Levantamento do Observatório Obstétrico Brasileiro aponta um aumento de 94% na razão de mortalidade materna no Brasil, entre 2019 e 2021, período da pandemia da Covid-19, passando de 55.31 a cada 100 mil nascidos vivos, para 107.53. Em países desenvolvidos, ela fica em torno de 10 por 100 mil nascidos vivos.
Somado às questões que historicamente mais causam óbitos em gestantes, como hipertensão e eclâmpsia, responsável por 23,4% dos 1.252 óbitos registrados preliminarmente em 2022 pela instituição, hemorragias (7,9%) e infecções (5,5%), está o novo coronavírus, que matou mais de 700 mil pessoas no país.
Estudo do Observatório Covid-19 Fiocruz, aponta que apenas em 2020, o Brasil registrou 549 mortes maternas pela doença. Além disso, que as chances de hospitalização de gestantes com diagnóstico de Covid-19 foram 337% maiores que os pacientes em geral com a doença.
“Mas, a questão vai muito além da infecção direta. Temos que considerar também os efeitos secundários do período pandêmico, como a redução de acesso aos serviços de saúde, que impactou negativamente na realização do pré-natal, e o medo de infecção em emergências, que retardou a busca por atendimento médico em alguns grupos de maior risco, como gestantes”, revela Soubhi Kahhale, coordenador científico de obstetrícia da Maternidade São Luiz Star e professor Associado Livre Docente da Faculdade de Medicina da USP.
O alerta aconteceu na semana em que foi celebrado o Dia Nacional de Luta pela Redução da Mortalidade Materna, em 28/5, data que destaca a importância dos cuidados no período pré-natal e no pós-parto para a saúde da mãe e do bebê. “Nesse cenário, o que temos visto em hospitais são gestantes que chegam com quadros graves de diversas doenças, como hipertensão, já em estágio avançado e muitas vezes irreversíveis”, destaca Soubhi, que tem mais de 50 anos de atuação na área.
Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta queda de 13% nas consultas de pré-natal no ano de 2020, em reação a 2019, de acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
O pré-natal é fundamental para detectar doenças pré-existentes e acompanhar o desenvolvimento do bebê, identificando precocemente alterações. A realização de consultas e exames periódicos auxilia a gestante a manter uma gravidez saudável, evitando ainda riscos de hemorragias graves e pré-eclâmpsia, doença caracterizada pela elevação da pressão arterial durante a gravidez e principal causa de morte materna no mundo. O especialista explica que algumas doenças possuem sintomas iniciais simples, como dor de cabeça ou inchaço nos membros. “Sem orientação médica adequada a gestante acaba optando por se automedicar, mascarando e agravando o quadro clínico por meses.