Salvador está entre as cidades brasileiras mais vulneráveis aos efeitos da elevação do nível do mar em decorrência do aumento da temperatura global. A informação é do relatório especial Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas, que o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) divulgou no mês passado. Foram avaliados os cenários de mudanças climáticas para o Brasil e como as cidades litorâneas poderão ser impactadas pelo aquecimento global.
Além de Salvador, Rio de Janeiro, Santos, Fortaleza, Recife, e o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, apresentam riscos associados ao aumento do nível do mar. Apenas o Rio de Janeiro e Santos (SP) estão investindo em relação às mudanças do clima, no sentido de promover ações de adaptação.
O relatório recomenda que sejam realizadas novas avaliações de risco de desastres associados ao aumento na frequência de extremos de clima e do nível do mar nas cidades costeiras, sobretudo no Norte e Nordeste do país.
Segundo o comitê científico do Painel, esses estudos podem permitir a reavaliação dos riscos para os quais municípios e populações estão preparados. As cidades em zonas costeiras são mais vulneráveis às mudanças climáticas, em especial ao aumento do nível do mar, mas também a eventos como fortes chuvas, tempestades, inundações e erosão costeira, que causa destruição e impactos à infraestrutura desses municípios.
O relatório afirma que a maioria das cidades que adotaram políticas voltadas para o clima não conseguem monitorar as metas anunciadas. A infraestrutura de todas essas cidades costeiras é suscetível a impactos físicos, em razão das mudanças climáticas e seus efeitos.
O relatório especial apresentado em junho é o segundo documento sobre mudanças climáticas e cidades elaborado pelo organismo científico criado em 2009 pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e Meio Ambiente. O primeiro foi divulgado durante a Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 21), da Organização das Nações Unidas (ONU), no Marrocos, em 2016.
Os cenários mais pessimistas do relatório apontam que o nível do mar pode chegar a subir 40 centímetros até 2050, provocando perdas econômicas de até US$ 1,2 bilhão para as 22 maiores cidades costeiras latino-americanas. Não há mensuração dos custos econômicos provocados pelas mudanças climáticas apenas no Brasil.
De acordo com a presidente do comitê científico do PBMC, Suzana Kahn, professora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), “não há como evitar os danos, mas sim implantar soluções, no sentido de que possamos nos adaptar a uma nova realidade”.
Além do nível do mar, os eventos extremos de chuvas também são citados como causas dos problemas ambientais nas regiões costeiras, acarretando riscos de deslizamento de terras, enxurradas e enchentes.
Entre as recomendações de políticas públicas a adotar pela União, estados e municípios para atenuar os impactos está a construção de um “piscinão” na Praça da Bandeira, centro do Rio de Janeiro, que durante anos passou por inundações e alagamentos. Andrea Santos considerou que reservatório subterrâneo construído naquela área pode ser considerado uma medida de adaptação, já que, na prática, evitou novas enchentes.
Além de barreiras de proteção contra a elevação do nível do mar, o comitê científico recomendou que as cidades costeiras preservem seus ecossistemas: o mangue tem um papel fundamental ao conter o avanço da água salina.
LAURO DE FREITAS
Uma projeção da Climate Central,organização de pesquisa e jornalismo sem fins lucrativos que
oferece informação científica sobre a mudança climática no planeta, estimou que no futuro toda a avenida Praia de Copacabana, em Vilas do Atlântico, acabará debaixo de água. A praia estará onde hoje existe o rio Sapato.
O Centro Panamericano de Judô, em Ipitanga, vai sumir sob as águas em prazo incerto, embora provavelmente superior a cem anos, de acordo com a organização. Buraquinho deixará de existir. Onde hoje existe um bairro inteiro haverá uma nova baía marítima, com a foz do rio Joanes transferida para a ponte da Estrada do Coco – no cenário mais otimista, com a temperatura global subindo apenas 2 °C até 2100.
No pior cenário, com aumento de 4 °C em vez de 2 °C, a baía de Buraquinho será a porta de entrada de um grande estuário, transformando Lauro de Freitas numa península.
O objetivo das projeções da Climate Central é alertar o público e os responsáveis pela formulação de políticas climáticas e de produção de energia: o aumento de 2 °C corresponde, nesta análise, a um aumento de 4,7 metros no nível do mar. Um aquecimento de 4 °C, que acontecerá se nada for feito, corresponde a uma elevação de 8,9 metros.
Para a maioria das ilhas do planeta – e para a orla de Lauro de Freitas – bom mesmo seria limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Mesmo assim, o oceano subiria 2,9 m. As projeções levam em conta o aquecimento causado apenas por dióxido de carbono, um poluente ambiental de longo prazo.
Aconteça o que acontecer, de acordo com as projeções da Climate Central, a orla como a conhecemos, em algum momento, no futuro, vai deixar de existir.