“Por muitos anos permiti que o medo, as preocupações e o trabalho me tirassem o desejo de ser mãe. Certo dia, em uma consulta extremamente amorosa, percebi que o desejo da maternidade estava ali, dentro de mim. Aos poucos a incerteza foi se transformando em vontade e confesso, ser abraçada por uma médica especial fez toda diferença. O caminho escolhido foi cada dia mais surpreendente, cada tentativa despertava ainda mais a vontade de ser mãe e agora minha alma está repleta de felicidade, fui agraciada com a chegada de meu primeiro bebê. Este mês, aos 40 anos, celebro meu primeiro Dia das Mães. Comemorarei mesmo sem conhecer sua vida que já cresce aqui dentro de mim. Feliz Dia das Mães, agora para mim também!”
Esta foi a mensagem que a arquiteta e urbanista Eunice Santana, mandou ano passado para sua médica, quando descobriu que estava grávida do primeiro filho. Acredito que as mulheres que já são mamães devem se lembrar perfeitamente dessa emoção, até porque a chegada do primeiro filho, planejado ou não, é sempre muito desejada e aguardada por toda família.
A gravidez de Eunice foi planejada. Ela e o marido passaram um ano tentando até receber o resultado positivo. “Estava casada há quatro anos e a confirmação da gravidez só veio após um ano de tentativas. Sem dúvida foi a notícia mais aguardada de nossas vidas. Apesar de estar com Covid-19 quando engravidei, sempre acreditei que nada aconteceria comigo nem com meu bebê. Por incrível que pareça, não tive medo e confesso que surgiu uma força que nunca imaginei ter”, conta.
A pandemia já vem deixando sua marca inclusive quanto ao desejo de ser mãe. Pesquisa realizada pela Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais – Arpen, aponta que na Bahia o número de nascimentos sofreu uma queda de 18% em janeiro de 2021, se comparado ao mesmo período do ano anterior, ficando o estado com o oitavo menor número de pessoas nascidas em todo o Brasil.
E a tendência é que os números caiam ainda mais. É que o Ministério da Saúde recomendou que, se possível, as mulheres posterguem a gravidez devido ao avanço da pandemia de Covid-19. Essa mesma recomendação foi emitida em 2016 quando do surto de zika vírus.
Apesar de todos os riscos, Eunice, que deu à luz ao pequeno Dom em janeiro de 2021, com 50 centímetros e 3,960 kg, conta que não mudaria absolutamente nada. “Jamais mudaria essa história, fui mãe no momento certo, na idade certa (41 anos) e acertei nessa escolha linda da maternidade. Me espelho muito em minha mãe, Dejanira, um ser humano de luz, bondade e amor, e espero conseguir mostrar a meu filho o quanto é belo ser verdadeiro, honesto, bondoso e amoroso com todos ao seu redor”.
“Ser mãe é a escolha acertada, a certeza que o amor é generoso, divertido e que com o sorriso do meu Dom tudo se transforma. Obrigada meu Dom por ter me escolhido para ser sua mãe, obrigada a Deus por ter me dado a dádiva de gerar um filho, poder ouvir logo logo ele me chamar de mãe”, desabafa.
Nem sempre planejada, mas sempre com amor
A empresária Nayara Bitencourt, apesar de mãe de primeira viagem, já desfruta das delícias da maternidade há 11 meses. Mãe amorosa do pequeno Arthur, que nasceu em junho de 2020, Nayara conta que foi um choque quando descobriu que estava grávida. “Tinha decidido que em 2019 seria o ano em que faria minha empresa deslanchar, estava no auge da minha vida profissional, ao menos era o que eu achava naquela época. Tinha pouco tempo que havia saído da casa de meus pais e estava morando com meu namorado, aproveitando o máximo de tempo juntos já que ele ia embora para o Canadá”, conta.
Os dois falavam sobre filhos, mas não para aquele momento. Lucas, o namorado, foi para o Canadá ainda em 2019, e Nayara o seguiu em março daquele ano, e lá percebeu o quão grave era a pandemia da Covid-19. Ela lembra que foi super bem assistida no pré-natal, mas Lucas só podia participar através de videochamadas e a mãe dela, que iria para ajudar com o pequeno Arthur, não pode ir. Outro impacto foi no parto, que apesar de ser natural e humanizado, como ela sempre sonhou, só pode contar com a presença de Lucas e de uma parteira.
“No parto estávamos só meu marido, a parteira e eu. Foi o momento mais mágico da minha vida, depois de 15 horas e meia de trabalho de parto ele nasceu de maneira natural e humanizada, exatamente como eu tinha sonhado. Com a pandemia, não podíamos ter apoio de ninguém, então ficamos os três até Arthur completar cinco meses. Como não tinha como trabalhar fora, me dediquei mais à ele, sendo mãe em tempo integral. Foram momentos difíceis mas muito gratificantes! Quando Arthur completou cinco meses e percebemos que a pandemia tenderia a piorar, resolvemos voltar, para que ele pudesse ter contato com a família e eu voltar a ativa na minha empresa. Apesar de tudo, não, não mudaria nada”.
De volta ao Brasil, Nayara agora tem o desafio de conciliar a vida profissional – a empresa está em momento de expansão internacional – e a vida pessoal, acompanhando o crescimento de Arthur. “Como amo o que faço, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, conciliar os dois se torna mais fácil. Acredito que a pandemia veio para nos desafiar a sermos nossa melhor versão e nos adaptarmos a novas realidades. No papel de mãe, sou rodeada por figuras maternas incríveis como as minhas mães, minha sogra, avós, e as amigas que já são mães. Procuro sempre aprender com todas elas, adapto e aplico o que acredito ser melhor para meu filho. Sei que vou errar, afinal ninguém é perfeito, mas tenho certeza que será sempre um aprendizado para o futuro”, desabafa.
Nayara carrega consigo a certeza de que tudo acontece no momento que deve acontecer e o fato de Arthur ter nascido no meio da pandemia só os fez amadurecer e fortalecer como casal, como pais e como família. “Toda gravidez de primeira viagem tem seus altos e baixos. Na prática você vê que não é apenas glamour, mas também não é um sofrimento. Na verdade ser mãe é um amor incondicional. É chegar exausta de um dia de trabalho, ver aquele sorriso de poucos dentinhos e ver as energias se recarregarem automaticamente, para brincar com ele; querer transferir para você todas as dores dele; ter a maior responsabilidade do mundo em proporcionar tudo de melhor para esse novo ‘serzinho’ que vem para preencher todas as lacunas que já existiram algum dia na sua vida”, conclui.
Segunda chance!
A natureza do ‘ser mãe’ é algo tão forte, eleva a mulher a uma condição ímpar que é capaz de superar até pior das dores, a dor de perder um filho. A engenheira Aline do Rio, sabe bem o que é isso. Em 2019 ela engravidou de uma menina, o nome escolhido foi Alice, mas perto do sexto mês uma complicação na gestação, mãe e filha não estavam bem e precisaram passar por uma cirurgia, um parto de emergência. Alice não resistiu, e hoje é um anjinho no céu.
Consciente de si, de seu corpo, com o apoio da família, Aline tentou novamente e cinco meses depois descobriu que estava grávida. “Uma gravidez planejada e muito, muito desejada. Guardamos segredo para a família e amigos até descobrirmos que vinha outra menina e foi pura emoção na revelação! Apesar do medo, por conta do que tinha acontecido na gravidez anterior, eu estava muito bem assistida pelo meu médico e pelo meu marido, que nunca me deixou pensar que não daria certo dessa vez”, conta.
Quando a pandemia começou, Aline estava no terceiro mês de gestação. Apesar da saudade da família, por conta das restrições de circulação, ela se viu segura dentro de casa e adaptou o trabalho para o home office. Outra novidade foi o enxoval, todo montado através do mundo virtual e das compras on-line.
“Apesar da pandemia, acredito que esse foi o melhor momento para ser mãe. Nem consigo imaginar a dor de uma mãe que tem que sair de casa todos os dias pra trabalhar e deixar um bebê tão pequeno e tão dependente em casa ou na creche. Minha Malu nasceu há sete meses e depois da licença maternidade voltei a trabalhar, mas de home office, o que possibilita acompanhar todas as fases e descobertas da minha pequena. Me dá muita segurança poder controlar a rotina dela bem de perto. Não mudaria nada. Isso realmente não tem preço!”
A partir de agora Aline está focada na educação de Malu, contribuindo para a formação de seu caráter e personalidade, mirando-se no exemplo que recebeu da mãe. “Como a interação dela com o mundo está cada vez maior, tento sempre dar o melhor de mim para que ela desenvolva os valores que admiro no ser humano. Leio bastante sobre esse mundo da formação de caráter e personalidade e sobre os ensinamentos em cada fase. E dou a ela todo o amor e afeto que tenho para que seja uma criança feliz e amada!”
“Penso que ser mãe é se entregar de corpo e alma para viver minha melhor versão. E tenho como referência a minha mãe, do tipo ‘mãe leoa’, que não deixa nada e nem ninguém mexer com suas crias! Sempre foi minha inspiração. E ver o amor dela pelos netos só aumenta mais ainda minha admiração e amor de filha”, conclui.
Gravidez e pandemia
A gravidez, por si só, é um período que requer da mulher uma atenção maior com seu corpo, mas os números da pandemia, que revelaram uma média alta no número de mortes de gestantes e puérperas, aumentou o alerta.
A médica obstetra, Adriana Monteiro, reforça que a gestante deve iniciar nos primeiros meses da gravidez o pré natal, para organização das vitaminas, uso de repelentes, adequação das atividades profissionais e físicas, além da atualização do cartão vacinal. Nos semestres seguintes, os cuidados devem permanecer, acrescidos da necessidade de mais isolamento social.
“No fim da gravidez, a preocupação com a contaminação pelo Covid-19, próximo ao parto, também pode ser minorada, com a antecipação da licença maternidade, para que a mulher fique realmente em casa, evitando se expor em ambientes aglomerados, inclusive reuniões familiares, chás de bebê ou reuniões de trabalho. A gestante precisa ser protegida por todos, ela carrega no ventre os futuros cidadãos. Familiares e o próprio trabalho precisam compreender o momento complexo que estamos vivendo e possibilitar que as grávidas permaneçam mais em casa, saindo apenas quando estritamente necessário, usando máscara e mantendo distanciamento social”, destaca Adriana.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2020 foram registrados 546 óbitos por Covid-19 entre as gestantes e puérperas no Brasil. Se o número já não era confortável, apenas nos quatro primeiros meses deste ano já foram registrados 433 óbitos neste mesmo grupo, o que representa 79,3% do total registrado em todo o ano de 2020.
Apesar de ainda não existirem muitas pesquisas sobre o tema, alguns estudos começam a ser divulgados, apontando para maiores riscos de complicação da Covid-19 no caso das gestantes. Estudo da Universidade de Washington, por exemplo, publicado em fevereiro deste ano na revista American Journal of Obstetrics and Gynecology, estima que, entre mulheres da mesma faixa etária, a Covid-19 é 70% mais frequente em gestantes.
Já a pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), que analisou 400 mil mulheres, sendo que cerca de 5,85% estavam grávidas, chegou à conclusão de que a chance de uma gestante precisar ser internada em UTI é 62% maior que a de nas demais mulheres da mesma faixa etária. No caso de precisar de intubação, o índice aumenta para 88%.
Bruno Novais, médico obstetra, reforça que não é o fato da mulher engravidar que ela está mais suscetível a se contaminar com o Covid-19. Na verdade, mulheres grávidas precisam ser percebidas como grupo de risco, pois dentre aquelas que se contaminam, é alto o índice das que desenvolvem os sintomas graves, precisando de internação.
“Quanto ao protocolo, cabe o mesmo definido para os grupos de risco: só sair de casa quando necessário, por exemplo para fazer o pré-natal certinho; consultar se tem alguém que possa resolver outras demandas, como ida ao supermercado ou farmácia; usar máscara, lavar as mãos e evitar aglomerações, inclusive as reuniões familiares”, aconselha. Quanto ao parto, ambos concordam que hospitais e maternidades são os ambientes mais seguros, porque contam com alas separadas para pacientes, profissionais de saúde paramentados e já vacinados, além de manutenção do distanciamento, uso de máscaras e soluções de limpeza e desinfecção com protocolos diferenciados. “Vale lembrar que as contaminações de pós-parto ocorrem já no domicílio das puérperas, muitas vezes trazidas pela rede de apoio, que é necessária, mas que por vezes insiste em não usar as medidas de proteção individual”, reforça Adriana Monteiro.
Novas recomendações do Ministério da Saúde focam quem deseja engravidar
O Ministério da Saúde divulgou em abril duas medidas que mexem diretamente com as tentantes (mulheres que querem engravidar), gestantes e puérperas. A primeira veio através de uma declaração do secretário de Atenção Primária à Saúde, Raphael Parente, que pede para que as mulheres, se possível, adiem os planos de gravidez, até que haja melhora na pandemia. Ele destaca ainda que a recomendação não se aplica para mulheres de 42 ou 43 anos, mas apenas para mulheres jovens, que podem se planejar e esperar por um momento melhor.
“Essa é uma recomendação que estou defendendo já há algum tempo. Neste cenário pandêmico, onde a infecção da Covid-19 se espalha tão rápido e não temos como saber se a pessoa ao lado está infectada ou não, quando possível, faça um planejamento familiar e aguarde um pouco mais. Claro que isso não se aplica para o caso de mulheres que já tenham histórico de grandes perdas gestacionais ou a idade já esteja perto ou passou dos 40 anos”, destaca Bruno Novais.
Já a segunda medida é uma portaria que, ao contrário do divulgado no plano de vacinação nacional, em janeiro deste ano, incluiu como grupo apto para receber a vacina contra a Covid-19, mulheres grávidas, lactantes e que tiveram bebês até 60 dias. Ainda segundo a portaria, devem procurar os postos de vacinação as gestantes que possuem doenças preexistentes, como diabetes, doença cardiovascular ou obesidade. Quem não possui nenhuma comorbidade, precisa de uma recomendação médica.
Adriana Monteiro acredita que, quanto à orientação de adiar a gravidez, seria de certo modo uma transferência de responsabilidade do caos pandêmico para as mulheres, o que é complexo e desigual. “Acredito no meio termo, em aumentar a proteção para gestantes com orientações e normativas mais rígidas de afastamento laboral e o correto planejamento para quem deseja engravidar”.
Quanto à vacinação, a médica enxerga como um alento que deve ajudar a reduzir o número de mortes. “A recomendação é segura tendo em vista que as tecnologias empregadas nas vacinas contra Covid-19 disponíveis no Brasil são conhecidas e já usadas em vacinas que as gestantes tomam todo ano, como Hepatite B e Gripe H1N1. A vacinação de mulheres de alto risco é recomendável e vem como um alento e mais um reforço de proteção, associado às medidas de isolamento social. Cada caso deve ser conversado e ponderado com obstetra que assiste à gestante para que a orientação seja individualizada e adequada caso a caso”.
Etiqueta do pós-parto: “não me visite!”
A chegada de um bebê sempre é cercada de muita alegria, e claro, todos querem conhecer essa coisinha, carregar no colo, dar beijinhos… Epaaaaa!
Mais do que nunca está na hora de lembrar que a etiqueta do pós-parto existe, estamos tratando de um ‘serzinho’ que ainda não tem suas defesas ativas, e requer cuidado e atenção.
Sempre ficou à critério de cada família escolher como o novo membro da família deve ser apresentado ao círculo de amizades do casal. Antes da pandemia, era de bom tom ligar e perguntar quando poderia ser feita a primeira visita, geralmente esperando completar o primeiro ciclo de vacinação. Na prática sabemos que não funciona bem assim.
Com a pandemia surgiu uma nova etiqueta. “Saindo um pouco da medicina e indo para os bons modos sociais, diria que o melhor é não visitar. Claro que cabe a cada família decidir em qual momento devem se inciar as visitas e como devem acontecer”, afirma Bruno Novais.
Adriana Monteiro lembra que, por vezes, a presença de outras pessoas é necessária para ajudar nos cuidados com o bebê, a puérpera e até nos afazeres domésticos. Nestes casos, a recomendação é não entrar nos aposentos com sapatos, limpar as mãos e celulares com álcool e trocar a máscara por uma nova, descartável ou de tecido. Se possível, tomar banho ou, ao menos, lavar muito bem as mãos e antebraços, retirar adornos como anéis, relógios e pulseiras que acumulam bactérias e fungos, e não tirar a máscara dentro da casa, muito menos próximo ao bebê. “Aos amigos: não peçam para visitar. Façam uma vídeo chamada, enviem presentes já higienizados e de preferência que não sejam alimentos, que tem um potencial de contaminação maior devido a manipulação do preparo. O momento está crítico e a mulher e seu bebê vulneráveis, não apenas ao Covid-19, mas a viroses de toda sorte”, conclui.
Nota da jornalista
Durante o mês de abril, enquanto escrevia essa matéria, descobri que vou precisar muito de todas essas orientações. Agora também faço parte do grupo das gestantes. Eu, que já sou mãe de Benjamim, de quatro anos, estou esperando meu segundo bebê e posso dizer que a expectativa não diminui, mas chega de uma forma diferente e traz consigo uma certa serenidade até. Hoje meus medos e receios estão relacionados ao momento, à pandemia, e não à insegurança. Entendo que minha missão, enquanto mãe, é contribuir para a formação de seres iluminados, que saibam a importância de olhar para si e para o próximo, com muito amor.
No mais, é aproveitar toda a intensidade do amor que emana dessa relação, guardando na memória cada momento especial, como as primeiras palavras, primeiros passos, o beijo de ‘bom dia’ de todas as manhãs, os desenhos artísticos que decoram as paredes de todos os ambientes da casa e as conversas na cama, enquanto chega o sono, quando, carinhosamente me chama de ‘passarinha’ e diz que ama.
Feliz dia das Mães!