Utilizada principalmente para o deslocamento, a bicicleta tem espaço garantido também nos momentos de lazer e nas atividade físicas, contribuindo com a melhoria da saúde, da boa forma física e mental, tendo ainda participação na geração de trabalho, emprego e renda. Leve, barata e de fácil manutenção é ótima opção como estrutura móvel para prestação de serviços e venda de produtos.
A “bike”, como também é conhecida, continua em ritmo crescente de aceitação há gerações, promovendo avanços em áreas como turismo e o esporte, movimentando a economia através de negócios lucrativos e impactando positivamente na educação ambiental.
Muito lembrada por ser um veículo não poluente, a bicicleta recebe atenção especial sobretudo nos países considerados de ‘primeiro mundo’, onde o poder público e a iniciativa privada trabalham em conjunto, desenvolvendo projetos e implementando ações com resultados comprovadamente associados a melhoria da qualidade de vida e da mobilidade urbana.
Bélgica, Suíça e Japão estão na lista dos países onde a bicicleta possui papel de destaque por ter a preferência da população, influenciando no aprimoramento da legislação e no investimento em estrutura urbana através de planejamento permitindo a sua locomoção com regularidade.
Estima-se que a China, onde três a cada 10 pessoas preferem pedalar, existam mais de meio bilhão de bicicletas. O segundo país mais populoso do planeta opta pela bicicleta como forma de facilitar o deslocamento, considerando ainda que a ‘magrela’ ocupa bem menos espaço nos estacionamentos. Existem países onde as pessoas utilizam mais a bicicleta do que veículos movidos a combustível fóssil. Na Holanda, por exemplo, onde cerca de 45% da população deixa os carros na garagem para sair com as bikes, é estimado que existam mais de 18 milhões de bicicletas e, não por acaso, é conhecida como a capital da bicicleta.
Enquanto na Holanda as ruas são mais tomadas por ciclovias e parques de estacionamento, no Brasil, gestores públicos ainda não despertaram o suficiente para as oportunidades que a bicicleta pode proporcionar nos mais variados aspectos. No ano passado, a malha de ciclovias e ciclofaixas nas capitais brasileiras cresceu apenas 4%, passando de 4.196 km em 2022 para 4.365 km em 2023 – um acréscimo de 169 km no período de um ano. O monitoramento foi feito pela Aliança Bike (Associação Brasileiras do Setor de Bicicletas), que ouviu todas as prefeituras das capitais brasileiras por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), no período de junho de 2022 a junho de 2023.
Não é para menos, uma vez que as prioridades são claramente mais voltadas para o uso de automóveis, destinando-se muito mais recursos para a construção e manutenção de vias automotivas além dos incentivos à industria automobilística, estimulando a compra de automóveis mediante a redução impostos.
Na Bahia, o programa de mobilidade não motorizada do governo estadual lançou, em 2009, o projeto Cidade Bicicleta, prevendo a implementação de um sistema cicloviário com 217 km para Salvador e Lauro de Freitas até o ano de 2014, por ocasião da Copa do Mundo.
Em junho de 2018, o governo estadual inaugurou a Via Metropolitana ao custo de quase R$300 milhões, para os 11,2 quilômetros de extensão que ligam Camaçari a Salvador através do município de Lauro de Freitas. A via não possui sequer ciclofaixas e, até hoje, Lauro de Freitas aguarda que o Cidade Bicicleta saia do papel, enquanto assiste a sua vizinha, Salvador, avançar com mais de 300 km de sistema cicloviário, ocupando a 5ª posição no ranking das capitais mais cicláveis do país.
Segundo a Aliança Bike, as capitais com mais ciclovias e ciclofaixas e suas respectivas quilometragens são: São Paulo (699,2km); Brasília (527,23km); Rio de Janeiro (450 km); Fortaleza (411 km); Salvador (308,59 km); Curitiba (252,1 km); Recife (169 km) e Florianópolis (121,56 km).
Quem circula pelas ruas de Lauro de Freitas sabe que as bicicletas estão presentes, diariamente, em cada cantinho da cidade. Em 2020, em atendimento a solicitação da sociedade civil, o município conquistou duas importantes leis diretamente voltadas para o incentivo ao uso de bicicletas. A lei nº 1.886/2020, que instituiu a semana municipal do ciclista, a ser comemorada na terceira semana de agosto, com destaque para o dia 19 de agosto (Dia Nacional do Ciclista) e a lei nº 1.892/2020, que define 5% da receita arrecadada com multas de trânsito para serem aplicadas, exclusivamente, na implantação e sinalização de trânsito voltada aos ciclistas.
O Poder Legislativo tem papel fundamental não só na criação de leis e nas suas adequações mas também lhe cabe fiscalizar o Poder Executivo quanto ao cumprimento da legislação vigente e atuar conjuntamente na defesa de políticas públicas voltadas para temas como o uso seguro da bicicleta, principalmente porque parcela significativa dos ciclistas pedala diariamente por necessidade e não por opção, como é o caso de milhares de trabalhadores que cortam a cidade disputando espaços com veículos, buracos, desníveis na pavimentação, ausência ou insuficiência de iluminação e sinalização adequada entre diversos outros desafios.




Ao ignorar os benefícios que a bicicleta agrega para as cidades, é certo afirmar que estamos perdendo boas oportunidades de colocar Lauro de Freitas – portal de entrada para a Costa dos Coqueiros –, na rota do turismo, por exemplo, atraindo negócios em sintonia com o que há de melhor no quesito de desenvolvimento urbano sustentável, aproveitando a localização estratégica do município, entre a capital baiana – com Aeroporto Internacional e a Linha Verde, integrando com o potencial das riquezas naturais, das praias e rios – que necessitam também de maior atenção, gerando empregos nos mais diversos nichos de mercado.
De volta a capital baiana, Moisés Brito de Oliveira, diretor de uma empresa de aluguel de bicicletas sediada há 5 anos no Farol da Barra, amplia o seu raio de ação por toda a orla, demonstrando saber aproveitar as oportunidades. “O perfil do público que aluga bicicletas é bem eclético. Alugamos para todas as idades”, revela, satisfeito. Segundo o empresário, os aluguéis são feitos por ciclistas residentes tanto na região metropolitana como no interior do Estado mas, também, de visitantes de outros estados e países.
Hendrik Aquino é jornalista, especialista em planejamento urbano e gestão de cidades e autor de estudo sobre o uso da bicicleta no município de Lauro de Freitas.