Uma proposta da Associação dos Barraqueiros de Vilas do Atlântico para a orla tem potencial para evitar a favelização da praia depois da derrubada das barracas. A prefeitura de Lauro de Freitas já havia apresentado as soluções previstas para Ipitanga e Buraquinho. Em Vilas do Atlântico, os próprios barraqueiros se encarregaram de encomendar uma solução arquitetônica que tivesse potencial para ser aprovada pela Superintendência de Patrimônio da União.
Conforme adiantado pela Vilas Magazine na edição de junho, a proposta é montar quiosques – barracas de menor porte – junto às ilhas de entrada no calçadão, nos acessos às alamedas. O calçadão seria desviado naqueles pontos para passar por trás das novas barracas, um nível acima delas.
A proposta é montar uma “barraca ecológica” com área construída de 110 m² e soluções avançadas, como o uso de containers como base estrutural – uma alternativa cada vez mais usada em projetos arquitetônicos sustentáveis. Um dos aspectos mais interessantes é que as novas barracas estarão abaixo do nível do calçadão, sem impactar a paisagem. As janelas e portas externas serão em vidro temperado de 8 mm e 10 mm de espessura.
A estrutura é modular, sem a necessidade de fundações ou cobertura. A estrutura metálica original do container é a própria base das barracas, cada uma com dois módulos de 12m x 2,7m e 5,95m x 2,7m. Acima da cobertura haverá pergolados de madeira e policarbonato para evitar acúmulo de água pluvial. Um piso em cerâmica está previsto para todo o projeto, fixado com material líquido colante – e não argamassas.
Internamente, o forro será em PVC e nas paredes internas, nas divisórias de ambientes, será utilizado um material chamado “steel frame”, composto por gesso acartonado e estrutura de divisórias em aço galvanizado. Nas áreas molhadas será utilizado gesso acartonado especial, resistente à umidade. Na área de cozinha, junto aos fogões, o gesso acartonado será resistente ao fogo.
As instalações hidráulicas e sanitárias – ponto sensível da questão envolvendo as barracas de praia – terão tratamento bioquímico de resíduos, utilizando tratamento com bactérias em gel nas fossas químicas.
O resultado garantido pelo memorial descritivo do projeto é que a água descartada terá 95% de pureza, podendo mesmo ser utilizada na irrigação de plantas e gramados.
Ministério Público
Na última audiência pública de conciliação sobre o processo do Ministério Público Federal que pede a remoção das barracas de praia em Lauro de Freitas, no final de maio, o juiz Carlos d’Ávila Teixeira deixou claro que não haveria naquele momento um ultimato ao prefeito Márcio Paiva (PP), para promover a derrubada em prazo certo. E marcou nova audiência de conciliação para 26 de setembro – uma garantia de que, pelo menos até lá, tudo continua como está.
Audiência pública de conciliação da Justiça Federal: sem ultimatos para derrubada de barracas.
O prazo de quatro meses pode ser importante para viabilizar as soluções propostas pela prefeitura de Lauro de Freitas e pela associação de barraqueiros para as três praias da cidade, antes da demolição das barracas. A própria advogada dos barraqueiros de Vilas do Atlântico já não pediu, durante a audiência, a manutenção das barracas na areia, mas apenas prazo para se construir o projeto alternativo.
Já a presidente da Associação de Moradores de Vilas do Atlântico (Amova) Janaína Ribeiro, que também falou ao juiz durante a audiência, disse que a comunidade quer manter as barracas e pediu a gestão da orla para a entidade, mas Carlos d’Ávila Teixeira descartou a possibilidade, reafirmando que a competência é do município. A hipótese de firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para manter as estruturas atuais foi descartada porque a ação já foi ajuizada.
A ideia de ocupar residências da orla para instalar barracas, que chegou a ser discutida, foi anteriormente descartada pela prefeitura porque a área é de uso residencial. Já os jardins na frente das residências, de acordo com posicionamento emitido na última audiência de conciliação da Justiça Federal, devem ser recuperados pelo poder público federal – o que ainda pode levar anos. Por isso os barraqueiros projetam as novas estruturas para a área do calçadão e não para a área pública hoje ocupada.
Técnicos da SPU fazem medições topográficas na orla de Vilas do Atlântico: definindo o patrimônio da União
Técnicos da Superintendência de Patrimônio da União (SPU) vêm fazendo medições topográficas na orla de Lauro de Freitas para determinar qual é a área pertencente à União e ao município.
No trecho da praia de Ipitanga que pertence a Lauro de Freitas as novas barracas deverão ser instaladas no espaço que hoje serve como estacionamento de veículos, no contexto de uma obra de contenção da orla. O projeto já foi aprovado pela SPU, já tem fonte de financiamento e empreiteira contratada. Serão 14 quiosques em sete módulos – o mesmo modelo projetado para Buraquinho, que terá onze módulos.