A perspectiva de recomeço, com novas oportunidades e horizontes mais positivos povoa mentes e corações a cada fim de ano e não é diferente desta vez. O país, o Estado e a cidade viveram um ano especialmente turbulento na esfera política, mais um ano difícil na economia, mas fizemos progressos. A passos curtos, é verdade, mas fizemos. Antes curtos que mal pensados.
A estabilização da economia continua em perspectiva e com prognóstico positivo. Vai se cristalizando a certeza de que finalmente estamos no rumo adequado, ainda que sacrifícios tenham que ser feitos. De um modo geral, o país encontra-se em compasso de espera, com os olhos postos em 2018, quando haverá eleição presidencial.
A troca da guarda no Palácio do Planalto, fato marcante de 2016, não foi suficiente para acabar com o noticiário burlesco de Brasília. Na esfera do Judiciário, o mundo político continua prestando contas. Tudo indica que o novo protagonismo da Justiça veio para ficar, com magistrados de todos os lugares e de várias instâncias tomando iniciativas nunca antes vistas neste país. Já não é só o Juiz Sérgio Moro que distribui ordens de prisão.
O Ministério Público Federal do Paraná também fez escola. Hoje a promotoria de todos os níveis investiga e denuncia casos de corrupção também em escala local, inclusive na Bahia. Já no fechamento desta edição veio a público mais uma etapa da operação Quali, que investiga indícios de que um cartel age há mais de 20 anos em todo o estado da Bahia, superfaturando serviços gráficos em concorrências públicas, inclusive de nível municipal, resultando em prejuízo de milhões de reais aos cofres públicos.
Tudo isso desenha um futuro mais promissor para quem ganha a vida honestamente. Mais importante do que punir os corruptos é impedir que continuem a agir. Disso depende o dia de amanhã. Nesse sentido, 2016 foi um ano turbulento, mas pedagógico. Aprendemos que um corrupto à solta causa prejuízos reais, palpáveis, que não se trata simplesmente de alguém que “se deu bem”, que levou vantagem – o que muitas vezes se celebrou como prova de superioridade.
A higienização geral da vida pública poderá deixar reflexos também na cultura nacional da pequena corrupção diária, praticada pelo cidadão comum. A ideia de “levar vantagem” sempre que possível, subvertendo as normas legais ou de costumes, assemelha-se a trafegar pelo acostamento, ocupar vagas reservadas para idosos e portadores de necessidades especiais, por exemplo . Todos sabemos que é perigoso, que é proibido, mas a tentação de transgredir “sem consequências” é sempre maior para algumas pessoas. O que temos visto nos últimos tempos é que a transgressão tem, sim, consequências e não apenas para quem se envolve em atividades criminosas.
Transgredir tem consequências para a saúde econômica do país, o que acaba prejudicando os mais prejudicados de sempre, as camadas menos favorecidas da população. Transgredir na vida pública resulta em desordem urbana, em violência fora de controle, em perda de qualidade de vida de forma geral. A transgressão nunca é sem consequências.
O ano de 2017 talvez nos traga o surgimento de uma nova consciência coletiva, com mais respeito pelo próximo e pelo coletivo, pela noção de que levar vantagem raramente é vantajoso. Apostamos nisso.