Pandemia combina com empreendedorismo?

0
228

“Acho que temos que viver um dia de cada vez. Essa máxima nunca fez tanto sentido. Se você pensar muito no que pode acontecer daqui para frente, a ansiedade bate na sua porta e você não consegue enxergar as possibilidades que aparecem e se desespera. Temos que tentar manter a calma e nos conscientizar que essa é uma fase passageira, que de forma resiliente, podemos enxergar novas perspectivas para as nossas vidas e nossos negócios no meio de toda adversidade”.

Se você tem uma empresa, com certeza entende perfeitamente este sentimento da empreendedora Junia Franco. A pandemia do novo coronavírus chegou dando uma rasteira geral, dos pequenos aos grandes empresários; não teve ‘esse’ que não precisasse repensar o seu negócio, seja para aprender novas formas de se relacionar com os clientes, vendas online, delivery e drive-thru; seja para lidar com uma nova concorrência.

É o que aponta o Portal do Empreendedor. De abril até a metade de julho deste ano, 21.415 pessoas tornaram-se microempreendedores individuais (MEIs) na Bahia, um crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas é possível que este crescimento esteja associado à situação de desemprego no país, taxa de 12,2% no primeiro trimestre deste ano.

A consultora empresarial Mariana Lima, destaca que empreender por necessidade sempre foi uma característica do empreendedorismo no Brasil. “Nos últimos anos percebemos um crescimento do que chamamos de ‘empreendedores de oportunidade’, que são pessoas que gostam do desafio ou tem um propósito, e se dedicam no sentido de aperfeiçoar o que fazem. Mas não podemos esquecer que o povo brasileiro tem a característica de buscar sempre alternativas para complementar ou gerar renda para suas famílias, e neste momento de pandemia não seria diferente”, afirma.

DOCE QUE TE QUERO DOCE
Junia Franco (@juniabfranco), é nutricionista e tem uma empresa de confeitaria há cinco anos. Começou em 2020 fazendo planejamentos que englobavam inclusive uma linha diferente de doces e um ambiente para receber os clientes, tudo para levar a empresa à um novo patamar. Mas veio a pandemia, e seus bolos para casamento e outros eventos, carro chefe da empresa, foram sumindo à medida que crescia o isolamento social.

“Estávamos com a agenda quase fechada de casamentos até agosto. Então, entrei em um ciclo de desânimo e desespero muito grande quando me dei conta que teríamos que parar tudo da noite para o dia”, conta.

Mas não dava para continuar na inércia. Ela precisava agir, e rápido, caso contrário não teria como manter os funcionários e os custos do negócio. A inspiração veio do prazer de comer doces, uma pequena porção, o suficiente para garantir ‘aquela’ alegria do dia, sem culpa.

A ideia foi trazer novos sabores, aqueles do planejamento de 2020, para novos formatos, e já na Páscoa, a produção foi o dobro em relação ao mesmo período de 2019.

“Já estávamos pensando em uma linha diferente de doces desde o ano passado. Queria atingir públicos diferentes dos eventos. O cardápio mais compacto, que chamamos de ‘emcasa’, já era um projeto, mas ainda em desenvolvimento. Então repaginamos os nossos clássicos para que se adequassem ao novo formato, além de incluir novos sabores, com foco em sobremesas individuais e mini bolos, que os clientes pudessem desfrutar em suas casas”.

A mudança gerou medo. Junia não tinha certeza se os clientes, que antes encomendavam bolos para eventos, iriam abraçar a nova ideia. Mas após os três meses de recuperação, ela já pensa em tornar o novo formato em algo fixo da empresa. “Nossa intenção é criar uma linha de produtos diferenciados, com um valor mais acessível e que se adeque à nova realidade, além de novos formatos de bolos decorados e opções de doces para eventos de pequeno porte. Já o cardápio ‘emcasa’, que criamos no início da pandemia, se tornou fixo e estamos fazendo melhorias constantes nele, a cada semana testamos novos produtos e sua aceitabilidade pelos clientes”, conclui.

DO LIMÃO, UMA LIMONADA
Mariana Lima (@marianalimaconsultoria), é publicitária, especializada em pesquisa de mercado e mídias digitais. Atua como consultora empresarial há 15 anos e se surpreendeu com a grande procura nas primeiras semana da pandemia. “Logo que a pandemia começou teve uma procura muito grande, mas o cenário era incerto. Percebi que os empresários estavam angustiados, projetando situações para muito além do que de fato estamos vivendo hoje”, conta. 

A procura foi tão grande que em 24 horas Mariana fechou uma agenda de 20 consultorias gratuitas, de 1 hora cada, com pessoas de diferentes locais da Bahia.

Mesmo sabendo que estamos passando por um momento difícil, e que essa situação vai perdurar por algum tempo, a consultora reforça que sempre é uma boa oportunidade para aprender. Conceitos como inovação e experiência do consumidor, por exemplo, precisam mais do que nunca, estar claros na mente de empresários, seja daqueles que já possuem sua marca há anos, como também dos que decidiram começar agora.

DICAS:
INOVAÇÃO: Não só num momento de crise, mas em todo o momento, o pensamento de um empreendedor deve ser de inovação. As pessoas tem ideia errada de que inovação e tecnologia são a mesma coisa: não são. Inovar é fazer algo que você nunca fez ou fazer de forma diferente para ter um resultado melhor em qualidade, além de diminuir custo e tempo.

RESPONSABILIDADE SOCIAL: O maior desafio dos empresários, em qualquer período, é reduzir o custo fixo e aumentar o lucro. Mas o empresário tem que entender que ele tem uma responsabilidade social. Veja: se aumentar o número de demissões, estou provocando um desaquecimento da economia; diminui o poder aquisitivo da pessoas, diminui também o consumo. Estamos falando de um efeito casacata, onde todos saem perdedo.
 

BENCHMARKING: Tem algo chamado benchmarking, as boas práticas, que é olhar o que outras empresas estão fazendo, aqui e lá fora. Só que a maioria das empresas olham apenas para empresas do mesmo setor, e a grande sacada é adaptar estratégias de outros segmentos para o seu ramo atuação.
 

EXPERIÊ NCIA DO CONSUMIDOR: Quanto à experiência, a pandemia nos leva em dois sentidos. Um deles é o de implantar um modelo híbrido, com atendimento em loja física e ao mesmo tempo online e delivery. As pessoas estão se adaptando e muitas vão permanecer consumindo dessa forma. Por outro lado, estamos na iminência da reabertura completa do comércio, e as empresas devem ter um olhar muito criterioso no sentido de oferecer uma experiência incrível ao consumidor, que, mesmo com todas as outras possibilidades de consumo que ele vem experimentando nestes últimos meses, justifique o fato dele sair de casa”.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui