Não há milagre

NÃO HÁ MILAGRE
O Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) de Lauro de Freitas permanece uma promessa não cumprida num ambiente em que o planejamento de obras públicas costuma ser exercício de ficção.
 
Bradar pela conclusão da obra dificilmente vai conduzir a resultados. Não é de pressão da opinião pública que o assunto precisa, embora seja legítimo espernear.
 
No caso do SES, consta que o governo rompeu contrato, anos atrás, com a empresa responsável porque a obra não andava no ritmo desejável. Que seja. Em geral, ocorre coisa diferente.
 
Empreiteiras aceitam contratos que sabem ser inexequíveis já planejando reivindicar aditivos que quase sempre são concedidos. O governante quer mais é entregar a obra. O problema aparece quando o dinheiro é curto ou simplesmente inexistente e os aditivos são negados.
 
Não havendo milagre que toque obras sem recursos, o canteiro para e o poder público rescinde contratos. Ato contínuo a questão é judicializada e lá se vão alguns anos. Encerrada a demanda, abre-se nova licitação, que pode muito bem ser mal calculada e não atrair interessados. Meses de espera se seguem até que mais uma licitação aconteça.
 
Quando ela finalmente ocorre é preciso ver se os governos realmente têm aquela verba para desembolsar. Não é porque está no orçamento que ela necessariamente existe. Se houver queda de receita, não há solução a não ser contingenciar a despesa e aguardar melhores dias. Não há milagre.
 
ESPETÁCULO CIRCENSE
Foi intensamente criticado nos veículos de imprensa de escala nacional o “espetáculo circense” da votação da admissibilidade do impeachment na Câmara, em abril.
 
Um sem número de deputados foi ao microfone dedicar o voto a Deus, à família, aos filhos este e aquele, à esposa, deixando de lado as razões para votar desta ou daquela maneira, como se de inspiração divina vivesse a nossa (laica) República.
 
A presença de deputados junto ao microfone, durante horas sob os holofotes da televisão em rede nacional também mereceu condenação em todo debate político de mesa de bar.
 
Em épocas de Copa do Mundo, os analistas dão lugar a técnicos de futebol. Os técnicos, contudo, não escolhem os convocados, não são responsáveis pelo time, muito menos pelo 7 a 1 da Alemanha ou pela campanha vexatória da era Dunga.
 
Já os analistas políticos de ocasião votaram e colocaram na Câmara cada um dos 513 deputados. Foram todos eleitos. O plantel do Congresso Nacional é nada menos que o retrato do eleitorado brasileiro, doa a quem doer. Lamentável.
 
A deputada Raquel Muniz (PSD-MG), traduziu com fidelidade um sem número de mandatos anacrônicos, ao dedicar seu voto a administração do marido, prefeito de Montes Claros (MG), declarando “que o Brasil tem jeito e que o prefeito Ruy Muniz mostra isso para todos nós com sua gestão”. No dia seguinte, o marido foi preso pela PF por falcatruas e desvios de verbas para a saúde e educação no seu município.
 
Que há de tudo por lá, do melhor ao pior, ficou transparente. Mas também há o pior do impensável, caso do cidadão que usou o microfone para enaltecer a memória de um notório torturador, a quem dedicou seu voto. Como todos os outros, ele também foi eleito.
 
A grande maioria dos parlamentares votou se reportando a família, mostrando claramente que eles estão lá apenas pelos seus interesses pessoais, não pelos do País. Uma realidade absolutamente vergonhosa.
 
Se aquilo foi um espetáculo circense, quem pagou o ingresso e continua garantindo a féria somos nós. Até quando?

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