São 470 anos da expulsão dos Tupinambás….

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..e do destino de Francisco Pereira Coutinho, o fundador que não foi
 
Os habitantes originais da região, relata o jornalista Eduardo Bueno na obra “Brasil, uma história – a incrível saga de um país”, teriam sido os tapuias, expulsos para o interior pelos tupis, que vieram da Amazônia por volta do ano 1000.
 
O primeiro europeu a chegar à terra que viria a ser São Salvador da Bahia foi o português Diogo Álvares Correia, um náufrago, por volta de 1510, na Baía de Todos os Santos. Na época, os donos da terra eram os tupinambás. Caramuru, nome que os habitantes da terra lhe deram, teria fundado Cachoeira, comunidade 18 anos mais antiga que Salvador – e facilitado o contato dos portugueses com os índios.
 
A estratégia não deu bom resultado. Francisco Pereira Coutinho, o primeiro “donatário” do rei português Dom João 3º, que recebeu uma capitania hereditária na terra dos tupinambás, ali pela ladeira da Barra, onde é hoje Salvador, foi corrido pelos índios, juntamente com Caramuru, indo refugiar-se em Porto Seguro, com Diogo Álvares,
 
O escritor Raymundo Faoro, na obra “Os Donos do Poder – Formação do Patronato Político Brasileiro”, cita Frei Vicente do Salvador, que registrou o trágico destino do primeiro colonizador destas terras. Chegado em 1535, Coutinho poderia ter sido o fundador da cidade, não fosse ele um homem rude, habituado a expandir os domínios portugueses na Índia à base de armas, mas sem sorte em Pindorama – a terra mítica dos tupi-guarani.
IMAGEM: Índio tupinambá com seu tacape, arma de guerra com que tratavam os inimigos no século 16
 
Os tupinambás, antropófagos, não deixavam barato as desfeitas que lhes faziam. Coutinho “esteve de paz alguns anos com os gentios [os índios] e começou dois engenhos”, conta Frei Vicente em História do Brasil – “levantando-se eles depois, lhos queimaram e lhe fizeram guerra por espaço de sete ou oito anos, de maneira que lhe foi forçado e aos que com ele estavam embarcarem-se em caravelões e acolherem-se à capitania dos Ilhéus”.
 
O fidalgo português foi depois convidado pelos próprios tupinambás a voltar à sua capitania, sempre acompanhado por Caramuru. “Se foram ter com eles, assentando pazes e pedindo-lhes que se tornassem, como logo fizeram com muita alegria”, registra Frei Vicente.
 
Porém, “levantando-se uma tormenta deram à costa dentro na baía na ilha Taparica”, chegando eles ao naufrágio. Ali os tupinambás mataram e degustaram a tripulação inteira, “exceto um Diogo Alvares, por alcunha posta pelos índios o Caramuru, porque lhe sabia falar a língua”. Consta ainda que Coutinho, devorado na ocasião, foi executado por uma borduna empunhada por uma criança, cujo irmão fora morto pelo donatário.
 
A falta de interlocução cultural – que condenou o primeiro donatário ao estômago dos tupinambás – não fez falta a Tomé de Souza, um militar português de fama ainda maior. Este chegaria cinco ou seis anos depois, em 29 de março de 1549, com uma frota de caravelas, um séquito para mais de mil portugueses, incluindo os primeiros jesuítas – e a missão explícita de fundar uma cidade. Começava ali a invasão de Pindorama.
 
A população tupinambá, estimada em 100 mil pessoas no século 16, é composta hoje por menos de cinco mil indivíduos. Eles vivem num território que ainda aguarda demarcação, por imperativo constitucional, no sul da Bahia, entre Una, Buerarema e Ilhéus.
 
Em vez do povoado que Coutinho e Caramuru queriam desenvolver a partir daqueles dois engenhos na capitania, surgiu uma cidade-fortaleza planejada, criada por decisão política do rei de Portugal, para ocupar o território. E foi então que os tupinambás começaram a ser expulsos. Faz agora 470 anos.
 
 

 

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