardiovasculares. As principais são evitar o fumo, ter uma alimentação balanceada, pobre em alimentos processados e praticar atividade física regular. Controlar pressão arterial, colesterol e diabetes também são medidas importantes. Quando se utiliza suplementos vitamínicos, essas substâncias vêm isoladas e em maior quantidade. Isso pode ocasionar um benefício nulo da prevenção do câncer ou mesmo aumentar as chances de desenvolver a doença.
A pesquisa publicada observou que o betacaroteno, um antioxidante existente em alimentos de cor amarelo-alaranjados, presente nos suplementos vitamínicos tem associação com o maior risco de câncer de pulmão. Mas outras evidências já demonstram que o consumo dessa substância somente pela alimentação pode ser útil para prevenção desse tipo de câncer, em especial no caso de fumantes e ex-fumantes, explica Melo.
Três estudos revisados apontam benefícios dos multivitamínicos para evitar câncer. No entanto, os autores ressaltam que as evidências para esses produtos são pequenas e que as pesquisas não tiveram um período longo de acompanhamento dos participantes, o que faz com que o resultado não seja tão robusto, pontos também reiterados por Melo.
“Em recomendações do Inca não observamos benefícios de suplementos [para prevenção do câncer], mesmo sendo esses multivitamínicos”, afirma.
Suplementos alimentares são recomendados em casos em que há deficiência de vitaminas e minerais – que pode ocorrer durante o tratamento de uma doença, por exemplo. Mas a ingestão demanda acompanhamento médico.
Dessa forma, segundo Melo, o uso de suplementos não traz resultados positivos para a população em geral. “O indivíduo que é saudável não tem por que usar um suplemento.”