Entre na natureza neste mês do Meio Ambiente

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Com apenas 6% da sua área de mata atlântica ainda intacta,
 
Lauro de Freitas há muito tempo deixou de ser exemplo de paradigma ambiental. Todo o território do município esteve um dia coberto pelo bioma mais rico do país. Depois vieram as pessoas – e seus carros, seu asfalto, suas casas e o esgoto que elas produzem, mas não tratam.
 
A devastação quase absoluta da área de mata não foi a única consequência da ocupação urbana, que também produziu a poluição de todos os cursos d’água e das praias que sofrem os efeitos das descargas. Buraquinho, em especial, está permanente imprópria para banhos.
 
Reduzida a subúrbio da capital baiana, Santo Amaro de Ipitanga há décadas não sabe o que é a restinga: por cima dela se construiu Vilas do Atlântico, os condomínios de Ipitanga, do Miragem e de Buraquinho. O que sobrou de mangue, junto à foz do rio Joanes, está permanentemente ameaçado: já são apenas 15 hectares ou 0,15 Km².
 
Os dados são fruto de um trabalho conjunto da Fundação SOS Mata Atlântica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Arcplan – empresa especializada em geoprocessamento e outras três empresas reunido no “Aqui tem Mata?”, aplicativo para acesso do público em geral.
 
O objetivo do serviço é informar sobre a existência de remanescentes da Mata Atlântica. Os 6% que sobraram em Lauro de Freitas equivalem a 3,46 Km² – uma área similar à de Vilas do Atlântico. É pisoteando a memória da restinga que este mês se deve festejar, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado dia 5, a prosaica reabertura de um parque urbano que os mais românticos chamam de ecológico.
 
Menos idealista, a Organização das Nações Unidas (ONU), que desde 1974 destaca o 5 de junho com ações de conscientização, este ano propõe como tema a “conexão das pessoas à natureza”. A proposta é “entrar na natureza, apreciar sua beleza e sua importância e levar adiante o chamado para proteger a Terra que compartilhamos”.
 
O tema deste ano convida as pessoas a pensar sobre como somos parte da natureza e como intimamente dependemos dela. Para a ONU, a natureza “nos desafia a encontrar maneiras divertidas e emocionantes de experimentar e valorizar esse relacionamento vital”.
 
O chamado é dirigido também aos moradores de áreas urbanas, que são metade da população planetária. Afinal, mesmo que você se encontre em Lauro de Freitas, ainda é possível “entrar na natureza”.
 
 
Os nossos 6% de Mata Atlântica estão principalmente no Jambeiro, junto à represa do Joanes, na região onde o Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal (PDDM) prometeu destinar ao Parque Natural da Cachoeirinha. Não é aconselhável esperar pelo poder público, até porque esse remanescente era maior até poucos anos atrás – antes dos novos conjuntos habitacionais serem construídos.
 
O traçado da nova Via Metropolitana, que vai ligar a BA-099 à BA-526, também cobrou sua parte no remanescente de Mata Atlântica, tanto no Jambeiro como no Quingoma. Por isso, é melhor não deixar para depois e aceitar logo a proposta da ONU.
 
Conectar-se com a natureza é a ordem do dia e visitar parques naturais é a missão a cumprir. O Parque Natural da Cachoeirinha não saiu ainda do papel, mas também não vale passar meia hora sentado na arquibancada de pneus velhos que colocaram no “Parque Ecológico de Vilas do Atlântico”. A ideia é “entrar na natureza” e não avaliar a qualidade das passarelas de cimento em torno de canteiros recém-pintados.
 
 
A primeira dica da ONU para este Dia Mundial do Meio Ambiente é “criar seu próprio paraíso natural”. Você não precisa ter um jardim à sua volta para trazer vida ao seu ambiente e criar um paraíso de paz em casa. Há inúmeras plantas fáceis de cultivar dentro de casa para trazer o verde à cena. Ervas, como a hortelã, são simples de cuidar e adicionam uma pitada de frescura às refeições.
 
As caixas de janela, cestas suspensas e mesmo aqueles alimentadores de pássaros podem acrescentar uma explosão de cores e aromas e trazer borboletas e pássaros que vibram ao seu redor. Em suma: se você não pode sair, traga a natureza até você.
 
Exercite-se ao ar livre. A segunda dica é juntar-se a um grupo local de ciclistas que o leve para longe da cidade por um dia. Juntar-se a um clube de Tai Chi Chuan e praticar ao ar livre, de manhã cedo. Só isso já reconecta uma pessoa aos espaços verdes que podem ter sido esquecidos.
 
De acordo com a ONU, metade da população mundial vive a 60 Km do mar e 75% das grandes cidades estão no litoral. Em Lauro de Freitas a tarefa de chegar até a praia é bem simples. A terceira dica é entrar em contato com a água, mesmo que apenas visualmente – e lavar as tristezas.
 
 
Há uma espantosa variedade de árvores, plantas, pássaros e outros animais na cidade e muitas dessas espécies se adaptando à vida com os humanos de maneiras fascinantes. Aprenda a reconhecer a sua flora e fauna local, reserve alguns momentos de cada dia para olhar ao redor e ver o que você pode ver – você vai se descobrir rapidamente maravilhando com o mundo natural em torno de onde você vive. Essa é a quarta dica.
 
Há algo especial sobre as primeiras horas antes do amanhecer em uma cidade. O silêncio contrasta com o caos que virá assim que o dia começar. E os animais aproveitam ao máximo. Há criaturas que você não verá em plena luz do dia. A quinta dica é levantar-se cedo ou ficar acordado até tarde para embarcar em um “safari urbano noturno” e apreciar esse lado selvagem da cidade.
 
Para quem sabe o que está fazendo, a sexta dica é colher frutos comestíveis de árvores pela cidade. Raízes e folhas estão em todo lado ao nosso redor. É só não esquecer que há frutos, folhas e raízes que são venenosos.
 
 
Por fim, a ONU recomenda o voluntariado. Junte-se a uma organização de conservação ambiental. Quase todas as cidades têm pelo menos uma organização trabalhando em alguma coisa relacionada à natureza, seja limpando ambientes poluídos ou cuidando de animais abandonados ou feridos. Restaurar um espaço verde ou resgatar um pássaro com uma asa quebrada não vai apenas ajudar as plantas, animais e sua comunidade: isso vai fazer você se sentir muito melhor.
 
Por ações como a deste ano é que o Dia Mundial do Meio Ambiente se tornou uma plataforma global para aumentar a conscientização e agir sobre questões urgentes, desde a poluição marinha e o aquecimento global até o consumo sustentável e a criminalidade contra a vida selvagem.
 
Milhões de pessoas têm participado da campanha ao longo dos anos, ajudando a mudar os nossos hábitos de consumo, bem como as políticas ambientais nacionais e internacionais.
 
Na ausência do Parque Natural da Cachoeirinha, seria temerário embrenhar-se pelo remanescente de Mata Atlântica no Jambeiro, Quingoma ou no Barro Duro. Até porque o que não é propriedade privada está certamente na posse de alguém. Mas um passeio por via pública naquelas regiões não vai ofender ninguém.
 
Talvez até, quem sabe, dar uma olhada nas áreas do “Parque Ecológico de Vilas do Atlântico” em que ainda não assentaram um pedaço de cimento qualquer. Não é Mata Atlântica, fique avisado. Está mais para jardim botânico, com a salada de espécies que lá plantaram. Mas é o que temos.
 
Quando estiver lá, fotografe o que achar mais bacana – vale uma selfie com a natureza como pano de fundo – e publique numa rede social com a hashtag WorldEnvironmentDay ou WithNature. Envie aqui para a Vilas Magazine. Conte por que aquele lugar é especial para você.
 
Essa é outra das propostas da ONU para fazer deste Dia Mundial do Meio Ambiente algo mais do que belas palavras ao vento.

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