Cailana Bauer, é uma jovem de 22 anos que gosta de sair com amigos, de brincar com os irmãos, apaixonada pelos palcos, com sonhos para o futuro, e síndrome de Down. Em fevereiro de 2016, com ajuda da família, criou o seu canal na rede social Youtube se tornando a primeira youtuber brasileira especial, e, em menos de um ano, já conquistou mais de 100 mil seguidores.
A síndrome de Down, ou trissomia do 21, é uma condição geneticamente determinada, onde, ao invés da pessoa nascer com dois cromossomos 21, ela nasce com três. Essa condição costuma causar atraso intelectual e problemas de visão, audição e tônus muscular, mas a estimulação e tratamento precoce podem ser determinantes no desenvolvimento e aprendizagem. Trata-se da alteração de cromossomas mais comum em humanos e a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down estima que existam cerca de 270 mil pessoas no país com a síndrome.
Nos seus vídeos, Cacai mistura informação e bom humor, conta um pouco de sua rotina, dá conselhos e se diverte muito através das paródias. “O vídeo que mais gostei de fazer é ‘O Rico versus Pobre’, porque faço o Cailano, um personagem de homem”, diz Cacai.
Para a produção dos vídeos, o pai Dalmo Lemos ajuda no roteiro, diagramação e já fez inclusive participações especiais; a irmã Luiza Victoria, 17, ajuda com a produção e edição, além de cantar as paródias; o irmão Caio Johanes, 14, participa das gravações. A mãe, Janaina Prata Bauer Lemos, supervisiona tudo: acompanha as gravações, que por vezes consomem o dia inteiro, e faz a maior parte das edições dos vídeos. “Cailana é muito espontânea e super sincera, o que pode ser percebido nos vídeos dela. Apesar de entregarmos um roteiro a interpretação fica a cargo de Cacai e revela muito de sua personalidade”, revela Janaina.
“Sempre fomos muito unidos. Quando temos que tomar uma decisão importante fazemos uma reunião, para que todos saibam o que está acontecendo e colaborem com opiniões. Com o canal de Cacai não foi diferente: todos se envolveram naturalmente e cada um tem sua função”, completa Dalmo.
Cacai já concluiu o ensino fundamental II e a família está em busca de bolsas de estudo para a inserção dela no ensino médio. “Gostaríamos muito de matricular nossa filha em uma escola regular particular que faça uma integração adequada no ensino médio, para que ela possa continuar seus estudos e realizar seu grande sonho: fazer artes cênicas na faculdade e se tornar uma atriz”, revela Janaina. Segundo a ONG Movimento Down, ao menos, 34 jovens com síndrome de Down estão fazendo ou fizeram faculdade nos últimos anos no país.
O vídeo que mais gostei de fazer é ‘O Rico versus Pobre’, porque faço personagem de homem. O nome dele é Cailano”.
Mas a relação de Cacai com os palcos não começou agora. Moradora de Lauro de Freitas, ela já fez um curso de teatro, através do projeto local ‘Criando Asas’, que ressalta a importância das pessoas com deficiência através das artes, e no espetáculo “Meu mundo invisível”, apresentado em Lauro de Freitas e Salvador, foi escolhida para ser protagonista da peça. O espetáculo fala sobre uma pessoa com síndrome de Down que se sente rejeitada na escola e decide ficar na cama para sempre, como a Bela Adormecida. Mas sua mãe e o diretor mostram seu real valor.
“Entendo que o grande valor do canal de Cacai está na união de duas coisas fundamentais: realizar o sonho dela, de ser atriz, mas também de ajudar outros pais e mães de pessoas com deficiência.
Somos muito procurados por pais que também tem filhos com síndrome de Down, muitos deles com crianças recém nascidas, passando pelas mesmas angústias que enfrentamos quando Cacai nasceu e ficamos muito contentes quando conseguimos ajudar, trocando experiências positivas”, afirma Dalmo.
Através dos comentários nas redes sociais, familiares de pessoas com síndrome de Down relatam que os vídeos de Cacai mostram que é possível seguir uma vida de atividades e obrigações como qualquer outra pessoa. Em casa, Dalmo e Janaina sempre fizeram questão de tratar os três filhos de forma igual, ressaltando o quanto todos eles são especiais.
Na mídia
Não demorou muito para que o sucesso de Cacai ganhasse a mídia. Vários veículos de televisão e sites online entraram em contato com a família para contar a história da primeira youtuber brasileira com síndrome de Down, entre eles a rede BBC Brasil e o programa de Celso Portiolli, no STB. Essas recentes aparições foram fundamentais para o desenvolvimento do canal de Cacai no Youtube, que em menos de uma semana cresceu de 14 para 125 mil seguidores.
Mas tanta exposição atrai também o lado negativo da Internet e Redes Sociais, os haters – pessoas que disseminam ódio na Internet.
Quando novos vídeos são publicados, os comentários negativos começam a aparecer. Mas o esforço para tirar a alegria de Cacai é em vão. “Ignoramos. Olhamos todos os comentários e deixamos na página, não apagamos e nem precisamos responder nada, geralmente os próprios fãs de Cacai se encarregam de dar as respostas. Quando aparece algo com palavrões, ou muito forte, aí sim apagamos”, explica Janaína.
O rol de amigos youtubers de Cacai vem crescendo. Kéfera e Isaac do Vine, que Cailana conheceu recentemente e o também baiano Pablo Toneti, que a família define como “anjo da guarda”. Suas dicas foram fundamentais quando o canal de Cacai ainda estava engatinhando.
Novos vídeos são publicados sempre às segundas-feiras. Em uma das edições mais recentes, para comemorar os 100 mil seguidores, Cailana foi a um shopping de Salvador usando uma placa com a frase: ‘Nós somos especiais. Me dá um abraço?’. O vídeo já tem mais de 45 mil visualizações, e o melhor foi a resposta das pessoas que estavam no shopping. “A experiência foi incrível e muito gratificante. Cacai recebeu muitos abraços, fez fotos com as pessoas, e teve momentos de juntar tanta gente que acho que alguns nem conseguiram chegar perto do abraço. Essa proposta serviu inclusive para diminuir o medo que eu tinha de minha filha ser rejeitada”, conclui Janaina.
Cacai e o apresentador Celso Portiolli, quando de sua participação no programa do SBT