As cidades catarinenses de Blumenau e Pomerode são vizinhas no Vale do Itajaí, distantes pouco mais de 30 quilômetros uma da outra. Além da proximidade geográfica, as duas também se assemelham na preservação da cultura germânica, resultado da imigração alemã para a região no início do século 19.
Marcado pelas casas de arquitetura enxaimel, com vigas de madeira enviesadas aparentes na fachada, uma profusão de cabeças loiras, roupas e comidas típicas (os embutidos, o joelho de porco e o marreco recheado reinam), o cenário remete a lugarejos europeus. Essas não são, porém, as únicas heranças dos imigrantes: o gosto pela cerveja também é mantido há séculos – em Blumenau, a primeira fábrica da bebida foi aberta em 1860.
De lá para cá, o apreço se manteve, mas com algumas mudanças embaladas pela onda das bebidas artesanais. Cervejarias da região vêm se estruturando para receber turistas, com lojas, bares e passeios guiados pela produção, que podem terminar com degustação da bebida.
O Museu da Cerveja, no centro de Blumenau, abriga chopeiras e canecos usados nas primeiras edições daOktoberfest brasileira, realizada desde 1984. Inspirado na festa de Munique, na Alemanha, o evento é o maior no calendário da cidade – o de 2016 ultrapassou a marca de 500 mil visitantes, que consumiram mais de 660 mil litros de chope. A edição deste ano acontece entre 4 e22 deste mês (ingressos à venda em oktoberfestblumenau.com.br).
Bier Vila, bar com mais de 400 rótulos de cerveja
Em março, Blumenau, que recebeu o título de capital nacional da cerveja neste ano, também é palco do Festival Brasileiro da Cerveja. O evento chegará à sua 10ª edição em 2018, abrindo espaço a pequenos produtores.
Endereço da Oktoberfest, a Vila Germânica funciona durante o ano inteiro. Fica ali o bar Bier Vila, que reúne mais de 400 rótulos de cerveja. Uma parede com 30 torneiras exibe a seleção de bebidas servidas sob pressão. A variedade pode confundir os leigos,mas a equipe local ajuda na decisão e, depois do brinde (em alemão: prost!), dá para bebericar nas mesinhas ao ar livre.
O estabelecimento da Escola Superior de Cerveja e Malte na cidade, que oferece graduação em engenharia de produção cervejeira e, em 2016, recebeu mais de mil alunos, também reforçou a profissionalização do setor.
Entre as cervejarias veteranas da cidade, a Eisenbahn, de 2002, cresceu e opera sob o comando da Brasil Kirin (comprada pela Heineken), mas não deixou sua terra natal.
No bar Estação Eisenbahn, as bebidas são produzidas em fábrica anexa – dá para agendar visitas (R$ 10 por pessoa). Ficam disponíveis ao menos 12 rótulos, alguns menos comuns, em outras prateleiras por serem edições especiais, caso da Eisenbahn Altbier (R$ 10,50; 500 ml).
Outra tradicional marca da cidade, a Bierland, aberta em 2003, volta a partir deste mês a receber turistas com um novo bar de fábrica e capacidade de produção dobrada, chegando aos 280 mil litros de cerveja por mês.
Da mais nova leva, a Container começou em 2014 e segue a escola inglesa. A influência britânica é notada ainda na decoração do pub, ao lado da fábrica. No barde luz baixa e rock na trilha sonora, dápara provar as cinco receitas – a régua de degustação, com três estilos, custa R$ 16. O trio de bebidas também encerra o passeio pelas instalações da produção (R$ 32).
Ainda mais recente, a Cerveja Blumenau nasceu como uma marca cigana (sem endereço fixo) e, desde setembro de 2016, está em um espaço amplo, no bairro de Itoupavazinha. Ali são fabricadas as 11 bebidas – entre elas, a Capivara Little IPA, premiada em um festival na Bélgica –, que podem ser degustadas no bar anexo. É preciso agendar a visita guiada, que termina com degustação e custa R$ 20 por pessoa.
(FOTO: A régua de degustação do bar Estação Eisenbahn, com informação sobre as bebidas)
Para experimentar o marreco recheado servido há mais de 30 anos no restaurante Abendbrothaus também é necessário reservar com antecedência. O único prato da casa, que só funciona aos domingos e fica na Vila Itoupava, a 25 quilômetros do centro, custa R$ 75 por pessoa, com oito acompanhamentos entre eles salada de batata, chucrute e purê de maçã).
Rota da cerveja vai até a ‘alemã’ Pomerode
Vizinha de Blumenau preserva língua e arquitetura germânicas e é sede de fábricas de bebida e de porcelana
Pomerode, vizinha de Blumenau, faz jus ao apelido de “cidade mais alemã do Brasil” – não é raro ver gente conversando nesse idioma pelas ruas cercadas por casas de telhados pontiagudos e jardins bem cuidados. O município catarinense preserva mais de 200 construções em estilo enxaimel.
(FOTO: Degustação com sommelier continua na pequena Gaspar; diversão inclui pesca e gastronomia)
A cidade é também a terra natal de uma das principais cervejarias da região, a Schornstein, e das porcelanas Schmidt, que tem loja de fábrica (itens com pequenos defeitos têm desconto) e um museu próprio.
Aberta em 2006, a fábrica de bebidas nasceu pequena, ocupando uma edificação tombada que abrigava a casa de caldeiras das indústrias da família Weege, importante na formação econômica do lugar.
A grande chaminé (schornstein, em alemão), de 1940, continua ali. Hoje, o imóvel é endereço do bar de fábrica, onde a régua de degustação, com sete copos de 50 mililitros, custa R$ 20 e pode ser acompanhada da porção de linguiça na chapa e pão de cerveja (R$ 44).
As bebidas são servidas em uma sequência que vai das mais suaves para as mais encorpadas e de sabor pronunciado. O ideal é seguir a ordem proposta para que nenhuma seja ofuscada.
No galpão ao lado, desde junho de 2016 funciona uma nova fábrica da Schornstein, que produziu por um tempo em Holambra, no interior paulista. Além de visitar a loja, dá para fazer um tour guiado pelos tanques (R$ 30 por pessoa). O passeio, agendado por telefone, começa com um vídeo de apresentação e é orientado por um sommelier, que também acompanha a degustação no final.
Na cidade de Gaspar, que tem pouco mais de 66 milhabitantes, fica a Das Bier, cervejaria instalada numa propriedade onde também funciona um pesqueiro. De lá sai a tilápia, carro-chefe do restaurante no local e servida em cubos empanados (R$ 53 a porção). Na seleção etílica, há 11 cervejas, também oferecidas na régua com oito chopes de 50 mililitros (R$ 12,50). Para a visita à produção (R$ 15 por pessoa), é preciso agendar com antecedência.