Setembro chega trazendo com ele a primavera, popularmente conhecida como a estação das flores. E mesmo que em algumas regiões do Brasil as estações não sejam bem definidas, é impossível não perceber a sensação de alegria e bem-estar transmitidas através do perfume, colorido e da beleza única das flores.
E será que quem trabalha com flores o ano inteiro é mais feliz?
Para tirar essa dúvida fomos conhecer o maior orquidário da Bahia, localizado em Jauá, Camaçari. Com 2,2 hectares, o Orquidário Bahia, reúne cerca de 80 mil plantas, com espécies importadas diretamente da Tailândia, maior produtora mundial de orquídeas, e outras endêmicas do Brasil, com destaque para as variedades Dendrobium phalaenopsis (denphal), Oncidiuns, Cattyleas, Phalaenopsis, Vandas e Miltonias.
Aliás, as orquídeas estão por toda parte, em seus vários estágios de produção, e o colorido das espécies em floração é hipnotizante.
Quem nos mostra o local é o orquidófilo Ednildo Andrade Torres, 63 anos. Natural de Queimadas (253 km de Salvador), professor da Universidade Federal da Bahia, Ednildo é engenheiro mecânico de formação, com mestrado e doutorado em energias renováveis e sustentabilidade. Entusiasta da natureza, sua relação com as orquídeas começou a cerca de 30 anos quando ganhou a primeira planta, uma Cattleya labiata. “Tenho a minha primeira orquídea até hoje, ela tem quase 30 anos e está tão jovem quanto no início, muito mais desenvolvida e já deu vários filhotes”, conta.
Ednildo Torres apresenta carinhosamente as espécies do Orquidário Bahia
Dos cuidados em casa, até a ideia de orquidário foram alguns anos de planejamento com a esposa, a dentista Silvia Torres. A primeira sede começou a ser edificada em Sauípe, em 2005, mas a distância em relação a capital dificultava seu crescimento. A sede atual foi construída em 2012 e aberta ao público no ano seguinte. Modernizações foram acontecendo paulatinamente e hoje o orquidário conta com laboratório, estufas com irrigação e iluminação específicas para cada etapa de crescimento da planta, um packhouse com exposição permanente de orquídeas, e uma área para cursos.
Ednildo destaca que, fora as datas comemorativas, no segundo semestre, a partir de julho, a procura por flores aumenta, mas ainda é uma relação muito tímida se comparado a outros países. “Flor no Brasil só é lembrada em datas comemorativas. Na Europa as pessoas compram flores a qualquer momento e até cultivam; na Ásia, quando você chega no aeroporto é recebido com uma flor. Aqui no Brasil você chega em um shopping e as lojas estão cheias de flores artificiais”.
O Orquidário Bahia tem duas exposições confirmadas: de 18 a 25 deste mês, no Shopping Barra e em outubro, de 28 a 12, no Shopping da Bahia.
GANHEI UMA ORQUÍDEA, E AGORA?
Em todos esses anos de cultivo de orquídeas, Ednildo ouviu muitas perguntas curiosas sobre o cultivo doméstico: “posso cultivar orquídeas em qualquer lugar? por que minha orquídea não dá flor? quanto tempo a planta vive?” FOTO: Espécie Phalaenopsis, a forma de suas pétalas se assemelha a uma borboleta
E além das perguntas, viu também muitas pessoas irrigando de forma errada, colocando terra em espécies que não são da terra e até colocando café e gelo para a
planta dar flor.
“Um grande erro na minha opnião é a pessoa buscar soluções definitivas na internet, porque nem sempre funciona. O cultivo de soja na Bahia, por exemplo, é completamente diferente do cultivo de soja no Sul do país, por questões relacionadas a tipo de clima e solo. O mesmo vale para as orquídeas”, frisa. FOTO: Laboratório e estufas específicas para cada etapa de crescimento das plantas
Pensando no orquidófilo iniciante, Ednildo desenvolveu um curso, um dia de campo,
onde explica as noções básica para qualquer pessoa que deseje ter uma orquídea ou até um orquidário em casa.
FOTO: As mini orquídeas têm tamanho entre 5 milímetros e 40 cm
“Existem três regras básicas para se cultivar as orquídeas. A primeira é a luminosidade: grande parte das espécies não vive em sol direto e nem tão pouco muita sombra; o homem aprendeu a observar a natureza, e faz a adequação da luminosidade, através de telados e estufas, simulando a sombra da copa de uma árvore. A segunda é a rega:
‘Devo molhar todos os dias? Quantas vezes?’ A melhor indicação é colocar o dedo no substrato: se estiver úmido não precisa. E não coloque pratinho embaixo da planta, a umidade apodrece a raiz. E a terceira regra básica é a adubação: uma vez por semana, pulverizar a planta”, destaca.
Para os que desejem começar a cultivar orquídeas, Ednildo indica um orquidário vertical, ideal para apartamentos, com capacidade de 10 a 12 plantas, e o desenvolvimento de um projeto de mini estufa para cultivo em casas.
CATTLEYA ACLANDIAE, SÍMBOLO DA BAHIA
Uma espécie cultivada no Orquidário Bahia que chama muita atenção é a Cattleya aclandiae, espécie endêmica do recôncavo baiano, encontrada em áreas de Mata Atlântica. Foi catalogada em 1840 pelo botânico inglês John Lindley, mas seu nome é em homenagem a Sir Thomas Acland, de quem o botânico ganhou a planta junto com um desenho da flor.
De comportamento epífito, ou seja, cresce sobre as árvores, suas pétalas variam de verde claro a verde escuro, com pintas marrons, e o labelo é de cor lilás, uma combinação única de beleza,
isso sem falar no perfume.
“É bom explicar que as orquídeas epífitas não são parasitas, elas não se alimentam das árvores. Ela captura os nutrientes do ambiente, e por isso as condições de luminosidade, rega e adubação são tão importantes”.
Geralmente as flores surgem entre outubro e dezembro, mas tivemos a sorte de encontrar uma flor linda. “A Cattleya aclandiae, possui uma fragrância fantástica, um apelo visual belíssimo, e ainda não é muito conhecida”, frisa. Na Bahia existem 400 espécies de orquídeas, mas apenas metade está catalogada.
ORQUIDOFILIA
“Paixão é efêmera, passageira. Digo que é amor, amor à natureza! Você tem uma flor que dura três dias, e outra que dura 90 dias; uma tem tons de vermelho, outra de amarelo, outras, tons de marrons; você tem uma flor que tem uma fragrância que lhe atrai, uma beleza que é ímpar, o resultado é que você fica fascinado”.
Lembram da pergunta no início do nosso texto? (será que quem trabalha com flores o ano inteiro é mais feliz?) Depois de uma manhã conhecendo orquidário, conversando com Ednildo e me apaixonando pelas cores e perfumes, a resposta é sim!
No planeta existem aproximadamente 35 mil espécies e 140 mil híbridas (cruzamento das espécies), mas são muito mais se considerarmos as espécies que ainda não foram catalogadas. Nativas da África e do hemisfério norte, as orquídeas se adaptam muito bem ao clima do Brasil, e o país já conta com 4 mil espécies catalogadas.
Apesar do clima muito propício, a orquídea ainda é uma planta pouco cultivada no país, se comparada com outros países, inclusive da América do Sul, a exemplo do Equador e Colômbia. Os maiores produtores estão na Ásia, onde Ednildo teve a oportunidade de conhecer a Tailândia em 2012, de onde importa parte das espécies do orquidário.
A Bahia não é o maior produtor de plantas do Brasil, representa apenas 2% da produção nacional. “O setor de plantas cresce muito no Brasil. Enquanto alguns setores estão estagnados 0,5 a 1%, o setor de plantas cresce até 10%. Só que estamos neste caso falando de plantas ornamentais. O cultivo das orquídeas depende de uma estrutura e um investimento financeiro, os insumos são caros, mas se compararmos com 10 anos atrás, o valor já caiu muito. Sem contar na particularidade, algumas espécies demoram até sete anos para chegar na sua primeira floração”, frisa.
Ednildo demonstra sua paixão pela natureza e pelas orquídeas inclusive através das tintas e das telas. “Costumo chamar de orquídeaterapia, a pessoa se doar em benefício do próprio ser. Se existe uma espécie mais desejada que a outra? Essa pergunta é igual a perguntar para um pai qual o filho que ele mais gosta. Não existe o filho que você mais gosta; você ama igual todos os filhos, assim sou eu com as orquídeas. Se você observar bem, mesmo sendo todas orquídeas, tem plantas bem diferentes umas das outras, e sendo diferentes você não vai comparar; você vai simplesmente cultivar, como quem vê um filho crescendo, e à medida que elas crescem vão se revelando, muitas vezes de uma forma que você nem espera”, concluiu.
SERVIÇO
O Orquidário Bahia funciona de segunda à sexta, de 8h às 16h, e aos sábados de 8h às 12h. A entrada é franca sendo opcional a compra de plantas. As orquídeas custam de R$ 20 a R$ 50, exceto as plantas da espécie Vanda, que podem chegar a R$ 100. Além do cultivo de orquídeas é possível encontrar também rosas do deserto, cactos e suculentas.
End.: Estrada da Água Fria (Jauá), com acesso pela BA 531 (Estrada da Cascalheira). Mais informações pelo site www.orquidariobahia.com.br