Geoparque no Ceará mistura dinossauros e templo religioso

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Turista pode aproveitar trilhas na chapada do Araripe enquanto conhece um pouco da pré-história brasileira
 
Os nove geossítios se espalham por seis municípios e englobam até o local onde está a estátua do padre Cícero
 
Estrada na Chapada do Araripe
 
Atravessar a Chapada do Araripe, na região cearense do Cariri, é ver com os próprios olhos o sertão virar mar. À medida que se avança pela formação rochosa, a poeira da estrada e as árvores amareladas da caatinga vão ficando para trás e dando lugar a uma mata verde e viva.
 
Nascentes, rios e até cachoeiras fazem a água brotar e impedem que a chapada fique seca, mesmo nas épocas mais áridas do ano. Se o sertanejo já se acostumou com a secura, os animais que viviam por ali há cerca de 100 milhões de anos nem imaginavam o futuro daquele pedaço de mundo. A região era literalmente um mar, onde nadaram tartarugas pré-históricas e parentes dos atuais crocodilos.
 
Hoje, esses e outros bichos antigos estão prensados nas rochas do Cariri, na forma de fósseis. A grande quantidade deles e o bom estado de conservação desses materiais são um dos motivos que fizeram da região o primeiro (e único até o momento) geoparque criado no Brasil.
 
O Geopark Araripe engloba seis municípios e conta com nove geossítios – entre a chapada e a parte baixa, chamada de Vale do Cariri.
 
Paredão da Chapada do Araripe, no Ceará
 
À primeira vista, pode parecer um papo chato para quem não gosta de dinossauros ou acha que as rochas antigas são só pedregulhos velhos. Mas pode ser um prato cheio para o turismo.
 
Um bom início de roteiro é o Museu de Paleontologia que fica na cidade de Santana do Cariri. Ali, é possível ver uma réplica em tamanho real de um Angaturama limai, um dinossauro nordestino que pode parecer um tiranossauro para quem não entende muito desses animais.
 
Nas paredes, fósseis de libélulas, peixes e pequenos animais disputam espaço. Além dos pterossauros – o Cariri é terra de 23 espécies desse bicho e do terceiro maior indivíduo já identificado no mundo, alguns tão preservados que apresentam músculos e vasos sanguíneos.
 
Antes do museu, que recebe cerca de 900 visitantes ao mês, moradores vendiam os fósseis ou os guardavam em casa, já que as pedras com peixinhos e outros desenhos gravados serviam de disputados objetos de decoração.
 
De lá, é possível ir ao geossítio Floresta Petrificada do Cariri, onde há troncos de árvores que viraram rochas. No Batateira, um minicânion conta com paredões cheios de fósseis de crustáceos.
 
Mas nem tudo é pré-história. A cerca de 7 km da cidade de Barbalha, no geossítio Riacho do Meio, quem não quer saber de dinossauro pode fazer trilhas pela mata e procurar um animal que, por enquanto, está bem vivo: o soldadinhodo- araripe, pássaro endêmico que está ameaçado de extinção.
 
“Os geossítios não estão relacionados apenas à geologia, mas também aos atrativos naturais e culturais do Cariri”, diz Marcelo Martins, diretor do Geopark. Os nove sítios têm entrada gratuita, mas recomenda-se ir com um guia.
 
Fóssil de libélula exposto no museu de Paleontologia, em Santana do Cariri, no Ceará
 
Até a Colina do Horto, em Juazeiro do Norte, onde está localizada a famosa estátua do padre Cícero, é considerado um geossítio – ali estão as rochas mais antigas encontradas, com cerca de 650 milhões de anos.
 
Acima dessas pedras, onde já zanzaram dinossauros, a estátua de 27 metros de altura de “padim Ciço” ouve as orações dos religiosos.

 

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