O Projeto Tamar comemorou em 20 de fevereiro 35 anos de trabalho e 25 milhões de filhotes entregues ao mar. O dia foi marcado por solturas simultâneas de tartarugas em várias praias do
Brasil, incluindo Busca Vida e Arembepe, em Camaçari e Praia do Forte, em Mata de São João. Um simbólico “Filhote 25 Milhões” iniciou na data a sua longa jornada rumo ao mar.
No Centro de Visitantes do Tamar na Praia do Forte o cantor e compositor mineiro Milton Nascimento e o Dudu Lima Trio apresentaram o novo CD Tamarear, da Som Livre, produzido em homenagem aos 35 anos do Projeto. “O Tamar usa a música de diversas maneiras para aproximar cada vez mais as pessoas da conservação das tartarugas marinhas e assim sempre conta com muitos artistas para chamar ainda mais a atenção do público e fazer novos aliados”,
explica o coordenador nacional do Tamar Guy Marcovaldi. “O Milton é um desses nossos grandes amigos e inspiradores, faz parte da família há muito tempo, embalando nossos corações de estudantes desde o começo”, disse.
Com ele, o contrabaixista mineiro Dudu Lima (compositor, instrumentista e arranjador), destaque da música instrumental brasileira contemporânea, ao lado de Ricardo Itaborahy (piano, teclados, vocais) e Leandro Scio (bateria e percussão) “são fortes parceiros na proteção às tartarugas”.
O grupo deu uma pegada “mineirobrazilian-jazz” à obra, explorando as sonoridades das cordas, dos vibrantes tambores, das vozes profundas, dos dedos ligeiros, em “Nada Será como Antes”, “Clube da Esquina Nº2”, “Travessia”, “Gran Circo”, entre outros clássicos da carreira de Milton – e mais duas especiais em parceria com o guitarrista norte-americano Stanley Jordan. A releitura
comemorativa e músicas inéditas fizeram parte da apresentação no Tamar.
NOVA GERAÇÃO
Em 2015, como resultado do esforço de conservação no litoral, o Tamar comemorou a ocupação das praias brasileiras por uma nova geração de jovens fêmeas de tartarugas marinhas. Ficou assim cientificamente comprovado o início da recuperação dessas espécies no Brasil. “Em uma só noite, no auge do verão, o litoral brasileiro produz aproximadamente 25 mil filhotes de tartarugas
marinhas”, conta Marcovaldi – um número impossível de imaginar no início dos anos 80, antes do Projeto Tamar.
Dados de 2010 a 2015 indicam o crescimento de mais de 86% no número de filhotes nascidos em relação aos cinco anos anteriores. Apesar disso, estima-se que no último ano apenas 7.350 fêmeas estiveram em processo de reprodução. Para Marcovaldi, o número ainda é pequeno, mas
representa uma vitória porque no início do projeto as tartarugas marinhas eram poucas centenas na iminência de desaparecer.
Originado do Museu Oceanográfico de Rio Grande com apoio dos órgãos ambientais federais, o Projeto Tamar constatou a matança de fêmeas de tartarugas marinhas e o consumo de quase todos os ovos por pescadores até o começo dos anos de 1980 – o que praticamente interrompeu o ciclo de vida desses animais no Brasil.
Foi em 1981 que um grupo de oceanógrafos conseguiu viabilizar o nascimento de dois mil filhotes e, com o patrocínio da Petrobras, desde 1983 vem ampliando anualmente o número de tartarugas protegidas.
Por fatores naturais, apenas uma ou duas de cada mil tartarugas vão chegar à idade de procriação. Mesmo nascendo em segurança, é no mar que passam a maior parte da vida e onde enfrentam a maioria dos problemas, até que em 30 anos consigam atingir a idade adulta
para começar a reproduzir. Redes de pesca, anzóis, degradação de áreas de desova, a poluição dos oceanos, além das mudanças climáticas e a fotopoluição – a principal ameaça na praia Vilas
do Atlântico, que também é ponto de desova – são os principais inimigos das tartarugas e podem interromper a chance de recuperação das cinco espécies existentes no Brasil.
O Projeto Tamar trabalha na pesquisa, proteção e manejo de cinco espécies de tartarugas marinhas, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).
A instituição está presente em cerca de 1.100 quilômetros de praias em 25 localidades,
incluindo áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
Reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo, seu trabalho socioambiental, desenvolvido com as comunidades costeiras, é modelo para outros países.