O Sariguê de Areia Branca

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“Eu conto um tanto de nossa história que antecede a minha geração.
Que minha mãe me contou. Filha de Ogum com Iansã. Meu pai se alegrou ao me contar. E sorriu!
E meus pretos e pretas velhas, que guardam na memória, que também me contaram, que viajaram no tempo, fora do tempo, para salvaguardar aquele que na luta pela liberdade se escondeu numa roupa feita com palhas de bananeira seca, pedaços de pano e um grande chapéu de palha, para que ninguém descobrisse a sua verdadeira identidade: Sariguê, manifestação cultural que atravessa mais de um século.
E lá vem ele, no distrito de Areia Branca, comunidade remanescente do Quilombo Quingoma.
O lugar era cercado por muitas palmeiras e muita areia branca.
Este lugar carrega a cultura de um povo que veio de grandes reinos, que viviam em liberdade, mas foram sequestrados e escravizados. Mas sobrevive e resiste.
Porque Sariguê é resistência.
Sariguê bate de porta em porta, ele entra, ele rodopia, ele samba, ele pede dinheiro.
Sariguê dança sua dor, mas também dança sua alegria.
Sariguê dança sua liberdade.”


O texto da pesquisadora e educadora quilombola Gildete Melo, traduz um pouco da manifestação cultural Sariguê, que há mais de um século resiste, assim como as delícias feitas pelas beijuzeiras e toda a alegria do samba de roda, pela força da comunidade de Areia Branca.

Em dezembro de 2020, o Projeto Grão de Areia – Beijuzeiras de Areia Branca, foi um dos contemplados pelo Edital Municipal de Propostas Artísticas e Culturais, auxílio emergencial da Lei Aldir Blanc, e preparou um conteúdo audiovisual, entregue à secretaria de Cultura, contando a história da tradição do Sariguê.

As filmagens foram realizadas em fevereiro, em quintais e ruas do bairro de Areia Branca, envolvendo o menor número de pessoas possível e respeitando todos os protocolos de segurança necessários, por conta da Covid-19.

“Foi muito importante participar do edital, sobretudo por produzirmos este vídeo, que é um documento, um registro da nossa cultura, que para além da história oral, que eu ouvi dos meus mais velhos, agora fica disponível para conhecimento de todos e perpetuação da nossa tradição”, declara Gildete.

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