Lamento e tenho vergonha

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Lamento e tenho vergonha de meu país, pois seus políticos, escolhidos democraticamente pelo povo, portanto, por mim também, comportam-se de forma inadequada e em desacordo com a ética. Faltam ao povo e aos políticos a consciência sobre quais são os fundamentos de uma nação.
 
Lamento e sinto vergonha porque outros cidadãos, imitando-lhes o comportamento, justificando-se por causa deles, agem da mesma forma contaminando toda a sociedade da qual faço parte. Falta-lhes o exemplo de personalidades que sirvam de referencial ético, com valores forjados pelo trabalho, pelo empreendedorismo e pela excelência profissional.
 
Lamento e tenho vergonha pela violência que domina o dia a dia das pessoas que vivem com medo, transitando estressadas e fragilizadas, tornando sua vida social um espetáculo digno de um filme de terror. Faltam aos responsáveis pela violência civilidade, compaixão e obediência a autoridade, tanto quanto a paz interior.
 
Lamento e tenho vergonha pela fome que atinge pessoas na cidade em que vivo, que mendigam e anseiam pela misericórdia alheia, desejando que suas vidas magicamente se transformem e encontrem uma saudável felicidade. Faltam melhores condições de vida, empregos e habitação digna.
 
Lamento e tenho vergonha pela falta de escolas, que a educação seja um negócio e que permaneça em plano secundário, sem o protagonismo necessário para promover mudanças significativas na sociedade. Faltam políticas públicas que priorizem recursos para a educação básica e fundamental.
 
Lamento e tenho vergonha pela falta de recursos e pela desorganização na área da saúde, em que as pessoas sofram e sejam deixadas entregues às suas dores, ao descaso sem assistência médica, nutricional e psicológica. Falta aos governantes a inteligência necessária para que entendam a importância de uma boa e bem aplicada previdência.
 
Lamento e tenho vergonha pela falta de esgotamento sanitário que contribui para a proliferação de doenças, degradando a vida humana, sobretudo, nas comunidades menos favorecidas que vivem em habitações de risco. Falta aos governantes e políticos a humildade para que se ocupem do que não aparece nem dá voto.
 
Meu lamento e vergonha devem-se à dificuldade em reverter tais condições e por não vislumbrar em curto ou médio prazo uma mobilização social capaz de fazê-lo.
 
Não é agradável fazer parte de uma sociedade paralisada, estagnada e, por vezes, insensível aos graves problemas que a acometem. Tenho esperança de que meu lamento se junte a outros para que possamos aumentar a massa crítica daqueles que se esforçam, mais do que fazem a própria obrigação, para mudar nossa sociedade.
 
Espero também continuar, enquanto lamento, trabalhando em favor de uma sociedade mais justa, igualitária e feliz.
 
Sei que não estou sozinho.
 
ADENÁUER NOVAES é psicólogo, escritor, filósofo e engenheiro. adenauernovaes@gmail.com

 

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