
A Caipora é o Curupira, com os pés normais. Os antigos sempre alertavam aos jovens sobre a lenda da Caipora, dizendo que ela não possuía uma forma física, mas o seu objetivo era atrapalhar a trilha em matas fechadas, principalmente de pessoas que pretendiam fazer o mal contra a natureza.
Era tradição entre adolescentes e jovens da época, a caça e captura de pássaros, seja para domesticar ou até mesmo comercializar. Também naquela época, apenas as pessoas de posses possuíam gaiolas prontas, assim, pedir para os pais comprarem uma gaiola pronta seria como pedir hoje um bom celular atualmente.
Quem quizesse ter uma gaiola para prender seus pássaros tinha que fabricar, e para isso usavam uma madeira pouco conhecida, chamada matataúba, encontrada na região apenas nas matas do Cají-Caixa D’agua, próximo às margens do rio Ipitanga. Podiam ser árvores baixas mas algumas chegavam a ter 10 metros de altura e a melhor madeira para a produção das gaiolas ficava no ponto mais alto delas.
As mães geralmente não deixavam que os filhos se embrenhassem nas matas, mas a molecada geralmente formava grupos para saírem escondidos, em aventura. Um desses aventureiros era Artêmio da Luz, 48 anos, natural de Santo Amaro de Ipitanga e morador do Centro da cidade. Ele conta que para chegar até à mata, atravessavam o rio Ipitanga depois de passar pelo balão – hoje Estrada do Coco, já naquele tempo com seus perigos pelo trânsito de carros e falta de sinaleiras.
Depois de passar pelo balão, o grupo seguia até a mata, onde entrava à procura das árvores de matataúba. Alguns levavam um saco com pedras ou quebravam galhos de árvores para marcar o percurso feito, pois era local de mata fechada e a única referência que tinham para se orientar era a margem do rio Ipitanga.
Naquele tempo era muito comum em toda cidade, a crença em lendas e muitos diziam que especificamente naquela mata do Cají, vivia a famosa Caipora. Contavam que o sinal da sua presença era a tentativa de atrapalhar a trilha das pessoas, seja tirando as marcações feitas durante o caminho ou até mesmo chamando os “invasores” pelos nomes.
Artêmio lembra que certa vez, junto com um grupo de jovens, todos inexperientes, como ele, durante uma dessas excursões, ouviram gritos com voz que parecia ser de um dos companheiros, afirmando que havia encontrado a matataúba. Mas ao se aproximarem do amigo que supostamente dado o alerta, ele afirmou que não havia gritado nada. Se entreolhando, assustados, todos entenderam ter sido arte da caipora, só lhes restando a alternativa de saírem, apavorados, em desordenada carreira da floresta, para nunca mais voltarem.