Especial ESCOLAS: Educação infantil é base para uma formação por inteiro

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caderno especial escolas traz dicas do que considerar na hora de escolher a escola para seus filhos
FOTO: Depositphotos

A educação infantil deixou de ser vista como uma etapa preparatória ou opcional na vida escolar. Hoje, ela é reconhecida como o início da trajetória educacional, um período decisivo para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças.

Para Sônia Barreira, diretora pedagógica de uma instituição de ensino na capital paulista, é nessa fase que se constroem as bases para uma formação integral, capaz de incentivar, nas crianças, a curiosidade, a autonomia e a convivência.

“A educação infantil é escola, não é mais pré-escola. Quando definimos isso, estamos falando em processos de aprendizagem. Não necessariamente formal e acadêmica, mas de experiências significativas que ajudam o desenvolvimento da criança.”

Entre quatro e seis anos de idade, esse desenvolvimento é intenso e multifacetado. Nesse momento, a criança adquire noções de linguagem, sociabilidade e vive as primeiras experiências de convivência fora do núcleo familiar.

“A grande conquista da primeira infância é a separação da família. A criança aprende a viver com adultos que não são os pais, a dividir espaço, a lidar com frustrações”, explica Sônia. Esse processo é essencial para compreender que os aprendizados cognitivo e emocional caminham juntos: ao aprender a esperar sua vez ou a lidar com erros, a criança desenvolve tanto o raciocínio quanto a empatia.

Para que esse desenvolvimento aconteça de forma equilibrada, a escola precisa, nas palavras de Sônia, “nutrir culturalmente” seus alunos, oferecendo vivências diversas: como em artes, contação de histórias, música, contato com a natureza e a cultura escrita.

“A melhor escola infantil é aquela que se preocupa com a nutrição cultural. Ela oferece uma rotina cheia de experiências ligadas à aquisição de cultura”, explica. “Quais serão esses elementos vai depender do projeto pedagógico e dos valores da escola.”

A riqueza de experiências faz parte de uma rotina que privilegia o aprender a partir do contexto, não da repetição. “A criança é naturalmente curiosa. O risco é tirar o sentido do que ela aprende, tornar a experiência mecânica”, alerta a educadora.

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EVITAR A PRESSA

Sônia vê com cautela a antecipação de práticas “acadêmicas” demais na educação infantil, como alfabetização precoce ou ênfase excessiva em resultados. Segundo ela, é natural que os pais se preocupem com o desempenho, especialmente por volta dos cinco anos de idade, mas a pressa pode ser contraproducente.

“Aprender pode ser divertido, significativo. Não se trata de evitar o ensino do alfabeto ou dos números, mas de fazê-lo de modo que tenha sentido para a criança, inserido em projetos e brincadeiras.”

Ela defende três pilares fundamentais para qualquer escola de educação infantil: boas condições de aprendizagem, boas oportunidades de convivência e a valorização do brincar.

“Não pode ser uma escola em que só se brinca e não se aprende nada, nem onde só se aprende e nunca se brinca. É o equilíbrio que garante uma formação sólida”, resume.

O ambiente físico e social, segundo Sônia, tem papel crucial na qualidade da experiência escolar. “Até os 12 anos, o ideal é que a escola tenha natureza, espaço para correr e explorar. Depois disso, o contato com a cidade se torna importante, até para estimular a autonomia.”

Um espaço adequado, nesse sentido, deve estimular a curiosidade da criança, incentivar as interações com colegas de turma e propiciar momentos de calma e de descoberta.

Também é essencial, em uma boa escola, contar com uma equipe especializada, preparada para propor vivências significativas e observar as necessidades individuais das crianças. “É preferível um ambiente com natureza e professores bem formados do que uma escola repleta de telas ou supervisionada por babás. A atenção educativa exige intencionalidade e preparo”, avalia.

O PAPEL DAS FAMÍLIAS

A escolha de uma boa escola infantil exige mais do que visitas rápidas e olhares superficiais. Sônia recomenda que os pais observem atentamente como a instituição forma seus professores, que tipo de valores ela promove e quais são os temas valorizados em seu projeto pedagógico. “As famílias devem mergulhar nas apresentações das escolas, ver os materiais, conversar com a equipe e entender o que se valoriza em um educador.”

Para ela, o ideal é buscar coerência entre o projeto da escola e o projeto de educação que a família valoriza. “Não adianta desejar uma formação progressista se a família tem uma visão mais conservadora, e vice-versa. A escola deve complementar o projeto que a família pensou para a criança.”Em cidades maiores há boa diversidade para que as famílias encontrem uma instituição alinhada aos seus princípios.

Outro ponto é o reconhecimento da diversidade dentro da sala de aula. Cada criança aprende de uma forma: algumas são mais verbais, outras visuais, algumas rápidas, outras observadoras. A escola, defende Sônia, precisa estar preparada para lidar com essa pluralidade. “Tem de atender diferentes perfis de alunos. É obrigação da escola se adaptar, e não o contrário.”

O acompanhamento no dia a dia também é essencial: participar das reuniões, ler os boletins qualitativos, conversar sobre os temas de estudo e demonstrar interesse pelas descobertas feitas no ambiente escolar reforça o valor do aprendizado.

Questionada sobre como preparar as crianças para um mundo em transformação, em que tecnologias como a inteligência artificial redesenham as profissões, Sônia afirma: “Ninguém sabe ao certo o que o futuro vai exigir, mas sabemos que a curiosidade e a capacidade de continuar aprendendo serão fundamentais para a formação do ser humano”.

Fonte: Folhapress

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