Isolamento social gera sensação de melhoria na qualidade ambiental

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Existe a máxima de que tudo na vida tem um lado ruim e um lado bom. Seguindo neste raciocínio, o lado bom do isolamento social, além do seu carácter preventivo, está na diminuição dos índices de poluição do planeta.
 
É o que apontam dois estudos publicados na revista acadêmica americana Geophysical Research Letters, que mostram que a poluição por dióxido de nitrogênio no norte da China, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos diminuiu em até 60% no começo deste ano se comparado ao mesmo período no ano passado. Em São Paulo, comumente vista com o céu cinza, dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), já apontavam para uma melhoria na qualidade do ar com apenas seis dia de isolamento social.
 
Na Itália, o que ganhou destaque na mídia internacional foram os canais de Veneza. Com fama de poluídos e mau cheirosos, após a pandemia já é possível registrar águas claras e até peixes.
 
Na região metropolitana de Salvador, com os decretos municipais e estaduais, determinando o fechamento do comércio, escolas e praias, bem como limitação no transporte intermunicipal, existe a sensação de uma melhor qualidade ambiental, mas o engenheiro sanitarista e diretor de Recursos Hídricos e Monitoramento Ambiental do Inema, Eduardo Topázio, ressalta que é prematuro fazer afirmações, visto que as atividades de aferição dos índices foram suspensas temporariamente.
 
“Neste momento não teremos dados concretos, visto que as equipes, os laboratórios, estão dedicados aos cuidados relacionados ao coronavírus. Mas existe sim uma sensação, sobretudo quanto a qualidade do ar, plenamente percebida no planeta. Sem dúvida, como grande parte da poluição atmosférica é resultado do número de automóveis nas ruas, quando você tem uma situação de isolamento social onde diminui o número de veículos circulando diariamente, consequentemente diminui também a poluição. A China, que é um dos maiores emissores de poluição, fez lockdown; a Europa também parou, e isso sem dúvida gera um resultado”.
 
Quanto ao recursos hídricos, Eduardo não é tão otimista. “Não acredito que tenha sofrido alterações positivas, já que o grande problema está na falta de saneamento básico e não tenho conhecimento de nenhum investimento neste sentido ou diminuição fisiológica das pessoas neste período de isolamento”.
 
Para Eduardo o grande desafio agora é construir uma consciência de humanidade na população, transformando as relações interpessoais e proporcionando que as melhorias sentidas quanto a qualidade ambiental perdurem após as pessoas voltarem às suas rotinas.
 
“Acredito que o grande ensinamento deste período de pandemia seja entender que qualquer vida humana importa, independe da idade, sexo, religião, qualquer vida tem valor. Qualquer coisa diferente disso é barbárie. Precisamos deixar de ser estatísticas e voltar a ser humanos. E essa nova relação precisa ser construída também em relação ao meio ambiente. Mas sou um pouco cético e acho que as pessoas não estão se preocupando com as questões ambientais”.
 
“Se pensarmos por exemplo na bacia do Ipitanga, que passa por Lauro de Freitas, percebemos essa falta de consciência, inclusive em bairros considerados mais nobres. Temos duas situações: a ocupação completamente desordenada do solo, que pressiona os aquíferos e o esgoto não tratado, despejado diretamente no corpo d’água, perceptível pela proliferação das baronesas. No período das chuvas, como estamos agora, a vazão dos rios leva as baronesas até a praia de Buraquinho. Talvez, as pessoas ficando em casa, em isolamento, convivendo mais intensamente com essas questões, algumas até de insalubridade, passem a cobrar mais as políticas públicas, sobretudo nas áreas de habitação e saneamento”, concluiu.

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