As luzes dos palcos de Lauro de Freitas foram por muitos anos a maior paixão do diretor teatral, ator e produtor cultural Nivaldo Nery. Desde muito cedo a arte se confundiu com a história de sua vida e aos 44 anos de idade era considerado um dos maiores nomes da cultura do município. Duzinho, como era conhecido por toda a cidade, faleceu na manhã do dia 29 de dezembro, após lutar arduamente contra um linfoma.
Amparada por amigos e familiares que cercaram a residência onde Duzinho sempre viveu, para lhe prestar as últimas homenagens, dona Lindóia Nery lembrou emocionada do filho do meio, mostrando detalhes da casa como quadros, estatuetas e as inúmeras máscaras incas, maias e astecas trazidas por ele durante suas viagens ao redor do mundo. “Duzinho amou a vida e viveu intensamente”.
Em suas redes sociais, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, secretários e artistas lamentaram a perda. “A cena artística da nossa cidade está de luto. Com muita tristeza recebemos a notícia da partida de Duzinho. Manifesto aqui minha tristeza pela partida deste jovem que sai de cena de maneira precoce”.
Católico fervoroso e devoto de São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora Aparecida, desde cedo Duzinho revelou sua vocação para a arte. Volta e meia um poema novo era recitado, peças teatrais elaboradas na escola e rigorosamente ensaiadas, a participação em gincanas que atraiam centenas de pessoas no início dos anos 90 e a atuação constante no grupo de jovens da igreja, fizeram parte da rotina do ainda garoto Duzinho e deram a base à sua veia artística.
Inspirado pela fé cristã, começou a escrever a peça teatral A Paixão de Cristo, encenada todos os anos, em praça pública, durante os três dias da Semana Santa, com atores locais. “A peça é um marco por que, além de contar a história do mestre da humanidade, era interpretada por pessoas da comunidade, que se reconheciam na história de Cristo”, relata o historiador, Gildásio Freitas.
Além de sua atuação artística, Duzinho Nery foi subsecretário municipal de Cultura, de 2013 a 2016, criou o Festival Ipitanga de Teatro (FIT), que trouxe à cidade espetáculos de vários lugares do Brasil, e foi o mentor da Cia. Távola de Teatro. “Duzinho era alegria, era pura festa. Ele tinha o jeito dele, com opinião forte, mas ao mesmo tempo era uma pessoa muito carismática, atraindo as pessoas para perto dele”, falou o amigo de infância Djair de Deus. “Ele plantou uma árvore em frente à minha casa e por coincidência foi neste mesmo ano que nasci. A arte de Duzinho me inspirou e hoje estudo teatro também”, disse.
Conhecido em toda a cidade, Duzinho se consolidou como sinônimo do Carnaval, assumindo o posto de Rei Momo, em Salvador e em Lauro de Freitas. Essas experiências estão relatadas no livro “O Diário do Rei”, lançado dia 9 de dezembro, no Cine Teatro de Lauro de Freitas. “Ele brindou a vida, viveu intensamente e fechou as cortinas do palco com chaves de ouro como só uma majestade pode fazer”, declara o amigo Lucas Lins.
Duzinho Nery foi sepultado no Cemitério Bosque da Paz.