O uso de nebulizações químicas – o popular fumacê – e larvicidas no combate ao mosquito aedes aegypti foi criticado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Para a entidade, os tradicionais recursos de combate ao mosquito não são efetivos e não diminuem a infestação, podendo mesmo provocar danos à saúde das pessoas.
Em nota técnica, grupos temáticos da Abrasco verificam a “intensificação do controle vetorial do Aedes aegypti, dentro da mesma abordagem utilizada para a dengue e que, há cerca 40 anos, é realizada sem efetividade para os objetivos pretendidos”.
A Abrasco defende que, em vez do fumacê, o governo priorize o saneamento ambiental e o fornecimento de água. Para a entidade, os principais fatores responsáveis pela crise de saúde pública que o país vive são a degradação das condições de vida nas cidades, o saneamento básico inadequado – particularmente no que se refere à dificuldade de acesso contínuo a água – a coleta de lixo precária, o esgotamento sanitário e o descuido com a higiene de espaços públicos e particulares. Para chegar a essa conclusão, os grupos técnicos analisaram a distribuição espacial por local de moradia das mães dos recém-nascidos com microcefalia – ou suspeitos disso. A ocorrência é maior nas áreas mais pobres, com urbanização precária e com saneamento ambiental inadequado, com provimento de água de forma intermitente. Isso levaria as populações ao “armazenamento domiciliar inseguro de água, condição muito favorável para a reprodução do Aedes aegypti, constituindo-se em criadouros que não deveriam existir”.
De acordo com as autoridades de saúde, a eficácia do fumacê depende da observância de uma série de detalhes técnicos, como o horário da aplicação – pouco antes ou depois do nascer ou pôr do sol – a regulagem do equipamento, o controle de qualidade do spray, a velocidade do vento e capacitação técnica dos aplicadores, entre outros fatores.
Para a Abrasco, há um “lado invisível”, o dos danos ao ambiente e à saúde humana decorrentes do uso de produtos químicos no controle vetorial, que ainda não foi devidamente estudado. “Seus efeitos nocivos são totalmente desconsiderados tanto no agravamento das viroses, quanto no surgimento de outras patologias tais como alergias, imunotoxicidade, câncer, distúrbios hormonais, neurotoxicidade, dentre outras”, anota a entidade.