Lauro de Freitas apresentou crescimento populacional de 24,4% nos últimos 12 anos, segundo dados do Censo de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cidade possui 203.334 habitantes, se configurando como a sexta maior da Bahia, seguindo este critério. Quanto à densidade demográfica, a média de Lauro de Freitas é de 2,69 moradores por residência.
Os dados do Censo também revelam que, no mesmo período, a população de Salvador, apresentou queda de 9,63%, e possui atualmente 2.418.005 pessoas.
Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, destaca que a perda de população de Salvador não é um fato isolado. Está dentro de um contexto onde, com exceção da Região Centro-Oeste, outras setes capitais perderam espaço.
“Esses números mostram que o Brasil está entrando em uma tendência já vista em outros países, a exemplo dos EUA e países da Europa, que estão em um outro momento de desenvolvimento, inclusive demográfico, em que as grandes cidades começam a perder população. Por um tempo as grandes cidades eram atraentes por conta da oferta de serviços, oportunidades, condições de vida, mas agora começam a mostrar uma certa saturação. O que pode ser visto em Salvador”, explica.
Ao mesmo tempo que as capitais perderam população, percebe-se o surgimento de novos núcleos de desenvolvimento, a metropolização, com condições que atraem a população: ofertas de serviços, oportunidades de trabalho, estilo de vida melhor com custo menor, tudo isso estando perto da capital. Exemplos são Lauro de Freitas e Camaçari, ambas com taxa de crescimento superior a 20% nos últimos 12 anos.
Mais pessoas X Mais planejamento
Mariana acrescenta ainda que normalmente a análise dos dados fica focada no município que perdeu população, avaliando os motivos dessa saída, como se fosse algo muito negativo, o que não necessariamente é verdade. Mas existe o outro lado, de uma gama de desafios para os municípios que estão recebendo essa população, que envolvem planejamento urbano e de segurança pública, além do dinamismo econômico que precisa dar conta dessa população que está chegando.
“As cidades que tiveram esse ganho populacional, passam a ser vistas como um polo atrativo de população, indicativo positivo de desenvolvimento. Mas para que isso se sustente e as pessoas alcancem melhores condições de vida e permaneçam na cidade, as gestões municipais precisam estar atentas a essa gama de planejamento de serviços, que precisam se equalizar para atender a demanda”.
Para Hendrik Aquino, jornalista e especialista em planejamento urbano e gestão de cidade, o volume populacional é facilmente percebido em Lauro de Freitas pelo aumento dos congestionamentos nas vias internas da cidade, a construção de novos condomínios, sobretudo os verticais, e o aumento de demandas pelos mais variados serviços.
“Há alguns anos, moradores, de diferentes bairros, já se queixam da queda na qualidade da prestação dos serviços e da continuidade do fornecimento de água, energia elétrica e internet, por exemplo. Interrupções são comuns até mesmo nos bairros da orla, como Ipitanga, Vilas do Atlântico e Buraquinho. Moradores de bairros mais populosos, como Itinga, Portão e Centro, relatam também dificuldades de sinal para internet e celular, o que gera outros problemas, principalmente nos momentos em que é necessário solicitar atendimentos de emergência”.
Colhendo os frutos
O crescimento populacional da cidade versus a velocidade na adequação da infraestrutura, tem gerado impactos negativos para o meio ambiente, um fruto amargo de se colher. Fernando Borba, presidente da Oscip RioLimpo, frisa que o saneamento básico, por exemplo, é tema de promessas das gestões municipais há 13 anos. “Desde 2010 aguardamos o esgotamento sanitário de 100% dos domicílios, e hoje nem 50% é atendido. E essa falta de cumprimento provocou a morte de nossos rios”, afirmou.
Embora no site do IBGE conste que o município de Lauro de Freitas apresenta 80,5% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, a Embasa, prestadora do serviço, aponta para apenas cerca de 40%. Vale ressaltar que os dados do IBGE são autodeclaratórios
“Já estamos colhendo os frutos da falta de planejamento integrado adequado e do crescimento desordenado. Os custos para reaver tais prejuízos certamente aumentarão, inviabilizando investimentos em áreas que permitiriam elevar a qualidade de vida da população”, conclui Hendrik Aquino.