“Bahia perde uma referência a moldar gerações futuras”
Zenilton Meira / Arquivo AG. ATARDE
O ex-governador da Bahia, Antônio Lomanto Júnior, faleceu aos 90 anos, em 23 de novembro, no Hospital Português, em Salvador, devido a insuficiência em múltiplos órgãos, depois de ficar internado por 45 dias.
O corpo do ex-governador foi velado na terça-feira, 24, no Palácio da Aclamação, em Salvador, sendo trasladado para Jequié, sua terra natal, na quarta-feira, 25, onde permaneceu em velório até às 17 horas, quando foi sepultado no Cemitério São João Batista.
Lomanto Júnior foi um homem público que ocupou os mais variados cargos políticos pela escolha do povo da Bahia. De vereador do município de Jequié (1946) a senador da República (1979 a 1987), passando por diversos cargos eletivos (prefeito de Jequié em três mandatos, deputado estadual, deputado federal e governador da Bahia, com apenas 37 anos. Lomanto Júnior sempre foi um estadista, muito atuante, em todos os cargos, um ser humano extraordinário, humilde e de espírito conciliador, grande no físico e de coração. Costumava dizer: “sou político para servir, não para ser servido”. Jamais aceitou falcatruas e desonestidades.
Grande líder municipalista, enfrentava os poderosos com coragem cívica, buscando sempre o melhor para os municípios. Essa postura lhe valeu a presidência para a Associação Brasileira de Municípios (ABM), a partir de 1959.
Nasceu em 29 de novembro de 1924, em Jequié, filho de Antonio Lomanto e Almerinda Miranda Lomanto. Embora tenha se destacado como pecuarista, agricultor e político, graduou-se em odontologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia, em 1946, ano em que casou com Hildete de Britto Lomanto, gerando cinco filhos: Antonio Lomanto Netto, Leur Lomanto, Lílian Maria, Marcos Tadeu e Marco Antônio.
Integrando diversos partidos – Partido Liberal (PL), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Partido Democrático Social (PDS) – sua vida política foi extensa: vereador em Jequié (1947/1950); prefeito de Jequié (1951/1955, 1959/1963 e 1993/1997); deputado estadual (1955/1959); governador da Bahia (1963/1967); deputado federal (1971/1975 e 1975/1978) e senador da República (1979/1987).
Como governador foi responsável por importantes transformações na Bahia: mudança da matriz econômica do Estado, de agrícola para industrial, com a criação do Centro Industrial de Aratu; reconstrução do Teatro Castro Alves, após 8 anos destruído por um incêndio; construção da av. Contorno; integração dos municípios do Sul do Estado, Rodovia Eunápolis- Itamaraju, ligação com a BR 101; construção da Ponte Ilhéus-Pontal; eletrificação de todo o Estado, com a fusão do sistema de Paulo Afonso ao de Funil; construção da Rodovia Lomanto Júnior, ligando Feira de Santana a Juazeiro, beneficiando 36 municípios; instalação da Reforma Administrativa do Estado; instalação do sistema Joanes-Bolandeira; transformação do BANFEB em BANEB; construção do estádio de futebol Lomanto Júnior, em Vitória da Conquista; implantação do novo sistema telefônico no Estado; construção de diversos Antonio Lomanto Júnior “Bahia perde uma referência a moldar gerações futuras” colégios e escolas, dentre outras.
Quando deixou o governo da Bahia, foi aclamado e carregado pelo povo baiano, do Palácio Rio Branco até o Palácio da Aclamação, onde morava, enquanto governador e foi velado.
ROTARIANO EXEMPLAR
Rotariano devoto, Lomanto Júnior ingressou no Rotary Club de Jequié em 1947, com 23 anos de idade. Sete anos depois assumiu a presidência do clube, para o mandato de 1953/1954, providenciando a aquisição de um terreno para construção da primeira sede de Rotary fora dos Estados Unidos. Idealista e entusiasmado com a ideologia rotária, sempre deslumbrou a capacidade de servir ao próximo. Fazia questão de deixar claro sua condição de pertencer ao Rotary Club de Jequié. Recebia e hospedava companheiros e conterrâneos em sua residência, sendo notória sua disponibilidade em querer ajudar as pessoas, mas sempre consultando se estava envolvida em atos ilícitos. Empossado como Governador de Rotary, com apenas 30 anos de idade, para a gestão rotária 1954/1955, liderou o Distritão, abrangendo clubes da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Uma das tarefas de governador do Rotary, é visItar oficialmente todos os clubes do Distrito. Numa dessas visitas, a um clube do interior pernambucano, bastante castigado pela seca, após as tarefas oficiais, Lomanto disse para o prefeito e visitantes que aquela era uma visita especial, porque tinha pedido a Santo Antônio de Pádua, padroeiro de Jequié, que levasse chuva para o sertão de Pernambuco. A noite caiu uma tempestade na cidade e Lomanto ficou conhecido como o “manda chuva do Rotary”.
Na festividade do cinquentenário do Rotary Club Jequié, na 38ª Conferência Distrital, levou como palestrantes o vice-presidente da República e também rotariano Aureliano Chaves, Delfim Neto e o senador João Calmon.
Em artigo publicado na edição de 26 de novembro do jornal Tribuna da Bahia, o empresário, escritor e membro da Academia de Letras da Bahia, Joaci Goes, encerra sua homenagem ao “excepcional construtor de afetos, em todas as camadas sociais: “Para a viúva, d. Hildete, para os cinco filhos, dez netos e sete bisnetos, e para a legião de seus amigos e admiradores, Lomanto deixa um legado histórico e enobrecedor, ao partilhar com Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos de 1801 a 1808, a compreensão de que a arte de governar consiste, sobretudo, no dever de ser honesto”.