De um lado recordes no número de mortes, do outro festas e aglomerações… E assim completamos mais um mês de pandemia

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No esporte, a quebra de um recorde é um feito intensamente comemorado. O Brasil, por exemplo, possui dois recordes olímpicos: um com o nadador Cesar Cielo, 50m livres, com a marca de 21s30 nas Olimpíadas de Pequim, 2008, e o mais recente, com Thiago Braz, no salto com vara, ao atingir a marca de 6,03m nas Olimpíadas Rio 2016. Até o Big Brother Brasil tem um recorde para chamar de seu, registrado em 2020 no Guinness World Records: maior quantidade de votos do público recebidos por um programa de televisão no mundo, com 1.532.944.337 votos no site oficial do reality show.

Mas desde o início de 2021 temos presenciado uma série de recordes inglórios por conta da pandemia da Covid-19. Um dos mais recentes foi o número de 3.560 mortes em um único dia no Brasil, registrado em 26 de março, derrubando o número de 3.250 mortes registrado três dias antes. O total de vidas perdidas para a pandemia já supera 311 mil, valendo sempre lembrar que esses são os números oficiais, não sendo considerados os casos indiretos e as mortes sem diagnóstico.

Esse recorde colocou o Brasil em destaque em toda a mídia mundial, com o segundo maior número de mortes pela Covid-19 no planeta e só reforça a preocupação de organizações internacionais com o grave momento enfrentado pelo país. É que apesar de nos Estados Unidos o número total de mortes ser maior, 548 mil, as medidas restritivas e o empenho na vacinação, estão fazendo os números diários despencaram, ao contrário do Brasil, que segue em curva acelerada de crescimento, de novos casos e de mortes.

É importante destacar que durante todo o mês de março, os estados seguiram com as medidas restritivas adotadas desde fevereiro, inclusive com o endurecimento em algumas delas. Na Bahia, por exemplo, o toque de recolher noturno, que começou de 22h às 5h do dia seguinte, uma semana depois foi reajustado para 20h às 5h e por fim reduzido para 18h às 5h, com validade até 5 de abril.

Além disso, foi estabelecido também o fechamento do comércio não essencial, inclusive com a proibição da comercialização de bebidas alcoólicas aos finais de semana, proibição de acesso às praias de Salvador e do Litoral Norte. Também seguem suspensos eventos e atividades, em todo o estado, independentemente do número de participantes, bem como aulas em academias de dança e ginástica.

Temos total clareza que momentos como o vivido atualmente, com o comércio total ou parcialmente fechado, é desesperador, tanto para os empresários, que dependem das vendas para manter seus negócios, como para os funcionários de cada unidade que se perguntam até quando manterão os seus empregos, como para o cliente que precisa dos produtos ou serviços. Existe inclusive, o argumento defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, quando se declara contrário às ações como lockdown, que sustenta que as pessoas não vão morrer de Covid, mas sim, de fome.

Mas não dá para fechar os olhos para os exemplos vividos por países como Portugal, Reino Unido, Vietnã e Nova Zelândia, que após um ano inteiro de fortes restrições, reabrem as atividades econômicas, além das escolas, já visualizando uma reestruturação da economia. Este último, inclusive é considerado um dos países que melhor soube conduzir os impactos da pandemia, fechando o ano de 2020 com pouco mais de 2 mil casos e 26 mortes. A estratégia adotada pelo país, liderado por Jacinda Ardern, foi de um rigoroso sistema de rastreamento de casos que, quando confirmados, colocam cidades inteiras em curtos períodos de lockdown. Um ataque rápido e intenso antes que o foco se espalhe.

No discurso de Bolsonaro, para resistir ao lockdown, o presidente afirma ainda que “a fome também mata, a depressão tem causado muito suicídio no Brasil. Onde vamos parar?”. Mas uma extensa matéria publicada pela BBC News afirma que, apesar da expectativa no início da pandemia, do aumento de casos de doenças mentais em virtude do isolamento social, a tese não se confirma. Pesquisas estão sendo realizadas em todo o mundo, a exemplo da Universidade de Liverpool, na Inglaterra e do Centro Médico da Universidade de Amsterdã, na Holanda. Aqui no Brasil, um artigo será publicado nas próximas semanas, visto que já foi submetido aos editores de revistas científicas, com a análise realizada com os participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, conhecido pela sigla Elsa, onde não foram encontradas elevações significativas nos índices de doenças mentais provocadas pela pandemia.

Transformações do vírus
Essa discrepância, de opiniões e ações de autoridades governamentais, só faz aumentar a sensação de que estamos fazendo algo de muito errado. Sabemos que é uma doença nova, a ciência tem se empenhado para descobrir maneiras de combatê-la, mas parece que a cada nova medida adotada o vírus consegue evoluir, diria até que numa velocidade bem superior a um Pokémon.

Se no início a preocupação era o número de pessoas acometidas pela forma grave do vírus, com as novas cepas, entra no topo da lista de preocupações, a velocidade de transmissão. Se antes a necessidade de criar novos leitos de UTI estava relacionada com a quantidade de pessoas em estágio grave, agora está relacionado também ao tempo de permanência de cada paciente na UTI, que aumentou.

E se em algum momento foi propagado que a Covid-19 só atingiria os idosos, por completo essa informação de sua mente. Em janeiro deste ano, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, informou que a Covid-19 tirou a vida de 19 jovens de até 39 anos. Em fevereiro, este número mais que dobrou, registrando 42 óbitos, média que se percebe também em março, que até o dia 28 (data de fechamento editorial desta edição) já computava 108 jovens mortos por Covid-19.

Em número exatos, a pandemia tirou a vida de 169 jovens nos três primeiros meses deste ano. Durante 2020, foram 282 casos, de março a dezembro.

Lauro de Freitas aparece em quarto lugar no número de mortes: em 28 de março eram 150, número que representa 2,6% do total de 3.180 óbitos na Bahia. O número de casos confirmados na cidade já ultrapassa os 15 mil, e Itinga segue como o bairro com a maior quantidade de positivados. A imunização da população segue no ritmo em que a cidade recebe novas doses de vacina. Em 28 de março foram imunizados idosos com 67 anos ou mais, seguindo a ordem de prioridade estabelecida pelo governo federal. Pouco mais de 15.600 pessoas receberam a primeira dose no município, e outras 3.046 já receberam a segunda dose.

Mas a expectativa é que esse número aumente substancialmente. É que, naquela parte da história onde sabemos das boas notícias e vislumbramos uma luz no fim do túnel, está a aquisição de 9,7 milhões de doses da vacina russa Sputnik V, que será entregue ao estado de forma parcelada, com previsão das primeiras ampolas chegarem já neste mês, que segundo o governador Rui Costa, serão aplicadas de imediato.

Em que grupo você está?
Depois de um ano inteiro de aprendizado, a importância do uso de máscara, higienização das mãos, distanciamento social e tantas medidas restritivas impostas pelos governantes, por que os números de casos e mortes por Covid-19 só aumentam? É que talvez a falta de um discurso único, direcionado para a prevenção da doença e o cuidado com o próximo, tenha fatiado o país em diferentes grupos.

Uma parte, formada pelos profissionais de saúde, exaustos porém determinados em fazer tudo o que seja necessário para salvar vidas. Outro grupo é formado pelos cidadãos conscientes e temerários: não saem de casa para nada, não recebem visitas e aguardam ansiosos pela vacina, numa demonstração de cuidado próprio e com o outro. Tem ainda a geração ‘álcool em gel’, que já incorporou o uso de máscara como algo comum da rotina e não pode ver um dispenser de álcool 70% que já estica a mão. Num quarto grupo estão aqueles que se cuidam, na medida do possível, e saem de casa para trabalhar por não terem outra opção. Para o quinto grupo, ‘pequenas’ reuniões com família e amigos é algo totalmente aceitável e na primeira oportunidade já estão sem máscara.

Não podemos esquecer do sexto grupo, formado por pessoas que acreditam veementemente que tudo não passa de uma conspiração política da China e que na verdade o vírus nem existe, enfileirados com a grande massa do universo paralelo, onde o uso de máscara é dispensável e os ‘paredões’ são as fontes de energia que vão contagiar o mundo de alegria e apagar todos os problemas.

E você: em qual grupo se enquadra?

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