Nestes tempos de ajustes para uma economia estável, em que há, de fato, alguma “quebradeira”, aparece sempre uma teoria de plantão para explicar as razões do insucesso de tal ou qual empresa. E aí então, é fatal ouvirmos, vez por outra, a explicação serena e segura de que a causa dos males é o fato de o negócio ser familiar.
Bode expiatório de todas as mazelas da má administração, a empresa familiar é considerada ainda o grande pecado mortal da economia. Quanto destaque se dá na imprensa às disputas de poder entre os parentes, no controle de uma grande empresa! Já as dissensões entre sócios não parentes é encarada com imensa naturalidade, apesar de ocorrerem com muito mais frequência.
Uma tendência, até muito forte, na opinião geral, é a de que é necessário separar o controle do capital e a administração da empresa. Assim, embora a empresa continue pertencendo ao grupo familiar, a sua gestão, entretanto, seria entregue a um grupo de profissionais. Julga-se, com isso, resolver o “problema”.
E muita gente boa embarca nessa, como se todo “profissional” fosse bom gestor e todo “familiar” fosse um incompetente. Ora, meus amigos, o “profissional” bom gestor não poderia estar trabalhando numa empresa de sua própria família? E será que ali ele seria incompetente?
Então não vamos confundir as coisas. O problema não está no parentesco. O problema está sempre na competência. Não são os laços de sangue que comprometem, mas é a indisciplina, a falta de liderança, a ambição do poder, os sistemas paternalistas, o despreparo, a falta de sentimento de equipe, de uma correta delegação, enfim, erros graves de gestão que podem acontecer em qualquer tipo de empresa.
Mas, diga-se de passagem, a quase totalidade das micro, pequenas e médias empresas em todo o mundo, são de gestão familiar. E são elas que garantem a maior parte dos empregos, dos impostos e os mercados. São elas que seguram e estabilizam as economias.
E as grandes empresas? Nos Estados Unidos, que são o grande exemplo de economia capitalista estável e próspera, 48% das grandes empresas são familiares, com ou sem gestão de profissionais não parentes. A gigantesca Ford é um grande exemplo. Mas não somente lá, isso acontece. A Moet et Chandon também é do time das empresas familiares. E a Parmalat italiana. A Cargill, que já está na quarta geração de descendentes, a Sopas Campbell, e tantas outras. No Brasil não é diferente. Veja o Pão de Açúcar, o Grupo Itaú, as grandes construtoras, etc.
O que precisamos é de competência e produtividade, nos parentes e não parentes. E coragem para colocar fora da empresa os incompetentes e improdutivos, parentes ou não.
O que muita gente não está percebendo é que a globalização e os novos rumos da economia mundial estão levando à diminuição dos empregos, independentemente de crise ou não. Trata-se de uma tendência sem volta.
A cada dia mais ex-empregados passam a ser pequenos empresários. Entre nós cresce o número de novos empreendedores, start-ups, etc.. E esse fenômeno está criando um fortalecimento das empresas familiares em todo o mundo.
Ou seja, o que se dizia ser pecado está virando tendência! E a empresa familiar pode até dizer como um vitorioso esportista: “vocês vão ter de me engolir!”.
Raymundo Dantas é Escritor e palestrante, especializado em Marketing no Varejo, com Mestrado na Espanha. raymundo_dantas@uol.com.br