Visitar um geoparque é viajar à préhistória. Bilhões de anos se acomodam nas marcas que ficaram no solo, nas montanhas e nos monumentos esculpidos pelo tempo.
Nesses lugares podem ser encontrados desde formas estranhas e raras em rochas até fósseis de dinossauros e outros bichos pré-históricos.
Em 2004, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) criou a Rede Global de Geoparques (GGN, na sigla em inglês), que reúne áreas com sítios geológicos cientificamente relevantes, estruturadas para promover proteção, educação e desenvolvimento sustentável.
O Geopark Araripe, localizado no sul do Ceará e reconhecido pela Unesco em 2006, é o único representante brasileiro na rede.
Não se trata de uma unidade de conservação, nem é uma nova categoria de área protegida. Essa modalidade de parque oferece a possibilidade de associar a proteção do patrimônio geológico com o turismo e o desenvolvimento regional, explica Carlos Schobbenhaus, coordenador do Projeto Geoparques, iniciativa do CPRM (Serviço Geológico do Brasil).
Com a colaboração de pesquisadores de várias instituições, o CPRM já elaborou pelo menos 23 estudos completos sobre áreas onde futuros geoparques podem ser instalados no Brasil. Uma delas fica no Quadrilátero Ferrífero, no centro-sul de Minas Gerais.
Esses estudos, que contêm um levantamento científico minucioso das características geológicas e o potencial turístico das regiões escolhidas, são, no entanto, apenas o primeiro passo para o nascimento de um geoparque.
A criação de uma estrutura de gestão e outras ações complementares devem ser propostas por autoridades públicas, comunidades locais e iniciativa privada, em uma ação integrada, afirma Schobbenhaus.
Esse não é um conceito engessado, diz Paulo Boggiani, geólogo da USP e pesquisador de geoturismo. O geoparque pode ser privado ou estatal e pode ter um roteiro bastante diversificado.
A falta de infraestrutura para receber visitantes é a maior dificuldade dos locais pesquisados pelo CPRM, o que também impede o reconhecimento pela Unesco de novos geoparques no Brasil.
Segundo Boggiani, um sistema já utilizado no Geoparque Arouca, em Portugal, e que pode dar certo por aqui, é o de montar projetos para buscar recursos no setor privado. As empresas, a comunidade local e os turistas ganham, afirma.
Um dos impactos positivos do modelo, de acordo com Boggiani, está na geração de renda para a comunidade local por meio do turismo.
Para tal, diz ele, os aspectos geológicos nesses lugares devem estar articulados com outras atrações, como florestas e praias, para despertar o interesse dos visitantes.
Pouco explorado
O Ministério do Turismo afirma que já trabalha com o desenvolvimento de parques relacionados ao patrimônio natural do Brasil, por meio do ecoturismo, e que apoia iniciativas relacionadas aos geoparques.
O ministério diz também reconhecer que o geoturismo ainda é pouco explorado diante do potencial do país.
De acordo com Gilson Burigo Guimarães, geólogo da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), isso ocorre, em parte, porque somos mais sensíveis para apreciar a biodiversidade florestas, rios, etc. do que nossa herança geológica.
Isso pode causar certo desinteresse em visitar um sítio arqueológico, por exemplo. “Um dos objetivos do geoturismo é fazer a tradução do conhecimento científico para o público”, diz ele.
“Visitar um sítio desses amplia a capacidade de compreender nosso planeta, o que é uma ferramenta poderosa para conservar a nossa história”, afirma Guimarães.
A rocha que um turista vê em um geoparque deixa de ser uma simples pedra. Ele pode conhecer não somente a geologia do local, mas também valores como a biodiversidade e a cultura, completa Schobbenhaus.