Remadas de inclusão e alegria movimentaram as águas que banham a praia de Buraquinho, em Lauro de Freitas, em 15 de abril. Mais de 50 pessoas participaram da 2ª Remada do Bem, ação em comemoração ao Dia Internacional do Autismo, celebrado em 2 de abril.
A ação consiste em proporcionar uma espécie de terapia ao ar livre, misturando lazer com atividades esportivas, mas também de mobilizar, chamar a atenção para a inclusão das pessoas com deficiência, o que significa torná-las participantes da vida social e reforçar o respeito às diferenças.
“Que bom que existem pessoas que pensam na gente, que pensam na inclusão e podem proporcionar dias como esses”, destacou Cacai Bauer, a primeira influencer digital com Síndrome de Down do mundo, moradora de Lauro de Freitas (Cacai foi matéria de capa da edição 215, em dezembro de 2016, da revista Vilas Magazine).
Organizada pela Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB Lauro de Freitas, o Clube da Prancha, o Movimento de Luta das Pessoas com Deficiência e a Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas, a remada contou ainda com a adesão de diversos apoiadores, que juntos doaram kits de higiene pessoal e cestas básicas para as famílias participantes.
“A Remada do Bem está de volta em Lauro de Freitas e foi um grande sucesso. A primeira edição aconteceu em 2020 e ficou suspenso nos anos seguintes devido a pandemia de Covid-19. É muito gratificante saber que podemos contribuir socialmente com a nova geração, através de atividades recreativas, esportivas e de lazer, mas também fortalecendo a conexão com o mar e a natureza”, contou Gustavo Foerster, do Clube da Prancha.
A praia de Buraquinho tem se destacado, há alguns anos, como ambiente ideal para a inclusão através dos esportes, por sua geografia, com águas rasas e calmas no encontro do rio com o mar. Através do Clube do Prancha e da parceria com o paratleta Fernando Fernandes, Gustavo ministra no local, aulas para a primeira turma de kitesurf para cadeirantes do Brasil.
“Nossa dificuldade em avançar com esses projetos ainda é a acessibilidade. A rampa de acesso está destruída, com pedras e pedaços de ferro expostos, o que dificulta muito a locomoção com os cadeirantes. Espero que no próximo ano consigamos maior apoio, no sentido de reformar estruturalmente o local e consequentemente atrair mais o nosso público”, concluiu.
Autismo na sociedade
Mesmo que você ainda não tenha percebido ou parado para pensar no assunto, é provável que em seu círculo social exista uma pessoa com transtorno do espectro autista (TEA).
Segundo estimativa da Rede de Monitoramento de Deficiências de Autismo e Desenvolvimento dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, cerca de 1 em cada 36 crianças foi identificada com transtorno do espectro do autismo. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu uma pergunta sobre autismo no questionário da amostra do Censo Demográfico 2022, mas os resultados ainda não foram divulgados.
“Apesar do Brasil ainda não ter esse levantamento, é importante entender que falar de autismo não é falar de minorias, de um público restrito ou de pessoas escondidas. O autismo está presente em nossa comunidade: são vizinhos, parentes, amigos, coleguinhas da escola de nossos filhos. Então é importante ter clareza sobre o autismo, tratar a questão do ponto de vista da empatia, do acolhimento e do respeito, sobretudo por ser um transtorno invisível. O autismo não tem cara”, frisa a psicopedagoga Mamary Lopes, especialista em Educação Inclusiva e Doutora em Educação Especial.
A especialista explica que o TEA reúne diferentes condições, de níveis de suporte, todas no âmbito do desenvolvimento neurológico, que resultam em dificuldades de comunicação social e comportamento. Os primeiros sinais podem ser percebidos já nos primeiros meses de vida, com o diagnóstico estabelecido por volta dos dois a três anos de idade.
“Quanto mais cedo o diagnóstico, mais rápido podemos iniciar as intervenções comportamentais e apoio educacional. Neste processo, destaca-se por exemplo, o estí mulo à práti ca de esportes, como no evento realizado pelo Clube da Prancha. O esporte é amplamente importante para pessoas com autismo, levando em consideração que ele trabalha diversas áreas, a exemplo da socialização, desenvolvimento motor, lazer, preenchendo as lacunas que precisam ser esti muladas”, concluiu a profissional.
Ainda não existe uma explicação conclusiva quanto às causas que levam ao TEA, mas as evidências científicas já apontam para uma interação de fatores genéticos e ambientais.


