Rios Urbanos X Cidades

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As fortes chuvas que caíram em Salvador, Lauro de Freitas e região metropolitana em maio, deixaram vias completamente alagadas e muitas famílias desabrigadas. Mas é injusto pensar que todo o transtorno foi gerado pelas chuvas e pelos rios.
 
O arquiteto e urbanista Saul Kaminsky (foto), 32 anos, destaca que com o crescimento demográfico e urbanístico acontecendo de forma desenfreada, governos e comunidades fecharam os olhos para questões, como a qualidade dos rios urbanos. “Do ponto de vista urbanístico, utilizamos os rios apenas como forma de escoamento de água das marginais. Se observarmos bem, vamos perceber que não existe uma área, uma ‘orla’, para esses rios. Eles estão margeados por vias públicas. E é importante destacar que os alagamentos não estão ligados diretamente aos rios. Se na pia da cozinha de casa, qualquer coisinha que passe já entope o cano, imagine quando as pessoas jogam sofás, restos de construção, materiais orgânicos e inorgânicos que estão obstruindo o fluxo do rio? Acho uma injustiça culpar os rios por alagamentos, com tantos malefícios que são provocados pelos seres humanos”, afirma.
 
Com uma linha de trabalho voltada para soluções sustentáveis para as cidades, Kaminsky destaca que a metodologia utilizada atualmente para os rios, a exemplo da canalização e do tamponamento, apesar de gerar resultados em curto prazo com baixo investimento, torna-se ineficaz com o tempo, gerando prejuízos para todo ecossistema. “Sou de uma geração que já não possui uma relação harmoniosa com os rios, para a grande maioria, a grande maioria mesmo, os rios que cortam Salvador e Lauro de Freitas são na verdade canais de esgoto a céu aberto. Precisamos repensar a relação entre as cidades e os rios urbanos, definir políticas públicas, e orientar a sociedade de forma a construímos uma relação com esses rios, utilizando como espaços públicos”, frisa.
 
Do ponto de vista das chuvas, a solução já existe, só não está disseminada como deveria. “Em Salvador, por exemplo, chove muito, um índice pluviométrico que se compara ao da Amazônia. E talvez por termos esse recurso em excesso, não sabemos como tratar. Em locais onde a água é mais escassa, a relação da comunidade com as chuvas é outra. É absurdo pensar que prédios, empresas em geral, não possuam um sistema de captação de águas de chuva, para reuso. Só lembramos da água quando ela falta”, conclui Kaminsky.
 
Projeção de um trecho de rio requalificado e usado como espaço público

 

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