À medida que a pandemia se agrava no país, arrastando a atividade econômica para um inédito abismo, amplia-se a verborragia sobre o limite a partir do qual o custo de combater o vírus se tornaria maior que os benefícios – como se houvesse vidas dispensáveis. Poucos, entretanto, aceitariam incluir os seus próprios pais ou avós na lista de vítimas. Diz-se poucos, em vez de ninguém, porque quem advoga a tese possivelmente venderia a própria mãe para manter o fluxo de caixa.
Em português claro, trata-se de defender que há mortes aceitáveis. Inaceitável, para essa gente, seria colocar o Estado a serviço das pessoas, sustentando quem precisa de sustento, ou investir pesadamente em meios e recursos para equipar o sistema público de saúde. O cinismo da fantasiosa meritocracia brasileira mostra fôlego, mas em breve vai precisar de um respirador mecânico.
Desta vez a ameaça chega ao populacho encomendada pelo “andar de cima”, pelos ricos, que foram atingidos primeiro. Muito antes do Sistema Único de Saúde dar o alarme, foram as catedrais da medicina privada e privilegiada em São Paulo os arautos do caos. Mesmo em Salvador, é nos bairros abastados da orla que o Coronavírus primeiro fez carreira.
Como mostraram os casos das empregadas domésticas – porque já não se usa “secretárias do lar” – no Rio de Janeiro e em Feira de Santana, o vírus facilmente alcançará os aglomerados subnormais das grandes cidades brasileiras, esgueirando-se pelas vielas e becos e penetrando barracos em que famílias inteiras partilham o mesmo cômodo.
Porque morreram cinco mil no trânsito no ano passado e ninguém parou as estradas, poderíamos aceitar outros tantos sem parar o país, argumentam os acéfalos. Todos, de preferência, nas favelas. Segue de boa saúde a insanidade que tomou o país de assalto no fim de 2018. Ainda há idiotas que pensam estar a salvo do pior, embarcando nas suas lanchas rumo a lugares remotos.
Pessoas decentes com o cérebro em funcionamento têm feito propostas realistas para apoiar não só as famílias, mas as pequenas empresas durante esta crise. Mas no atual estado de coisas só se ouvem barbaridades em Brasília.
“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta
e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Ser capaz de ficar alegre, e mais alegre
no meio da alegria.
E ainda mais alegre no meio a tristeza.
Todo caminho da gente é resvaloso,
mas também, cair não prejudica demais.
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta”.
Tenho esse trecho da obra Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, como um mantra encorajador que me tem ajudado a superar os tantos obstáculos enfrentado ao longo dos meus 73 anos de vida.
Mas esse, de agora, não tem precedentes. Pegou pesado.
O efeito devastador provocado pela pandemia do coronavirus e seu desdobramento danoso em todas as atividades pelas quais o ser humano mantém sua sobrevivência econômica e social, atingiu fortemente a espinha dorsal de sustentação da revista Vilas Magazine.
De repente, não mais que de repente, a falta de ar, um dos sintomas da contaminação do vírus, sufocou, quase de morte, as atividades da nossa editora, comprometendo seriamente a saúde da Vilas Magazine, por conta das restrições impostas pelo combate ao coronavírus, que obriga ao fechamento, mesmo que provisório, de significativa parcela de empresas anunciantes.
Os efeitos são desvastadores.
De repente, não mais que de repente, ficamos impedidos de honrar, como sempre, os compromissos para manter em atividade o veículo que consolidou forte parceria com a comunidade ao longo dos seus 21 anos de circulação ininterrupta.
Esta edição circula alicerçada pelo entusiasmo que nos embala a prosseguir, sem a certeza do amanhã sadio.
Mas vamos enfrentar as dificuldades, incentivados pelas mensagens tranquilizadoras de parceiros anunciantes, que nos asseguram retornar às páginas da revista tão logo as atividades voltem ao normal. Eles sabem, conhecem e confiam na eficiência da Vilas Magazine para alavancar os serviços e produtos de suas empresas.
Vamos trabalhar.