Agência afirma que Lauro de Freitas é destaque nacional de padrão de vida

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A tradicional concentração de renda em Lauro de Freitas foi mais uma vez confundida por um ranking nacional, que leu dados da renda per capita local e traduziu por “melhor padrão de vida” entre os municípios brasileiros de médio porte. Desta vez foi a Austin Ratings, agência classificadora de risco, a serviço da Editora3, que publica a revista semanal IstoÉ.

A notícia tinha sido dada há mais de dois anos pela Vilas Magazine: Lauro de Freitas tem renda per capita maior até que a de Salvador. Com R$ 1.031,78 de renda média, já era em 2013 o município baiano com maior capacidade de compra e consumo, seguido pela capital (R$ 973,00). Nasce daí a ilação do “melhor padrão de vida”.

Marcio Araponga - Isto É
Márcio Paiva (acima) recebe título na cerimônia promovida pela editora em São Paulo: estatísticas mal interpretadas 

Só nos condomínios

Com base nos índices de sempre, o “Ranking das Melhores Cidades do Brasil 2015” identificou agora o município como destaque nacional de padrão de vida. Cerca de 68% da renda local, entretanto, está concentrada nos 20% mais ricos da população: o “melhor padrão de vida” da cidade só existe para os moradores de condomínios a leste da Estrada do Coco.

O índice de Gini, que mede o grau de concentração de renda, variando de 0 a 1 – que representaria completa desigualdade – pouco progrediu na última década em Lauro de Freitas: 0,68 em 1991, 0,67 em 2000 e 0,63 em 2010.

O dado foi revelado primeiro pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com base em informações do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O PNUD já alertava para a grande limitação do indicador de renda: o número não considera a desigualdade de renda entre os habitantes do município. Lauro de Freitas pode apresentar uma elevada renda per capita e, ao mesmo tempo, ter uma grande parcela de sua população vivendo na pobreza – o que não configura padrão de vida aceitável.

Renda transferida

De fato, apesar do aumento na renda per capita e da grande redução da pobreza, a cidade não progrediu da mesma forma quanto à distribuição de renda. Os 20% mais pobres detinham apenas 2,43% da renda em 2010, pouco mais que os 1,95% de 2000 e que os 2,2% de 1991. Na ponta oposta da pirâmide socioeconômica, os 20% mais ricos concentram mais de 68% da renda do município. Em 2010 e 1991 eram cerca de 72%.

A explicação para o crescimento da renda per capita nas últimas duas décadas está na taxa de urbanização do município, que cresceu impressionantes 55%, às custas da transferência de residência da classe média de Salvador. A fonte de renda dessa população continua localizada na capital ou no polo industrial de Camaçari.

Na capital, o crescimento da taxa de urbanização no mesmo período ficou em meros 0,12%. Camaçari, que registra uma renda per capita de R$ 553,18, também experimentou crescimento populacional elevado, de cerca de 4% ao ano em duas décadas, mas a taxa de urbanização aumentou apenas 0,24%.

Diploma

Em cerimônia de gala realizada em São Paulo no mês passado pela editora, o prefeito Márcio Paiva (PP) recebeu o título atribuído a Lauro de Freitas juntamente com dezenas de outros prefeitos, representando os municípios destacados em 48 categorias diferentes. A festa reuniu cerca de 500 pessoas e contou com a presença de centenas de prefeitos e do ministro das Cidades Gilberto Kassab.

No conjunto dos quesitos avaliados, as “melhores cidades” do Brasil, de acordo com a agência classificadora de risco, seriam Curitiba (PR), de grande porte, Itajaí (SC), de médio porte e Congonhas (MG), de pequeno porte. Itajaí foi escolhida também como a cidade de médio porte com a melhor qualidade de vida.

Em relação aos indicadores fiscais, a escolhida foi Macaé (RJ). Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, a melhor em relação aos indicadores econômicos. A campeã dos indicadores sociais é Balneário Camboriú / SC.  

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