Desastre ambiental afeta praias e mangues em Lauro de Freitas

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A identificação de manchas de petróleo em área de mangue no estuário do rio Joanes, anunciada em meados de outubro, é mais um dos indicativos do desastre ambiental que está em curso na costa de todo o Nordeste. De acordo com a prefeitura de Lauro de Freitas, os vestígios foram encontrados nas proximidades da rua Ismar R. Prates e Alameda Violetas, já cerca de 1,5 Km rio acima.
FOTO: Mangue afetado por petróleo em Imbassaí: litoral norte tem maiores área de impacto
 
De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o óleo viaja principalmente abaixo da superfície da água, pelo que todo o percurso da foz do Joanes até o ponto em que foram identificadas as manchas pode estar já contaminado. O rio Sapato, que desagua na foz do Joanes, pode também ter sido afetado.
FOTO: Voluntária mostra pelota de petróleo recolhida na praia de Vilas do Atlântico
 
O esforço popular para limpar as praias, em cenas a que todo o país assiste desde o início de setembro, repetiu-se no mês passado em Vilas do Atlântico e Ipitanga, durante os mutirões organizados pela comunidade. A prefeitura de Lauro de Freitas também investe na remoção das pelotas de petróleo, com equipes dedicadas à função e orientando os voluntários na coleta de manchas.
FOTO: Vice-Governador João Leão se reúne com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, no Comando do 2º Distrito Naval
 
Banhistas também receberam informações do que fazer caso entrem em contato com o óleo, que é tóxico. A própria atividade de remoção das manchas precisa ser executada com equipamento de proteção individual. Tonéis para descarte dos resíduos foram instalados em alguns pontos das praias de Lauro de Freitas.
 
SEM FIM
O problema, contudo, não tem fim à vista. Mas se não há previsão para o fim do desastre, também não há garantia de que vá prosseguir. Durante audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, em 22 de outubro, o presidente do Ibama Eduardo Bim deixou claro que o governo não tem ideia do que virá.
 
“A origem dessa fonte de óleo é fundamental para o trabalho de emergência, porque não sabemos se está num ascendente ou numa descendente do óleo”, afirmou. As “manifestações de ‘tá acabando’ ou ‘está apenas começando’ não são fundadas em base técnica”, sublinhou.
 
Apesar do prognóstico incerto, até o fechamento desta edição da Vilas Magazine nenhuma barreira de contenção do petróleo havia sido instalada na foz do rio Joanes. O governo do Estado vem mantendo reuniões com representantes do governo federal em busca de soluções.
 
Para o secretário estadual do Meio do Ambiente, João Carlos Oliveira, além das ações de limpeza e retirada do produto nas praias, as atenções estão voltadas para a proteção dos estuários. “Queremos uma posição e uma resposta de como os nossos estuários e manguezais serão protegidos”, disse – “Estamos falando de uma região onde o turismo se configura como base econômica, com milhares de pessoas que dependem direta e indiretamente desse ambiente marinho, seja para alimentação ou para geração de renda”.
 
Oliveira garante que “continuaremos cobrando medidas efetivas para manter o óleo afastado destes locais” e conclui: “Não podemos nos ater apenas ao trabalho de limpeza das praias, é preciso mais.
 
De acordo com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que esteve em Salvador para tratar do assunto com o governo do Estado, a operação liderada pela Marinha está dividida em três pontos. “Temos a parte das investigações, para saber a origem desse desastre, a contenção do óleo, para evitar o avanço em outras áreas e a parte de controle de danos das praias afetadas”, explicou o ministro, garantindo que 15 navios da Marinha estão focados na operação, com a atuação de 1,5 mil homens.
 
As primeiras manchas de óleo foram vistas na Paraíba, no dia 30 de agosto. Em seguida o petróleo atingiu Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e demais estados da região Nordeste. O que mais preocupa os cientistas que estudam o problema é que os estados anteriormente atingidos continuam a receber cargas da poluição de forma imprevisível.
 
COBRANÇA
A média diária de óleo recolhido pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA) nas praias de Lauro de Freitas e do Litoral Norte, até o dia 23 de outubro era de três toneladas. Os trechos mais afetados, de acordo com o governo da Bahia, são Imbassaí, Porto de Sauípe, Subaúma e Conde, onde grupos de 85 bombeiros vêm trabalhando. O Inema e a Defesa Civil do Estado também estão atuando na limpeza das praias.
 
Em reunião com os prefeitos dos municípios atingidos, o governador Rui Costa destacou que “a grande preocupação do Estado e dos municípios é a falta de informações por parte das autoridades federais competentes”, lembrando que “a responsabilidade por águas oceânicas, tanto ambiental quanto a segurança, pertence ao governo federal”. Mas “até agora nem os municípios nem os estados têm qualquer informação sobre o que foi feito e o que está sendo feito para descobrir a forte primária do vazamento e qual a situação no mar”, cobrou o governador.
 
Rui Costa lembrou que “o óleo continua chegando diariamente” e por isso “reforçamos o pedido para que as autoridades federais tomem providências uem relação à descoberta do que está acontecendo ou, pelo menos, informem aos estados e municípios o que estão fazendo até agora”.
 
O Estado da Bahia aderiu a uma ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público da Bahia (MPBA) que solicita que o governo federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) adotem medidas efetivas de proteção do litoral baiano.
 
Voluntários posam para foto durante mutirão de limpeza na praia de Ipitanga
 
BARREIRAS INEFICAZES
Segundo o Ibama, as barreiras de contenção instaladas em parte do litoral do Nordeste brasileiro para tentar conter o avanço da mancha de óleo não são eficazes para este fim.
 
A consultora ambiental da Petrobras Margareth Bilhalva explicou, em audiência na Câmara dos Deputados, que as boias cedidas pela empresa não são adequadas para evitar que o produto continue se espalhando. As barreiras de contenção pertencentes à Petrobras foram adquiridas para uso em eventuais derramamentos de óleo da própria empresa.
 
“Importante frisar que esse óleo é muito diferente do que é produzido no país”, disse ela. “As nossas barreiras existem para proteção em caso de acidente com óleo nacional, que tem característica muito diversa deste que está sendo encontrado, que é muito pesado e não [viaja] sobre a superfície, mas sim sob a superfície”, afirmou Bilhalva – “O fato é que, muitas vezes, esse óleo pode passar por baixo das barreiras”.
 
“Sei que há uma certa ansiedade para uma estratégia, mas não dá para barrar esta expansão do óleo”, disse o presidente do Ibama na mesma ocasião. “Tecnicamente, as barreiras não são as recomendáveis para uso com este tipo de óleo”, corroborou. “Estamos usando barreiras? Usamos, mas não existe uma solução de embarreiramento massiva. Tecnicamente, esta solução não se sustenta”, afirmou.
Ele defendeu o monitoramento e a coleta do material já no litoral como o método mais efetivo para recolher toda a substância poluente. “Com o passar do tempo, ficou claro que a melhor maneira de lidar com uma mancha errática, não rastreável, e cujo comportamento é totalmente aleatório, é o monitoramento contínuo e tomar as medidas de prevenção que podemos adotar”, acrescentou.
 
As autoridades trabalham com três hipóteses para explicar como a mancha de petróleo cru chegou ao litoral brasileiro: o produto vazou quando era transferido de uma embarcação para outra, por algum motivo desconhecido, ou um navio que transportava o óleo naufragou sem deixar registros, levantando a possibilidade de se tratar de um “navio fantasma”, não registrado, que navega com o sinalizador desligado para não ser identificado. Também não está descartada a hipótese de um derramamento de óleo.
 
Segundo o governo, mais de 900 toneladas de material contaminado já tinham sido recolhidas ao longo do litoral nordestino até o dia 22 de outubro. Como um petroleiro pode transportar até 500 mil toneladas de petróleo, se ficar confirmada a hipótese de um naufrágio o litoral nordestino poderá receber petróleo por muito tempo ainda. Certezas, contudo, não há.

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