Perspectivas e visões sobre a possível mudança do nome de Lauro de Freitas

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Na cerimônia em homenagem ao padroeiro de Lauro de Freitas aconteceu um fato mais do que curioso. A prefeita Moema declarou que irá enviar para a Câmara de Vereadores um projeto de Lei para resgatar o antigo nome da cidade: Santo Amaro de Ipitanga.
 
Esse assunto é bem complexo e divide opiniões. Há cidadãos – principalmente os recém-chegados – que consideram o nome Lauro de Freitas já consolidado e que os políticos deveriam se preocupar com outros assuntos mais emergenciais. Existem também aqueles – sobretudo os moradores mais antigos e católicos – que defendem a volta do nome Santo Amaro do Ipitanga, por considerá-lo mais representativo e simbólico.
 
Por fim, há outro conjunto de moradores – formado basicamente por pesquisadores, artistas e gestores culturais – que, ao fazer uma leitura mais crítica sobre a história de Lauro de Freitas, aponta para uma maior valorização da ancestralidade indígena como pedra angular da nossa constituição identitária. Tal grupo defende o nome tupinambá: Ipitanga como a denominação que mais reflete o processo histórico local 
 
Considero esse diálogo rico e estou irmanado mais com a última tese (em outro texto, posteriormente, falarei sobre isso), mas no bojo dessa questão uma problemática cultural torna-se evidente: O que adianta mudar o nome da cidade se a maioria da população laurofreintese não conhece a sua própria história? Processos históricos importantes, como o levante do Rio Joanes, a emancipação política, a participação de Ipitanga nas guerras de Independência da Bahia, a formação das comunidades negras como Itinga, Quingoma e Areia Branca (só para citar alguns assuntos) são totalmente desconhecidos. Como os cidadãos podem exercer a cidade participativa – lutar por direitos, honrar os deveres, preservar os espaços públicos – sem o conhecimento da história do lugar onde vivem?
 
Este quadro pode ser mudado se houver uma política de valorização da história e cultura locais. Lauro de Freitas – uma das economias mais pujantes da Bahia – tem tudo para ser uma cidade educadora, uma capital cultural da Costa dos Coqueiros, porém é necessário construir museus, bibliotecas, teatros, arquivos públicos, monumentos históricos, bem como movimentar as praças, escolas, universidades e centros culturais com uma agenda sistemática de oficinas, cursos e rodas de diálogos sobre a nossa história.
 
Assim, somente depois desse processo de formação é que a classe política poderia organizar um plebiscito inspirado no modelo suíço de democracia direta, onde o povo esclarecido define os rumos da sua própria história. Portanto, mudar o nome da cidade sem antes construir centros de preservação da memória e possibilitar um amplo debate sobre o assunto é “colocar a carroça na frente dos bois”!
 
Tássio Simões Cardoso é doutorando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia, Mestre em Gestão e Tecnologia aplicadas à Educação, e professor da Educação Básica e do Ensino Superior.

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