Setembro Amarelo: como falar sobre suicídio com crianças e adolescentes

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setembro e o mes de prevencao ao suicidio
Foto: Freepik

Há mais de 10 anos, o mês de setembro no Brasil é marcado pela campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio, quarta principal causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos no mundo. No Brasil, a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano, entre os anos de 2011 e 2022, o que torna a temática ainda mais urgente.

Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. Apesar da taxa mundial de suicídios apresentar redução de 36%, entre 2000 e 2019, nas Américas o índice percorre um caminho inverso: houve um aumento de 17% no continente, sendo que o Brasil apresentou um dos crescimentos mais significativos: 43% entre 2010 e 2019.

Mas se o tema ainda é um tabu social – onde possivelmente estamos lidando com uma subnotificação dos casos – , inclusive entre os adultos, como abordar a temática entre as crianças e adolescentes?

Continuar evitando o assunto, certamente, não é a solução. Segundo pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em março, além do crescimento de 6% na taxa de suicídio entre crianças e adolescentes, as taxas de notificações por autoagressão na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período. “É importante estarmos preparados para dialogar com as crianças e adolescentes sobre a importância da valorização da vida, autocuidado e autoestima”, frisa a psicóloga clínica Ita Silva Freitas (CRP – 03/14522), ressaltando que o diálogo aberto é fundamental para se evitar mal-entendidos.

Na infância, Ita pontua que o tema morte pode ser trabalhado de forma lúdica, através de histórias, contos, músicas e teatros, podendo introduzir o findar da vida envolvendo plantas, animais e pessoas. “A sociedade em geral apresenta uma dificuldade em lidar com o tema morte,algo inevitável, universal e fortemente negado. Possivelmente, por não saber lidar com as diversas perdas no curso da vida, o ser humano projeta a morte para a velhice, um equívoco humano. Com os conhecimentos tecnológicos e avanços da ciência apenas adiamos a compreensão sobre a dinâmica da vida, mas seja qual for a fase pode haver a ocorrência da morte, isso é um fato”, acrescenta.

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) recomenda que o diálogo sobre prevenção ao suicídio deve usar uma linguagem simples, clara e adequada para a idade do jovem, sem termos técnicos ou exemplos muito complexos. Além disso, não é necessário entrar em detalhes, sobretudo sobre como o fato aconteceu.

Visando evitar novos casos, Ita Silva explica que o primeiro passo é sondar o que está trazendo sofrimento para aquela criança ou adolescente que não tem mais vontade de viver, a exemplo do sentimento de solidão, sem rede de apoio, abandono profundo, bullying, rejeição pelos colegas e redes sociais, baixa tolerância a frustrações, violência doméstica, abuso por algum familiar, entre outros fatores.

Cabe ao profissional da área de saúde acolher, escutar e compreender a dor da criança ou adolescente, para depois explicar os riscos de se fazer uma escolha ruim, e por fim, fazer intervenções para fortalecer o autocuidado e a autoestima.

Em se tratando de prevenção, a psicóloga acredita que no âmbito escolar, as instituições precisam capacitar os educadores para lidar com essa crescente demanda de saúde pública, que gera significativa preocupação.

“Favorecer um diálogo acolhedor, promover várias rodas de conversas para falar sobre o tema com as crianças e adolescentes, favorecer a educação socioemocional nas escolas, motivar os jovens a comunicar seus sentimentos e angústias, desenvolver projetos que trabalhem com tema sobre respeito, aceitação da diversidade, fortalecer vínculos de amizades, incentivar as famílias a escutarem os jovens”, conclui.

No site da Campanha Setembro Amarelo, da ABP, estão disponíveis diversos conteúdos, inclusive cartilhas com orientações de como ajudar, como prevenir e informações sobre doenças mentais e suicídio. Se precisar de apoio, o Centro de Valorização da Vida (CVV) disponibiliza o número 188, com voluntários disponíveis 24 horas para atender ligações.

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