Medidas preventivas ao Covid-19 param Lauro de Freitas

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Barreiras físicas instaladas nos acessos à praia de Vilas do Atlântico e Ipitanga: espaços públicos interditados
 
Na crise de saúde pública que transformou a vida dos brasileiros da noite para o dia, há três consensos entre médicos e cientistas de todo o mundo que vale destacar: o primeiro é que a Covid-19, causada pelo novo coronavírus, não é um “resfriadinho”, mas uma pneumonia viral que deixa sequelas mesmo entre os que escapam com vida. Como ameaça à saúde pública, trata-se de uma pandemia de “proporções apocalípticas”, conforme definiu Antônio Guterres, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
O segundo consenso é que os mais jovens também são severamente afetados, inclusive necessitando de hospitalização. De acordo com dados do CDC, sigla em inglês do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, pessoas na faixa etária dos 20 aos 44 anos infectadas pelo novo coronavírus têm sido até mais hospitalizadas do que as de 45 a 64 anos, embora precisem menos de unidades de tratamento intensivo. Não é uma “doença de idosos”, apesar de afetar gravemente os mais velhos, como qualquer outra doença.
 
O terceiro consenso é que a pandemia vai passar. O custo humano e econômico dessa travessia depende do quanto as populações estejam dispostas a fazer sacrifícios pela coletividade, como isolar-se em casa pelo tempo que for necessário.
 
Entretanto, ainda este mês o sistema brasileiro de saúde, público e privado, entrará em colapso. A garantia é do próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Falando durante uma entrevista coletiva no dia 20 de março, em Brasília, o ministro fez questão de explicar o que queria dizer por “colapso” do sistema de saúde: “O que é um colapso? Você pode ter o dinheiro, o plano de saúde, uma ordem judicial, mas simplesmente não há sistema [de saúde] para você entrar”, afirmou.
 
O colapso do sistema, que atingirá tanto os usuários do SUS, como os que têm plano de saúde, indica que simplesmente não será possível tratar de todos os doentes que vão precisar de tratamento. De acordo com o ministério, poderá ser declarada quarentena quando o país atingir 80% da ocupação dos leitos de UTI disponíveis para o atendimento à doença. A ocupação é definida pelos gestores locais.
 
É com essa perspectiva que trabalham todos os gestores públicos do país desde o mês passado, quando a maioria finalmente se deu conta do que estava por vir – apesar de vários outros países terem passado pelo mesmo meses antes.
 
Grande parte dos prefeitos e governadores passaram à ação, em muitos casos substituindo-se ao governo federal que, até o fechamento desta edição, pouco havia feito para conter a disseminação do novo coronavírus no país. Ao contrário, autoridades em Brasília vêm menosprezando a gravidade da crise de saúde pública, preocupados antes com os seus efeitos econômicos e políticos – apesar do claro aviso do ministro da Saúde.
 
Já nas cidades e estados, medidas cada vez mais restritivas vêm sendo tomada quase todos os dias.
 
Lauro de Freitas não deixou de também impor medidas de contenção, inicialmente impondo, por exemplo, uma distância de dois metros entre mesas de restaurantes, mas depois fechando shoppings centers e outros centros comerciais, além de restaurantes e barracas de praia. Foi proibida também a circulação do comércio ambulante.
 
A ordem vale desde 21 de março, mas por apenas 15 dias – um prazo que possivelmente será renovado enquanto durara crise. De acordo com a prefeita Moema Gramacho, as restrições ao funcionamento de estabelecimentos comerciais ainda podem aumentar.
 
Cinco dias depois foram encerradas também as casas de espetáculos de qualquer natureza, boates, danceterias, salões de dança e similares, casas de festas e eventos, clínicas de estética e salões de beleza, bares, restaurantes, churrascarias, pizzarias, lanchonetes, foodtrucks e demais estabelecimentos do ramo. Lojas de todos os tipos e o “comércio em geral” também fecharam as portas, em princípio, até o dia nove de abril.
 
Os postos de combustível continuam abertos, mas as lojas de conveniência estão fechadas. As clínicas de saúde humana e veterinária também foram encerradas, à exceção das que operam de regime de urgência ou emergência. Continuam abertos os supermercados, mercadinhos voltados exclusivamente para a venda de alimentos e gêneros de primeira necessidade, além de farmácias, padarias, lojas de alimentação e medicamento animal e humano
 
A emissão sonora, tanto em logradouros públicos como em quaisquer estabelecimentos particulares ficou igualmente proibida, independente da gradação em decibéis.
 
Campos de futebol públicos e privados, quadras esportivas e praças públicas e privadas também estão fechados, proibidas quaisquer atividades esportivas coletivas em espaços e logradouros públicos ou privados “enquanto perdurar a situação de emergência em saúde de importância internacional, decorrente da Pandemia do Covid-19”.
 
Os alvarás de obras e reformas em geral em imóveis estão suspensos, também até 9 de abril, incluindo para as intervenções que já estavam em andamento. Mesmo as obras e intervenções em imóveis já habitados, residenciais e comerciais, que não precisam de licenciamento foram suspensas.
 
As novas medidas, ainda mais restritivas, levam em conta “a ampliação de medidas de prevenção e enfrentamento da pandemia decorrente do Coronavírus, pelo Governo do Estado da Bahia e pela Prefeitura Municipal de Salvador e suas consequências no dia a dia do município de Lauro de Freitas e de sua comunidade”, além da “necessidade de uma ação integrada entre todos os entes no sentido de uma ação efetiva e eficaz em toda a Região Metropolitana de Salvador”.
 
Escolas públicas e privadas já haviam sido fechadas e os espaços públicos interditados. Barreiras físicas foram instaladas nas alamedas de acesso à praia em Vilas do Atlântico, com vigilância ativa de equipes da prefeitura.
 
 
A “situação de emergência” decretada em Lauro de Freitas segue medida semelhante em muitos outros municípios e estados. O decreto foi o quarto publicado pela prefeitura para tentar conter a disseminação do vírus – e o colapso do sistema de saúde.
 
Em colapso é precisamente como se encontra a Itália, um país desenvolvido e com um sistema de saúde sofisticado, muito mais preparado que o brasileiro. Por lá, de acordo com despachos das agências de notícias, as equipes médicas são obrigadas a escolher quem deixarão morrer para poder salvar outros.
 
A Itália não tem leitos de UTI em quantidade suficiente para atender todos, como não terá o Brasil, públicos ou privados, de acordo com o ministro da Saúde. Entretanto, ninguém de fato sabe como se comportará a pandemia no Brasil.
 
Epidemiologistas são unânimes: tudo depende do sucesso que o país obtiver em conter a disseminação do vírus. Se menos pessoas adoecerem ao mesmo tempo o sistema de saúde ficará menos sobrecarregado – e menos pessoas morrerão por falta de atendimento médico.
 
Os especialistas concordam que não será possível impedir a contaminação generalizada da população. O governo da Alemanha, por exemplo, estima que 80% dos alemães serão contaminados, apesar do alto poder de resposta do sistema de saúde daquele país.
 
Até aqui, na ausência de uma vacina, a única estratégia eficaz é retardar ao máximo a disseminação do vírus. Para isso, além de ensinar as pessoas a lavar as mãos, autoridades de saúde em todo o mundo vêm insistindo no isolamento de todos os contaminados – já que é virtualmente impossível isolar 100% da população.
 
Testar o máximo de pessoas, com ou sem sintomas da Covid-19, é o que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS), instância das Nações Unidas. Na Coreia do Sul, por exemplo, foram instalados postos de testagem “drive thru” em que as pessoas nem precisam sair dos carros para saber depois se devem ou não ficar confinadas. 
 
Como os testes são caros e o país não se preparou para enfrentar a pandemia, o Brasil vem testando apenas os casos graves. Assim, ninguém de fato sabe quantos estão contaminados e a solução passa a ser o confinamento de todos.
 
A contenção está no foco das principais medidas que vêm sendo tomadas pelos governadores e prefeitos. Ao fechar escolas, comércio e serviços, paralisar os transportes, impor barreiras sanitárias nos aeroportos e nas estradas, o que as autoridades querem é que a população fique em casa.
 
Em outros países, como na Itália, Espanha e Portugal, a chamada quarentena já é obrigatória e há polícia na rua para garantir que as pessoas fiquem em casa.
 
No Brasil, parte da população aderiu por conta própria à orientação. Mas ainda há muita gente em circulação todos os dias. Em Salvador também foi necessário bloquear o acesso às praias para que as pessoas entendam que não devem formar aglomerações.
 
O Reino Unido prevê que as medidas de restrição para combate ao vírus vão durar um ano inteiro. E, para proteger os empregos, prepara-se para pagar os salários de todos os que não puderem trabalhar durante a crise.
 
ECONOMIA E ASSISTêNCIA
As sequelas econômicas desta crise de saúde pública já contratam uma recessão mundial que, no Brasil, pode ser a pior desde 1962. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por causa do encerramento forçado das atividades, a economia brasileira poderá encolher até 4,4% em 2020, ceifando cerca de cinco milhões de empregos. O Brasil tem hoje 10 milhões de desempregados.
 
Para Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos, uma das maiores corretoras de valores do país, o desemprego pode atingir até 40 milhões de brasileiros em decorrência da pandemia do coronavírus, multiplicando a crise por quatro. A previsão foi feita durante conferência de vídeo com outros empresários, em março.
 
Atendimento a moradores de rua: oferta de abrigo no ginásio de esportes do Aracuí
 
Nos Estados Unidos, a perspectiva é que o desemprego suba de 3% para 30%. De acordo com os diários brasileiros, a necessidade de criar um “Plano Marshall” para o Brasil foi sublinhada por vários empresários na conferência virtual.
 
A proposta faz referência ao Programa de Recuperação Europeia, mais conhecido como Plano Marshall, posto em prática pelos Estados Unidos para reconstruir países aliados na Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
 
Tão grave quanto a perda dos empregos é a imediata cessação de rendimentos de uma vasta porção da população que trabalha na informalidade e depende da circulação de pessoas nas cidades para ganhar o pão de cada dia.
 
Para amenizar o drama de milhares de famílias, Lauro de Freitas prevê instituir um “Bolsa Família Municipal” para atender exclusivamente os que vivem em extrema pobreza e que têm crianças e adolescentes em casa com R$ 200 mensais. De acordo com a proposta do vereador Antônio Rosalvo, presidente da Câmara Municipal, seriam beneficiadas as famílias que não recebem o Bolsa Família federal e que têm renda familiar per capita de até R$ 178.
 
Abaixo do limiar da extrema pobreza, a população em situação de rua vem sendo atendida por equipes da prefeitura de Lauro de Freitas, que tentam convencê-las a se abrigarem no ginásio de esportes do Aracuí. O objetivo é evitar a contaminação deste público pelo novo coronavírus. A ação foi iniciada em 21 de março.
 
No local, estruturado para servir de abrigo, estão sendo disponibilizados colchonetes, alimentação e conjuntos de higiene. De acordo com a prefeitura, “o número reduzido de pessoas encontradas nessa situação é resultado de ações já desenvolvidas pela gestão, como o Programa Bolsa Aluguel, que atende atualmente 56 pessoas que estavam em situação de rua”.
 
Idosos e pessoas com doenças crônicas, identificadas em cadastro realizado com usuários do Restaurante Popular e da Cozinha Comunitária de Itinga, estão recebendo cestas básicas suficientes para o sustento de uma pessoa por quinze dias. Famílias atendidas por outros serviços sociais e consideradas de alta vulnerabilidade também estão recebendo as cestas básicas. O Restaurante Popular e a Cozinha Comunitária de Itinga foram fechados para evitar aglomerações.
 
Já os serviços do programa Bolsa Aluguel estão funcionando em regime diferenciado. O atendimento ao público foi suspenso e os contratos que venceriam este mês serão renovados automaticamente, após contato, por telefone, com os beneficiários.

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