Programa social dá combate à violência contra adolescentes

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Os jovens selecionados para participar das atividades do programa “Corra pro Abraço”, em Itinga, começaram a frequentar em maio a sede do projeto na comunidade. Dentre as primeiras atividades, os jovens construíram um mapa para identificar os pontos de encontro e espaços de lazer oferecidos – ou não – pelo município à juventude.
 
A ação tem como objetivo prevenir ou afastar os jovens de contextos de violência, promover o resgate da autoestima e incentivá-los enquanto multiplicadores. A intenção é de que nos primeiros encontros a equipe trabalhe com os cerca de 50 jovens temas referentes aos contextos sociais de vida dos participantes, moradores de locais em situação de vulnerabilidade social em decorrência dos altos índices de violência.
 
A relevância da iniciativa está amparada em estatísticas do Governo Federal: Lauro de Freitas é o município brasileiro campeão de assassinatos de adolescentes entre cidades com mais de 100 mil habitantes. O índice local de 18,87 representa a morte por assassinato de nada menos que 355 adolescentes no município, num universo de quase 19 mil jovens de 12 a 18 anos. O índice médio entre os 288 municípios estudados é de 2,05 – nove vezes menor que o de Lauro de Freitas.
 
Os dados são do mais recente Indice de Homicídios na Adolescência (IHA), estudo produzido pela secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República com base em dados de 2012. Em 2005 o IHA de Lauro de Freitas era de 2,84. Em sete anos, o índice local aumentou 565%.
 
O município também lidera a chacina de adolescentes no estado que reúne mais de 70% das cidades mais críticas da região Nordeste, entre elas Salvador. A Bahia é o segundo estado em que mais se mata adolescentes, logo depois de Alagoas.
 
De acordo com o estudo, mais de 42 mil adolescentes (12 a 18 anos) poderiam ser vítimas de homicídio nesse conjunto de municípios entre 2013 e 2019. Os homicídios representam 36,5% das causas de morte de adolescentes em todo o país, enquanto para a população total correspondem a menos de 5%.
 
Jovens negros serão as principais vítimas entre os adolescentes. Para a população conjunta de todos os municípios estudados, os adolescentes negros têm um risco quase três vezes maior de serem assassinados do que os brancos.
 
Na tentativa de estancar a sangria, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Governo do Estado vem ampliando o projeto-piloto do “Corra pro Abraço”, lançado em 2013 em parceria com o Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA). Ampliado em 2015, no ano seguinte o “Corra pro Abraço” foi transformado em programa de governo e expandido para outras cidades, chegando agora a Lauro de Freitas.
 
Por meio de debates sociopolíticos e uso de recursos da arte educação, como canções e poemas, os participantes do programa estabelecem vínculos mais efetivos com os profissionais para então compartilhar as adversidades do cotidiano de cada um, bem como os seus sonhos e traçar alternativas para o desenvolvimento de seus projetos de vida.
 
No terceiro encontro os jovens contaram como foram marcantes os primeiros momentos. “Fui dormir pensando na frase ‘às vezes eu falo com a vida, às vezes é ela quem diz. Qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz?’”, contou um deles sobre a leitura da canção “A Minha Alma” da banda O Rappa. Ele compreendeu como essa letra se conecta com sua própria realidade.
 
Outro jovem disse que o programa alimenta a sua mente e evita que ele faça “coisas erradas”. Palavras como “feliz”, “intelectual”, “contente” foram utilizadas pelos jovens para enfatizar sensações.
 
O secretário municipal de Educação, Paulo Gabriel Nacif, esteve com Luísa Saad, historiadora e supervisora do “Corra pro Abraço” em Itinga, para ouvir o histórico do programa e os critérios da seleção dos jovens. “Pretendemos possibilitar mudanças positivas nas vidas destes jovens, na maioria negros, que estatisticamente estão morrendo por conta da violência, mas podem ter outras trajetórias”, destacou ela.
 
Paulo Gabriel Nacif garantiu que os participantes do projeto terão acesso gratuito ao transporte escolar municipal, como forma de contribuir com o deslocamento deles para participar das atividades. A identificação nos transportes se dará por meio do fardamento e apresentação de carteirinha com foto.
 
O secretário destacou ainda o interesse da prefeitura em apoiar mais a ação e o desenvolvimento dos jovens e mencionou a iniciativa “Universidade de Verão” [leia à página XX]. “Estes jovens poderiam participar como monitores em janeiro de 2018 e seguir, se possível, no planejamento de edições futuras”, prometeu.

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