Como começar 2024 de forma leve

0
1616
DEPOSITPHOTOS

Expectativa: situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento.

Uma explicação simples, de fato, mas quando saímos das linhas do dicionário, este substantivo feminino pode ter significados complexos e desafiadores.

Agora, por exemplo, estamos em um desses momentos de total expectativa. Enfim começou 2024, é hora de deixar para trás todos os problemas, todas as dores e decepções de 2023, e focar em tudo de positivo que o novo ano pode trazer. Mas o que será?

Algumas pessoas recorrem às previsões da numerologia, dos astros e dos ancestrais. Outras, definem suas próprias metas e fazem listas intermináveis de conquistas para o ano que se inicia.

Confesso que sou um misto das duas alternativas. Jornalista, leio de tudo um pouco e me interesso por diferentes assuntos. Filha de Oxum, sou do signo de peixes, com ascendente em câncer, e segundo a numerologia, estou no ano pessoal 6. Na minha lista de metas pessoais para 2024, que talvez jamais as alcance, estão itens como cuidar melhor da saúde, simplificar a vida e parar de trazer plantas para dentro de casa ou ir para a academia, sem falhar nenhum dia.

Mas sendo realista, não é a primeira vez que tento simplificar a vida, diminuir o ritmo, esquecer minha essência workaholic ou perder peso.

E eis que cheguei no ambiente complexo e desafiador da tal expectativa: e se, mais uma vez, eu não conseguir cumprir as metas?

adriana barauna terapeuta em lauro de freitas

Adriana Baraúna, especialista em microfisioterapia e minha terapeuta, por mais que eu não seja tão assídua como deveria, me disse que “o feito é melhor que o perfeito! Crie menos expectativas em relação às coisas. Faça uma lista menor. Simplificar é a grande sabedoria”. 

Será que a grande meta de 2024 é encontrar o equilíbrio entre as metas e as expectativas que geramos sobre elas?

Metas e listas

Ana Martha Lima, psicóloga clínica, acredita que o problema não está exatamente com as listas, mas sim como lidamos com elas. Nem sempre nossos planos saem como gostaríamos: muitas de nossas metas dependem das circunstâncias, de outras pessoas ou até mesmo da nossa condição emocional do momento.

“Quando conseguimos atingir nossas metas podemos sentir uma satisfação especial. O problema é quando não conseguimos. Se tratamos essas listas com inflexibilidade, ‘tem que ser assim’, pode ser que a frustração de não fazer venha acompanhada de um desnecessário sentimento de insuficiência. Para uma vida mais simples, mais importante do que conseguir atingir as metas é saber recalcular a rota quando percebermos que saímos do nosso caminho”, conta.

Professora de mindfulness há sete anos, Ana reforça que a busca por uma vida mais fluida pede por momentos de pausa e autocompaixão. De alguma forma, a vida contemporânea, as tecnologias e a urgência em inúmeras situações, nos levou para um estágio onde vivemos o dia a dia no piloto automático, passando pelos dias de forma superficial.

“Vivemos conectados a ferramentas que nos aceleram: mensagens rápidas, vídeos curtos. Nos perdemos nesse ritmo e esquecemos da humanidade que existe em nós. Não basta só comer, precisamos saborear. Não basta ter uma vida social ativa, é preciso se conectar e escutar verdadeiramente o outro. A prática de Mindfulness nos ajuda a desacelerar e pausar para perceber nossa vida acontecendo momento a momento, nos ajuda a retomar o interesse pela vida”, reforça.

Uma dica da especialista é partir do ponto de consciência da sua relação com o mundo, estabelecendo um novo olhar sobre questões, como alimentação, práticas de exercícios e geração de resíduos, por exemplo.

“Nosso corpo está intimamente relacionado com nossa mente e emoções. Se me alimento mal, meu corpo vai reagir. É importante entender que uma vulnerabilidade fisiológica pode interferir diretamente no humor e isso pode afetar a maneira como enfrento os problemas do cotidiano. Gosto muito do exemplo do sono. Precisamos dormir bem para regular nossos níveis de cortisol que está relacionado ao estresse, por exemplo. Se estamos em privação de sono, a chance de enfrentarmos os problemas com intolerância é maior”.

A profissional vai além: “Para viver bem, é preciso cuidar da saúde e do ambiente. Não vivemos tão isolados quanto parece. Somos apenas parte de um todo e ter isso sempre em mente é fundamental para que haja mais respeito entre nós e, assim, podermos inserir na convivência práticas de cuidado”.

Autoconhecimento

“Não adianta estabelecer uma meta muito alta, que eu não consiga manter”. Acredito, de verdade, que se eu escutasse mais Adriana, a minha terapeuta, eu sofreria menos!

Simplicidade: substantivo feminino que significa “ausência de complicação, qualidade do que é simples, do que não é composto”.

Entenda que o nível de dificuldade das metas vai depender de cada um. O autoconhecimento é uma busca constante, ainda mais num momento em que se fala tanto de saúde mental. Mas o autoconhecimento é apenas uma das ferramentas.

especialista em mindfullnes em salvador

Ana Martha complementa que existe uma distância grande entre o que precisamos e o que queremos, por exemplo. “O conceito de simples pode ser muito individual, mas certamente também implica outros tipos de conhecimento. Buscar desenvolver um repertório mais amplo, variado, pode ser fundamental na busca de ferramentas que ajudem a questionar a ordem desse mundo hiperconectado, intoxicado de informações e consumismo exacerbado. O autoconhecimento pode ser importante para nos encontrarmos na nossa real necessidade e assim poder fazer escolhas mais conscientes”.

Pensando em saúde mental e autoconhecimento, não podemos deixar de pensar nas redes sociais e todos os gatilhos que elas despertam. E o primeiro ponto é entender justamente o porque escolhemos acessar as redes sociais.

“O autoconhecimento é útil para investigar e descobrir o que pode despertar nosso interesse para além das redes. Isso demanda esforço, mas é necessário. Do contrário, nossa atenção vai ser involuntariamente capturada por aquilo que estiver sendo mais acessado e conteúdos impactantes se espalham rápido. Não temos controle sobre o algoritmo, mas temos controle sobre as escolhas que fazemos”, completa Ana Martha.

Acredito que você deve estar com a mesma dúvida que eu: qual o primeiro passo na direção de um ano mais descomplicado?

“Tenho uma dica muito simples, que é tentar fazer as tarefas do dia a dia com atenção, percebendo os movimentos, observando o que chama atenção, notando as sensações físicas. Essa é a base para uma prática de mindfulness: entrar em contato com o momento presente. A vida real acontece no simples. Se pararmos para observar, vamos ganhar tempo e saber muito sobre o que ela tem a nos oferecer aqui e agora”, concluiu Ana Martha.

DEPOSITPHOTOS

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui