Coleta “seletiva” em Vilas do Atlântico cria ponto de descarte de lixo comum
O chamado Ponto de Entrega Voluntária (PEV) de resíduos recicláveis em Vilas do Atlântico transformou-se em mais um ponto de acúmulo de lixo doméstico comum, além de garrafas e até pequenos eletrodomésticos. Em vez de promover a educação ambiental, como era o propósito do então secretário municipal de Serviços Públicos, Renato Braz, os contentores coloridos criaram um lixão na margem do rio Sapato, em plena esquina da avenida Praia de Itapoan.
Apesar de ser recolhido pela prefeitura, o lixo é depositado ali todos os dias, ao longo do dia inteiro e atrai os catadores que, em busca de material efetivamente reciclável, ajudam a espalhar a sujeira pela calçada. Os recipientes são facilmente abertos por eles. Mas os moradores do bairro sequer se dão ao trabalho de depositar o lixo dentro dos containers, que têm uma abertura limitada – supostamente destinada a receber material pré-selecionado.
Paradoxalmente, os recipientes de coleta seletiva de Vilas do Atlântico hoje exibem um aviso de que “não é necessário separar os resíduos, os mesmos podem ser depositados em um único container, inclusive vidros”. Quando foram instalados, no início do ano, os containers tinham o símbolo da reciclagem e estavam destinados a materiais específicos: papel, plástico e metal. Faltava o de vidros, que existe no PEV do Miragem, instalado no ano passado.
A coleta seletiva foi tentada anteriormente em Vilas do Atlântico, por iniciativa da Sociedade de Amigos do Loteamento de Vilas do Atlântico (Salva). Muitos moradores deslocavam-se até os pontos de coleta especificamente para depositar o lixo previamente separado.
A ideia fracassou porque o recolhimento do material, que estava por conta de uma cooperativa de catadores, deixou de ser economicamente viável. Os recipientes acabaram se transformando em locais de acúmulo de lixo comum – como acontece agora novamente – e posteriormente removidos das calçadas.
Segundo a prefeitura, “todo material descartado no PEV” seria coletado pela secretaria de Serviços Públicos e destinado à Cooperativa dos Agentes Ecológicos de Lauro de Freitas (CAELF). Havia planos para instalar mais cinco pontos de coleta seletiva na cidade: em Buraquinho, Ipitanga, Vida Nova, Itinga e Centro.
Em outros pontos da cidade, a mesma secretaria de Serviços Públicos deu início, no mês passado, a uma “campanha de fiscalização e orientação de limpeza pública e meio ambiente”. De acordo com o diretor de Fiscalização, Igor Souza, a campanha vai “abraçar todo o município, percorrendo bairro a bairro, distribuindo panfletos e conversando com a população”.
“O objetivo inicial é educar, conversando com as pessoas a respeito dos resíduos que elas produzem”, diz. “A cidade sofre muito com resíduos e lixos nas ruas. As pessoas têm o hábito que fazer a limpeza de seus quintais e colocar os resíduos na rua. Tem também aquelas pessoas que constroem e jogam o entulho em qualquer lugar”, verifica. Igor Souza conta que há pessoas que já foram notificadas mais de duas vezes, mas continuam cometendo a infração. Por isso o trabalho educativo.
Canteiro de rua no Centro de Lauro de Freitas: lixo e entulho são deixados em qualquer espaço
A Lei n° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil, e a Lei municipal n° 1723 de 2017, que criou o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Lauro de Freitas, estabelecem notificações como primeiras medidas. Depois das notificações, a prefeitura promete multar os moradores que continuarem jogando resíduos e entulhos nas ruas.
A população pode denunciar o descarte irregular de resíduos pelo telefone 3379-6256 – promete a prefeitura. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h.
CICLO DA COLETA SELETIVA
Longe de ser uma atitude romântica de pessoas preocupadas com o meio ambiente, a coleta seletiva faz parte de um processo de gestão urbana que tem relevância econômica, cria empregos e reduz custos. Não basta distribuir containers coloridos pela cidade.
De acordo com o “Compromisso Empresarial para Reciclagem”, uma ONG, um diagnóstico inicial seria composto pelo estudo socioeconômico da população, da composição do lixo e de um panorama do mercado de materiais recicláveis.
Nessa etapa, são identificadas fontes de financiamento e ações de coleta seletiva já existentes envolvendo escolas, catadores e ONG, por exemplo. São avaliadas as tecnologias disponíveis e os impactos ambientais da implantação do projeto.
Depois, na etapa de planejamento, há a definição do modelo de coleta seletiva, abrangência geográfica e estratégia de educação e sensibilização da população, além de uma análise dos custos operacionais. Dimensionam-se mão de obra, veículos, contêineres e demais equipamentos. Compradores de sucata do entorno são mapeados e a possibilidade de parcerias locais e consórcios com municípios vizinhos avaliadas.
Na terceira etapa, a da implantação, é estabelecida a periodicidade da coleta, os dias da semana e número de viagens dos veículos. Aí então são Instalados os PEV, com apoio logístico, capacitação de cooperativas de catadores e construção de galpões de triagem.
Durante a operação do sistema, quarta etapa do ciclo, há a avaliação de indicadores de Desempenho, como o custo por tonelada coletada, quantidade recolhida por domicílio e por PEV, receita com a venda dos materiais recicláveis. Faz-se o monitoramento de preços, promovem-se ações de marketing para estímulo do mercado de reciclagem e a continuidade dos investimentos em informação e educação.
Por fim, na análise dos benefícios, faz-se a contabilidade de receitas ambientais: aumento da vida útil de aterros sanitários e benefícios da educação para a redução dos gastos com limpeza pública, por exemplo. As receitas econômicas também são calculadas: são os recursos gerados pela operação de novos negócios de reciclagem. E há ainda as receitas sociais, como a geração de empregos diretos e indiretos, a inclusão de trabalhadores que de outra forma não teriam uma fonte de renda – e promoção de cidadania.