Nota fúnebre – Raimundo Carballo perde a luta para a Covid-19

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Nem sempre nossa vida toma o rumo que planejamos. Na maioria das vezes não acontece mesmo, e a diferença entre o sucesso e o fracasso está em saber lidar com todas as mudanças que acontecem no caminho ao longo da vida.

Raimundo Carballo Amoêdo nasceu em Aboal, pequeno lugarejo da Galícia, na Espanha. Nos idos de 1958, quando tinha 14 anos, veio para a Bahia com a promessa de estudar Direito e seguir carreira como advogado. Atravessou o Atlântico sozinho, de navio, para encontrar um tio que já morava na Bahia.

Desembarcou aqui às 6 horas do dia 13 de dezembro de 1959, data dedicada à Santa Luzia. O trabalho era numa padaria do tio, no bairro do Tororó , onde durante 14 anos foi carregador, balconista, gerente e tudo mais que aparecia. Não fazia por gosto, mas imposto pelo tio-patrão. Determinado, aprendeu a fazer pão, mas decidiu que se não fosse para ser dono do próprio negócio, não se interessava em permanecer com o tio. Saiu da empresa da mesma forma que entrou: sem nenhum dinheiro.

Com a parceria de outros sócios abriu uma empresa, mas com o passar dos anos percebeu que não era o que queria. Depois de 20 anos, vendeu sua parte fiado, para receber tempos depois, e mais uma vez, sem dinheiro, partiu para começar do zero.

Em 1993 abriu em sociedade com Benedito Santana a Bella Massa em Vilas do Atlântico. Mais tarde, o filho Eduardo ocupou o lugar do sócio, que preferiu se dedicar a outro empreendimento, em Salvador. A empresa se tornou essencialmente familiar, contando com a forte presença da esposa, Maria Lina, que desde 11 de maio de 1973 se tornou o norte na vida de Raimundo Carballo.

A paixão do ‘mestre’ Raimundo sempre se manteve altiva e contagiante. “Acordo todos os dias às 4h. Chego na padaria por volta das seis, e se precisar fico até às 22. Me arrisco a dizer que durante muito tempo fui o maior conhecedor de pães da Bahia. Hoje não mais, surgiram muitos outros profissionais”, confessou em depoimento para a Vilas Magazine, na celebração dos 25 anos da delicatessen, em 2019.

“Sorte não existe. A pessoa só cresce com trabalho, e trabalho bem feito; pois o mesmo trabalho, feito de forma errada, só desgasta a pessoa. Espero passar mais 75 anos cuidando da padaria”.

Não conseguiu. Raimundo Carballo perdeu a batalha para o coronavírus em 25 de março, deixando um legado de honradez que orgulha sua família e enobrece os privilegiados que tiveram a sorte de privar de sua amizade.
 

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