Casal decide viver sem roteiro num motorhome

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O casal Achiles Finardi e Margaret Menezes, ambos com 58 anos, resolveram mudar de vida. Puseram a casa à venda e compraram um motorhome onde pretendem passar a residir, literalmente vivendo na estrada.
 
Margaret conta que o projeto “viver sem roteiro” é coisa de 2006, mas só em fevereiro deste ano deram a partida. Foi depois de receberem a visita de um amigo que chegou num motorhome. “Falei para ele, o sonho é nosso e você comprou antes da gente” conta Margaret.
– “E por que você não compra o seu?
– “Porque não tenho dinheiro!”
– “ Vende a casa” disse ele.
 
E foi assim que os 490m² da casa, localizada num condomínio em Jacuípe, foram resumidos aos 12m² de um motorhome.
 
“Nunca tinha pensado na ideia de vender a casa”, confessa ela. O primeiro passo foi “fazer um desapego, manter apenas coisas que coubessem dentro de um motorhome”. Margaret também investiu a habilidade pessoal de artesã para a arrumação e decoração do veículo. Uma das ferramentas a bordo é a máquina e material de costura “porque eu não aguento o mesmo ambiente muito tempo, então a decoração do motorhome sempre vai mudar”.
 
De resto, ela resolveu priorizar o embarque de… ferramentas. “Abri mão de roupas e sapatos em prol das minhas ferramentas”, conta. Leva parafusadeira, serra tico-tico e uma micro-retificadora, entre várias outras peças. Adora mecânica e o foco agora é preparar o motorhome mecanicamente. “Já aprendi até a fazer ligação direta”, conta, orgulhosa.
 
 
Já Achiles é fã de cozinha. Se alguém encontrar o casal pelas estradas, “eu estarei embaixo do carro consertando algo e ele fazendo comida”, brinca ela. Durante as viagens, é ele quem deve dirigir enquanto ela cozinha na parte interna. Há outra cozinha fora do veículo.
 
Ela só pretende dirigir “em caso de extrema necessidade”. Até porque não pretendem fazer grandes trajetos num só período, mas apenas poucos quilômetros por dia. “Achiles não pode dirigir por muito tempo, tem que dar uma paradinha”, conta.
 
A MUDANÇA DE VIDA
Ambos passaram pela experiência do câncer – Margaret foi matéria de capa da edição 201 (outubro de 2015) da Vilas Magazine, quando contou sua “batalha” – e convivem com o tratamento, no caso dela e com as sequelas de quatro cirurgias, no caso dele. Isso “me ajudou a perceber o quanto vale a vida”, conta ele.
 
“Tive um câncer de mama e isto talvez tenha me ajudado a valorizar ainda mais a vida. Achiles também passou pela mesma coisa e juntos descobrimos que podemos viver de uma forma mais feliz”, resume.
 
O sonho de viver na estrada é antigo, mas a decisão é recente “justamente por conta disso”, continua Margaret. “Avaliamos que poderíamos ter morrido sem realizar esse sonho. Com o câncer, descobrimos como a gente valoriza coisas na vida que não servem para nada”.
 
Ambos estão ainda em tratamento. Ela com medicação ainda por dez anos e ele com o uso de uma meia especial. Não pode tomar sol nas pernas, não pode se ferir e precisa fazer exames com mais frequência, “mas isso é não é motivo para a gente não ser feliz”, defende ela – “estamos felizes e realizados em fazer esse projeto e tudo isso só nos impulsiona a viver de uma forma mais simples”.
 
PERFIL
Nascido em Araras, no interior de São Paulo, Achiles tem uma filha e um filho do primeiro casamento. Ele conheceu Margaret em 2001 pela internet. Espelhado no exemplo dela, “redescobri a importância de lutar pelo que quero e sonho”.
 
 
Ela é baiana, “determinada, otimista”, como consta no perfil que ambos divulgam – “amo tecnologia e vivo grudada no meu celular”. Margaret tem duas filhas e mais dois “por afinidade”, os filhos de Achiles – “e todos nos enchem de orgulho”, diz.
 
Viver na estrada envolve logística e planejamento, mas “vamos reduzir muito os custos fixos”, prevê Margaret. “Não dá para ir a shopping comprar coisas, não dá para estocar comida”. A vida torna-se mais simples. Mesmo assim, é preciso sustentar o dia-a-dia.
 
Eles mantêm um site (viversemroteiro. com.br) em que pedem apoio. Margaret vai lançar alguns produtos do projeto, como camisetas com temas de viagem e artigos para vender durante a viagem e online. Ela faz pulseiras artesanais que também vai vender. Além disso, “tenho uma parceria com uma grande empresa e tudo que vendo para eles ganho comissão” – explica. “Então, ao comprarem qualquer coisa as pessoas estarão ajudando o nosso projeto”.
 
O casal também está em busca de patrocínios de empresas, tanto para a viagem como para um projeto solidário que vão colocar em prática: “ensinar artesanato em comunidades carentes” ao longo do caminho.
 
LOGÍSTICA
A logística de viagem conta com a colaboração de “apoiadores”, como são chamadas as pessoas que gostam desse estilo de vida, mas por alguma razão não podem abandonar tudo para viver viajando. “Então eles apoiam as pessoas que vivem assim, oferecendo a casa como ponto de apoio”, revela Margaret.
 
Ela mantém um banco de dados de seguidores das redes sociais dela. “Você tem espaço para estacionar o motorhome, com ponto de luz e água para apoiar a nossa viagem?”, pergunta ela – “muita gente se inscreveu e vamos usar essa lista na viagem”. Há pessoas do Brasil inteiro.
 
Os postos de combustível 24 horas são outra opção de apoio. Diversos grupos na internet disponibilizam listas de locais seguros. Há também os campings, mas que o casal pretende evitar por uma questão de custos. Ligada na internet, ela conhece vários aplicativos que mostram tanto campings, como pontos de apoio com segurança.
 
BIBI
Margaret e Achiles vão viajar com Jujuba e Brad, uma poodle de 12 anos e um yorkshire de 10. Ela adora viajar. Já ele, nem tanto. “Não estou gostando dessa ideia de ficar viajando, mas se não tem jeito (porque são três contra um) vou ter que dar um jeito e me acostumar” – diria ele, segundo Margaret. Mas Jujuba gostou tanto do motorhome que passou a ser necessário tirá-la lá de dentro.
 
Eles foram buscar o veículo em outubro em Novo Hamburgo (RS) e dormiram logo a primeira noite dentro dele. Passaram três dias na fábrica, vendo como se monta um veículo destinado a ser autossuficiente.
 
Batizaram o motorhome de Bibi porque o casal chama um ao outro pelo apelido carinhoso de Bi. Ele tem 20 anos de uso, mas um motor a diesel, que dura muito mais. A base é de um Iveco que, de acordo com os mecânicos, dá menos problemas que os mais novos – e custou bem menos: R$ 120 mil. Tem sala, cozinha, banheiro e quarto, “tudo o que precisamos para viver por aí”, define Margaret.
 
O próximo passo é botar o pé na estrada.

 

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