Com o fechamento das escolas, uma das medidas de isolamento social para combater o novo coronavírus, a Unesco estima que cerca de 1,5 bilhão de estudantes ficaram sem aulas presenciais em 160 países. Em Lauro de Freitas, as escolas municipais e particulares estão fechadas desde o dia 16 de março, por determinação de decreto municipal.
Não há nenhum precedente para isso na história da sociedade, mas as instituições, professores e estudantes precisaram se reinventar, de forma quase que instantânea, para minimizar os impactos, seja da educação infantil e fundamental, na construção do conhecimento de base, seja para o ensino médio, às vésperas de Enem e vestibular.

Em 2018, por exemplo, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep , revelou que foram ofertadas mais vagas para EAD, (7,1 milhões) do que em cursos presenciais (6,3 milhões).
Mas não podemos esquecer, que em se tratando de Brasil, o modo analógico ainda é uma realidade. Ainda segundo o Inep , cerca de 33,5% dos estudantes que tentaram vaga no curso superior, nos últimos cinco anos, por meio do Enem, não tem acesso à internet e a dispositivos, como computador ou celular, que permitam o aprendizado via EAD.

Em nota divulgada pela assessoria de comunicação, em 7 de abril, a Secretaria Municipal de Educação reforça que a Plataforma Red tem como objetivo dinamizar metodologias de ensino e que as atividades disponibilizadas durante o período de isolamento social não se referem ao conteúdo didático da grade curricular, acrescentando ainda que não está em discussão a implantação de educação à distância.
Com a possibilidade de uma nova prorrogação do decreto que mantém as escolas fechadas, a secretária afirma ainda não ser possível avaliar os impactos da pandemia para a educação. “As plataformas digitais são um complemento importante para a educação contemporânea, mas eu tenho um entendimento de que nada substitui o ensino presencial. Estamos chegando ao fim de um semestre, os impactos existem, o tamanho desse impacto e quais medidas adotar a partir de agora, só será possível dizer quando tudo isso passar”, concluiu Vânia.
UM PASSO À FRENTE
Apesar da pandemia apresentar um cenário completamente novo, algumas escolas estão aproveitando o momento para fortalecer um trabalho que já estava em desenvolvimento, de utilização das novas tecnologias de informação e comunicação. É o caso, por exemplo, do Colégio Apoio, pioneiro em Vilas do Atlântico.

Quanto ao prejuízo para este ano letivo, José Nilton acredita que as crianças da educação infantil precisarão de uma maior atenção quando as aulas retornarem. “Logo após o início da atual pandemia, as aulas passaram a ser remotas e já estamos concluindo as avaliações da primeira unidade letiva, o que é permitido por legislação especial do MEC. Cabe destacar que para as séries iniciais será necessário aulas presenciais, após a pandemia, para fortalecimento da socialização, a criança precisa aprender a conhecer a si mesma e também a conviver com as outras”, concluiu.
No Colégio Perfil, a estratégia também é de fortalecimento da educação a distância. “As aulas para o Fundamental 2 e o Ensino Médio acontecem regularmente, a partir das 7h20, com lista de presença, acompanhamento da coordenação, mesmo professor e carga horária, e o currículo especial já foi encaminhado para o Conselho Estadual de Educação. Tivemos um cuidado também de preparar conteúdos específicos sobre ética e honestidade, pensando no comprometimento com as aulas e avaliações, além de emitir um comunicado aos pais, pedindo um suporte no acompanhamento das aulas”, frisa Wilson Abdon, diretor da instituição.
No Colégio Perfil, os alunos do Ensino Médio recebem um chromebook no ato da matrícula. Já para os alunos do Fundamental 2, foi fornecido um computador para ser usado durante o isolamento, para aqueles que não possuíam o equipamento.
Há 21 anos no ramo da educação, Wilson Abdon acredita que a pandemia gere dois grandes movimentos, ambos relacionados ao uso das tecnologias. “Por um lado, vai existir uma maior valorização da cultura digital, algumas escolas já saíram na frente, incluindo na vida dos estudantes, que a partir de agora vão aprender a olhar para essas ferramentas de forma mais prática. Por outro lado, teremos uma relação inversa. Tenho dois filhos, um de 14 e minha menina de 7 anos, e a saudade dos amigos está muito grande. Já dá até para sentir falta daquele coleguinha mais chato, que só fala besteira. Então esse isolamento vai fazer essa geração perceber o valor do contato humano, de estar junto, do bate papo, um olhar no olho do outro”, conclui.

Sobre o isolamente, Raphaela entende que algumas crianças vão ficar com muita necessidade de convivência, e outros ainda mais introspectivos e isolados, mas é preciso acreditar que dias melhores virão. “Acreditamos que onde houver esperança, respeito, solidariedade e empatia, haverá amor e onde há o amor, as crianças aprenderão e sairão desse período de isolamento mais conscientes de seu papel para o mundo, sendo o agente transformador da próxima geração”, concluiu.
ENQUANTO ISSO, EM CASA…
Gustavo Cardoso é estudante do 6º ano do Fundamental 2 do Colégio Acadêmico, e assim como milhares de crianças, precisa cumprir a rotina de aulas virtuais. “As aulas acontecem na mesma agenda da escola, quando presencial, só que agora através de uma sala virtual. Todas as tardes Gustavo vai para o quarto, com o celular, para ficar mais isolado e se concentrar na aula”, conta a mãe, Rosane Sacramento.

“Quanto a escola, entendo que faltou uma orientação melhor para nós, pais, de como participar desse momento, potencializando o aprendizado. Antes tínhamos que acompanhar as atividades de casa, saber da rotina, ajudar a estudar para as avaliações. Agora precisamos estar presentes na aula”, concluiu.
Para Gustavo, tem sido difícil ficar tanto tempo em casa, tirar as dúvidas com os professores nas aulas virtuais, mas o pior é a falta dos amigos. “Sempre sentava com um amigo na hora da leitura, fazer trabalhos juntos, e conversar também com a turma. Sinto falta”.

O Grupo de Valorização da Educação é uma iniciativa de escolas de Salvador e Lauro de Freitas, com objetivo de ajudar, tanto as instituições como as famílias, a superar as adversidades da pandemia. Atualmente já são mais de 100 escolas, desde pequenas instituições que só tem educação infantil, até grandes grupos educacionais, de Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Feira de Santana e outras cidades do interior.
Wilson Abdon é membro do grupo e destaca que são debatidas questões como planilhas de custo, percentual de desconto que cada unidade pode fornecer aos pais, custos futuros para reposição de aulas e outras questões que serão necessárias, como agir no retorno das aulas, dentre outras.
“Nosso objetivo é que através da troca de experiências todos consigam sair dessa fase com o menor impacto possível. Sabemos que tem famílias que estão em melhores situação que outras, então reforçamos que quem puder, continue mantendo as mensalidades em dias. Temos um olhar cuidadoso, sobretudo para as escolas de educação infantil, pois temos o receio que algumas não consigam mais abrir as portas após a pandemia”, destaca.