Falta de estrutura e respeito ao meio ambiente preocupam pescadores de Buraquinho

A praia de Buraquinho, um dos cartões postais de Lauro de Freitas, além de muito frequentada por banhistas, também é o cenário que emoldura a vida de centenas de pescadores. Seja individualmente ou em grupos, cada barco que entra no mar carrega o sentimento de esperança do retorno com o sustento de suas famílias.

Fazendo um resgate histórico, a pescaria é uma das atividades mais antigas de que se tem conhecimento. Os primeiros relatos de pescadores distam cerca de 500 mil anos atrás. A pesca jamais deixou de ter sua relevância, mas com o passar do tempo foi modernizada, aprimorada, e hoje conta com leis e fiscalização para que seja respeitado o equilíbrio ambiental.

Em Buraquinho, apesar do grupo de pescadores ser organizado e contar com uma associação, a atividade passa por dificuldades, que envolve desde problemas ambientais à falta de investimentos e infraestrutura. O atual presidente da Associação de Pescadores de Buraquinho, Anderson Santana, conhecido como Pepi, ressalta que os problemas são antigos, mas foram agravados com todas as restrições impostas pela pandemia da Covid-19.

“A gente vem sofrendo bastante desde o vazamento de óleo no mar, em setembro de 2019. Nessa época, perdemos muito pescado, as vendas caíram a quase zero, além de não recebermos qualquer indenização pelo período. Quando a situação parecia que ia melhorar um pouco, as vendas começando a aquecer, veio a pandemia”, contou.

Durante muitos meses do ano passado, apesar das praias estarem abertas para pesca, não havia movimento de clientes para comprar o pescado. As praias estavam fechadas para banhistas. Além disso, praticamente não havia turistas na cidade. As tradicionais festas religiosas, como a de Yemanjá e a festa do padroeiro dos pescadores, São Francisco, duas boas oportunidades para a venda de peixes, também não aconteceram.

São várias maneiras como os pescadores exercem sua atividade: o mergulhador, o pescador de linha, o lagosteiro, o marisqueiro. A grande maioria faz parte da associação em Buraquinho. São apenas 150 associados que pagam mensalidade, pois muitos se encontram em dificuldades financeiras e outros, mais antigos, praticamente não exercem mais a atividade, e não contribuem financeiramente com a associação.

Esses fatores têm impedido que a associação atue para melhorar a estrutura e condições de trabalho dos associados. Pepi destaca, inclusive, que há algum tempo os pescadores estão preocupados com os riscos de estarem em alto mar por conta do estado de conservação dos barcos. “Nossos barcos estão precisando ser renovados há muito tempo. Corremos riscos todas as vezes que vamos ao mar. Todo lucro que temos com a venda dos peixes, estamos reservando para atender parte dessa demanda de nossos associados. Além disso, precisamos reformar a estrutura da associação, que se mantém aos trancos e barrancos e não temos dinheiro para todas essas demandas”.

Durante a pandemia, Pepi conta que os pescadores ficaram desassistidos, não sendo disponibilizado nenhum auxílio especificamente para a classe. Alguns pescadores conseguiram se cadastrar para receber o auxílio emergencial do governo e outros contaram com a doação de cestas básicas. “Eu assumi a associação com o propósito de unir mais nossos companheiros. Com a falta de ajuda, bate o desânimo, muitos se afastam, mas não podemos deixar a peteca cair. Temos que encontrar uma maneira para melhorar nossa estrutura aos poucos”.

A praia de Buraquinho, onde fica a associação de pescadores, é uma das praias mais frequentadas da cidade, e hoje, a maior quantidade dos pescados é vendida para a própria peixaria da associação, que revende para o público na praia. E essa dependência direta da praia reforça a preocupação dos pescadores com a preservação da faixa de areia e do mar.

Pepi comenta ainda que o desejo da associação é poder profissionalizar, de fato, a pesca, respeitando a natureza, mas para isso precisa de mais atenção do poder público, inclusive garantindo benefícios para o momento em que o pescador não puder estar no mar. “Alguns peixes, por exemplo, não podemos pescar quando estão no período de desova, mas não temos indenização para os pescadores que não podem gerar seu sustento nesse período”, desabafa.

“A praia de Buraquinho é o cartão postal da nossa cidade e precisa de mais cuidado. Não falo para melhorar apenas a estrutura dos pescadores. A poluição precisa acabar, pois além de matar os peixes, afasta os banhistas e compromete o turismo. Precisamos que a praia fique bem cuidada, limpa, sem lixo, para atrair mais pessoas a virem aqui”, concluiu.

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