A revista Planejamento, da Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia -SEPLANTEC, no seu volume 2, nº 3, de maio/junho 1974, em artigo intitulado “O problema de terrenos na Região Metropolitana de Salvador”, assinado por Pedro de Almeida Vasconcelos, técnico da própria secretaria, no trecho que aborda os preços e ofertas de terreno, informa que os valores mais altos foram encontrado em Itaparica e os mais baixos em Lauro de Freitas.
Foi mais ou menos esse o cenário que encontrei, quando aqui desembarquei, em fevereiro de 1981 e decidi me instalar definitivamente, a partir de março, aparelhado com uma copiadora da Xerox do Brasil, que viria a ser a primeira copiadora da cidade. Como a prefeitura não possuía máquina reprográfica, passamos a prestar este serviço ao poder público e também à comunidade.
Minha primeira visão da cidade, quando alcancei a praça principal, por volta de meio dia, juntamente com um dos meus dois sócios, foi a de bois e vacas atravessando calmamente a rua, em busca de capim.
A equipe administrativa se preparava para deixar a antiga Casa do Relógio (prédio ao lado da agência do Bradesco, onde hoje funciona uma repartição da prefeitura), espaço onde cabiam, incrivelmente, toda a estrutura da prefeitura.
No centro da praça eram dados os últimos retoques para a inauguração do Centro Administrativo, no dia 30, que já se aproximava.
Na descida, ao lado da prefeitura, em uma portinha, funcionava o Banco Real e no outro lado, a agência dos Correios. As únicas agências bancária e dos Correios.
Ainda na Praça da Matriz, a principal da cidade, a telefônica, com uma interminável fila que sempre se formava pelos que precisavam fazer uma ligação, e assim mesmo, intermediada pela telefonista.
Mais adiante, a Igreja Batista Lírio dos Vales, um dos pouquíssimos templos evangélicos existentes na cidade.
Ao indagar onde se poderia almoçar, fui informado que o único lugar era o Bar e Restaurante Amizade, que ficava na outra praça, mais na frente, quase em frente ao pé de Oiti, um marco de referência no centro.
Outros locais que tenho referência e que ficavam próximos ao restaurante, eram a Farmácia Nossa Senhora de Lourdes e o Mercadinho Compre e Lucre, os únicos estabelecimentos do gênero após Itapuã.
Para os moradores das poucas aglomerações urbanas mais relevantes, que se resumiam ao Centro e ao bairro de Portão, ou para quem viesse para esse lado, entrar e sair daqui era um grande problema. O único meio de transporte coletivo era da linha Itapuã/Portão, com seus velhos ônibus apelidados de ‘matracas’, que faziam realmente jus ao apelido, pois vinham lentamente, matracando, desviando da buraqueira e parando para atender aos passageiros que acenavam, muitos deles conhecidos dos motoristas.
Tempo depois foi colocada uma linha para o Terminal da França, no Comércio, em Salvador, e aqui, o fim de linha ficava na Praça da Matriz. Três ou quatro kombis, com as portas amarradas com arames, quase caindo aos pedaços, e superlotadas, levavam o povão para a praia nos domingos e feriados.
Toda cidade que se preza tem o seu “senadinho” e com Lauro de Freitas não era diferente. No Bar do Barbudo, quase em frente à prefeitura, empresários, políticos, “puxa sacos” e “bocas de espera”, se reuniam para saber das ‘últimas’, entre goles intermináveis de cerveja.
O prefeito, dr. Gerino, era assíduo frequentador dessas rodas de conversas. Foi justamente numa dessas rodadas que surgiu o Jornal do PGL, que foi o grande marco da imprensa escrita nesta cidade.
O grande programa à noite era ir até a lanchonete do Natanael, na Praça Martiniano Maia, comer um cachorro quente com Coca-Cola. Fora isso, diversão eram as rinhas de galo, dominós, babas e idas ao estádio, domingo à tarde ou aos campeonatos nos campos de Portão, Pitangueiras e outras comunidades.
A hoje portentosa Estrada do Coco e a antiga Estrada Velha de Portão ou Estrada das Pitangueiras, atual Avenida Luiz Tarquínio, não passavam de uma sucessão de chácaras, sítios e fazendas, na verdade ao longo de meras passagens para um também quase despovoado Litoral Norte, e quase nada lembram um passado recente que explodiu dando lugar à agitada Lauro de Freitas que hoje conhecemos, onde vivemos.
Gildasio Freitas é escritor, historiador, sócio efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.